Na pandemia ou na bonança, adorar

Os tabernáculos costumam estar solitários, como se só durante a Missa o Senhor estivesse presente e não mais nas Hóstias consagradas que se reservam.

Por Padre Rafael Ibarguren EP*

Existe um documento muito valioso publicado pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos em 2002, chamado “Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia, Princípios e Orientações”, que é de vigência permanentemente e merecedor de todo cumprimento. Interessa reproduzir aqui o numeral 165, que se refere à adoração ao Santíssimo Sacramento.

Entre parênteses, por causa do coronavírus, se limitaram enormemente as visitas ao Santíssimo Sacramento, os fiéis foram privados desse benéfico encontro justamente quando mais precisamos da companhia divina. Em todo caso, as instruções da Congregação vaticana que citamos valem para tempos de bonança ou de pandemia, claro que na medida em que o ir e vir se veja facilitado…

165.- A adoração ao Santíssimo Sacramento, no qual convergem formas litúrgicas e expressões de piedade popular entre as quais não é fácil estabelecer com clareza os limites, pode realizar-se de diversas maneiras:

– a simples visita ao Santíssimo Sacramento reservado no tabernáculo: breve encontro com Cristo, motivado pela Fé em sua presença e caracterizado pela oração silenciosa;

– adoração perante o Santíssimo Sacramento exposto, segundo as normas litúrgicas, na custódia ou na píxide, de forma prolongada ou breve;

– a denominada Adoração perpétua ou das Quarenta Horas, que comprometem toda uma comunidade religiosa, uma associação eucarística ou uma comunidade paroquial, e dão ocasião a numerosas expressões de piedade eucarística.

Nestes momentos de adoração se deve ajudar os fiéis para que empreguem a Sagrada Escritura como incomparável livro de oração, para que empreguem cantos e orações adequadas, para que se familiarizem com alguns modelos simples da Liturgia das Horas, para que sigam o ritmo do Ano Litúrgico, para que permaneçam na oração silenciosa (…) Dado o estreito vínculo que une Maria com Cristo, a recitação do Rosário pode ajudar a dar à oração uma orientação cristológica profunda, meditando nele os mistérios da Encarnação e da Redenção”.

A visita ao Santíssimo Sacramento reservada no tabernáculo

Considerando estas três formas clássicas de adorar ao Santíssimo Sacramento, parece-nos que a primeira delas – a simples visita ao Santíssimo Sacramento reservada no tabernáculo – é a menos levada em consideração pelos fiéis. Com efeito, se vai à missa, à adoração perpétua ou à bênção do Santíssimo Sacramento, mas não se tem em vista a presença real nos tabernáculos dos nossos templos.

De fato, é raro ver pessoas orando diante do tabernáculo nas igrejas; os tabernáculos costumam estar solitários, como se só durante a Missa o Senhor estivesse presente e não mais nas Hóstias consagradas que se reservam. Reverenciá-lo apenas quando está no altar e ignorá-lo completamente depois? Não tem sentido.

É necessário valorizar o tabernáculo, ou melhor, a quem ali se oculta, e conceber uma pastoral que motive os fiéis a não negligenciar essa divina presença. Por exemplo, algo tão elementar como isto: ensinar e insistir nos jovens e nos adultos que a primeira coisa a fazer ao entrar na igreja é procurar o lugar onde o Santíssimo Sacramento está reservado e fazer uma genuflexão ou uma vênia nessa direção. Não entraríamos em uma casa sem cumprimentar o dono; aqui, o dono é o próprio Deus que, além disso, está sempre à nossa espera.

Além disso, é necessário restaurar outro costume que está caindo em desuso: a genuflexão ou, pelo menos, a inclinação profunda, cada vez que se passa em frente ao tabernáculo e não apenas ao entrar na igreja. O Santíssimo Sacramento é infinitamente mais importante que o altar, que as imagens dos santos, que as pessoas que encontramos, a quem nunca deixamos de saudar! Mas, além de uma vênia passageira, o ideal é esse “breve encontro com Cristo, motivado pela Fé em sua presença e caracterizado pela oração silenciosa” de que fala o Diretório.

A adoração Eucarística feita segundo as normas litúrgicas

Na segunda modalidade de adoração delineada no documento, se especifica que deve ser feita “segundo as normas litúrgicas”. Neste ponto, geralmente há alguns descuidos: deixar o Senhor exposto sozinho; não zelar pela ordem e limpeza das toalhas de mesa e corporais; expor ou reservar a Hóstia Sagrada às pressas, sem os cuidados e a cerimônia que tal mistério tão augusto exige, etc. Outra coisa: estar mais atento ao celular ou aos outros espectadores do que ao Senhor, realmente presente. Estas e outras irregularidades devem ser corrigidas.

Por fim, nos são dados excelentes subsídios para aproveitar o tempo de adoração; tantas vezes não sabemos como proceder e as distrações nos assaltam. Em primeiro lugar, a leitura da Sagrada Escritura – os Evangelhos, por exemplo – nos fala de “cânticos e orações adequadas”, não qualquer oração, leitura ou música… Se sugerem textos que compõem a Liturgia das Horas onde encontramos leituras instrutivas e salmos maravilhosos. Se evoca a possibilidade da oração silenciosa, podendo fazer com propriedade uma comunhão espiritual. O silêncio é valioso, ajuda a concentrar-se e é um sinal de respeito não somente em relação ao Santíssimo, mas também em relação aos demais presentes. Da mesma forma, se propõem a meditação dos mistérios do Rosário.

Na adoração se dá o encontro mais precioso do dia

Este Diretório, fácil de ser colocado em prática, deveria ter sido mais considerado do que foi ou é. Para que o tempo de adoração seja abençoado e fecundo, é questão de adquirir esses hábitos e de tomar-lhes o gosto, porque na adoração se dá o encontro mais precioso do dia, da semana ou da vida!

Às vezes, a desculpa para não ir ao Santíssimo Sacramento é a “falta de tempo”, pois tendemos a desperdiçá-lo em coisas de importância relativa. Gastemos, esbanjemos, “percamos” o tempo com Ele, é um investimento que só pode resultar em benefícios pessoais, familiares e sociais. E se não podemos ir presencialmente ao Senhor devido às restrições da pandemia, voemos com a imaginação para algum tabernáculo e O adoremos à distância em seu Sacramento de amor.

*Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.


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