Proteção contra as tentações do mundo e da carne, manifestação pública de renúncia às honras vãs, além de barreira contra relacionamentos inconvenientes, o hábito religioso, sim, faz o monge.
Quantas vezes ouve-se falar de provérbios populares que contêm princípios de sabedoria: “É na árvore que dá frutos que todos jogam pedras”; “Dois capitães afundam um barco”; “O dinheiro é um bom servo, mas um mal senhor”.
Entretanto, seria um erro pensar que todo ditado popular é necessariamente uma verdade absoluta e infalível. É possível que um autor de algum provérbio não consiga exprimir fielmente uma determinada verdade com seu ditado, ou apenas a transmita às meias. Não raras vezes, isto acontece quando se trata de matérias ou realidades que ele desconhece.
Seria, por exemplo, como alguém, que nunca pilotou um avião nem estudou aeronáutica, quisesse opinar sobre o melhor modo de guiar uma aeronave… Ou, por outro lado, alguém que nunca tivesse estudado nem exercido a carreira de medicina, e começasse a dar conselhos sobre como fazer uma cirurgia.
Neste sentido, o provérbio “o hábito não faz o monge” é um exemplo paradigmático. Quiçá, desprovido de sabedoria ou experiência suficiente, o “autor” o tenha cunhado por ser possuidor de uma visão unilateral da vida. Com efeito, em seu sentido mais literal, o provérbio significa que não é pelo simples fato de alguém utilizar uma indumentária religiosa que, por isso, se torna a fortiori um monge.
Considerado de um modo superficial, há algo de verdade no enunciado; mas não a realidade completa. Para quem é religioso e, portanto, para quem tem experiência e segue este chamado de Deus com seriedade, a vestimenta possui um papel muito importante tanto para sua formação como para sua perseverança e santificação. Assim, um consagrado autêntico poderia perfeitamente afirmar, sob inúmeros aspectos, que o hábito, sim, faz o monge.
Expressão de uma doação íntegra
Em primeiro lugar, a indumentária inerente ao religioso forma-o. A teologia espiritual ensina que a tomada do hábito é o fato que marca o início da vida religiosa. Portanto, está vinculada ao processo de formação – desde os primórdios – ao noviciado. Além desta mudança sensível e externa, ele, de livre vontade e desejo, professa uma série de renúncias interiores com o objetivo de alcançar a perfeição e a santidade.
A fim de configurar-se com Cristo em sua nova condição, o religioso deixa suas antigas roupas e passa a utilizar uma veste própria, manifestando, assim, que deseja despojar-se do “homem velho” e revestir-se do “homem novo”.[1] É neste período que ele é forjado, deixando o estado de vida laica para adequar-se ao estado de vida consagrada.
Além do mais, o hábito configura e conforma o monge, pois representa um ideal mais alto ao qual ele quer se entregar. Ao vesti-lo, o religioso é constantemente impelido a adequar a sua vida e todo o seu modo de ser à vocação abraçada.
Este processo de conversão rumo à santidade pode-se chamar de “metanoia”,[2] ou de mudança de mentalidade. Para esta metanoia, o hábito religioso é de uma ajuda capital, pois lembra continuamente ao monge esta meta de perfeição especial à qual ele quer chegar, e o convida a conformar-se com as virtudes e carismas próprios ao chamamento recebido.
Escudo contra o demônio e as tentações
Por outro lado, o hábito ajuda a proteger o monge tanto das tentações do mundo e da carne. O consagrado que utiliza sua veste própria manifesta-se publicamente separado do mundo e morto para ele. É uma declaração de que renunciou às realizações terrenas e às honras vãs. Ademais, é como uma barreira que serve para distanciá-lo de relacionamentos inconvenientes, assim como evitar tratos e atitudes vulgares, que podem afetar o cristalino cumprimento de sua vocação.
Ainda considerando o aspecto de sua perseverança, a indumentária característica cria nele um sentido de pertença à própria Religião. Pelo fato de existirem outros que vivem o mesmo ideal, lutam para alcançar a coroa da justiça[3] e se revestem da mesma indumentária, ele encontra apoio em meio às dificuldades nesta longa peleja. Ele é, afinal de contas, parte de um conjunto e de uma grande família de almas.
Por último, pode-se crer que o hábito faz do monge um anunciador da Boa-nova aonde quer que ele vá: sem temor dos inimigos da Fé e, sem respeito humano de mostrar-se católico, seguidor entusiasmado de Cristo.
Proclamação pública da vitória de Cristo sobre o mundo
A exemplo de Cristo, Nosso Senhor, pedra de escândalo por anunciar o Reino de Deus, igualmente o devem ser os que utilizam o hábito. Razão disto é que, no fundo, o hábito é uma proclamação da vitória de Deus sobre o mundo, sobre o demônio e a carne. É uma declaração de que Deus existe, de que existe a verdade, o bem e o belo.
Não causa estranheza, portanto, ser tão desprezado – quando não detestado – por aqueles que se afastam da religião, pois veem, nos hábitos religiosos, uma configuração com Cristo.
Dessa sorte, pode-se afirmar, com certeza, que “o hábito, sim, faz o monge”.
De Gaudium Press. Por Luis Javier Camilo.
[1] Cf. Col 3, 9-10: “Despojai-vos do homem velho com suas obras, e revesti-vos do homem novo, que se renova continuamente para o conhecimento mais perfeito [de Deus] segundo a imagem daquele que o criou”.
[2] Do grego, mudança de sentimentos e afeições.
[3] 2 Tm 4, 7-9: “Combati, até ao fim, o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé. De resto, está-me preparada a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; porém, não só a mim, mas também àqueles que esperam com amor a sua vinda”.
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