Nos tempos em que o mundo era calmo e a velocidade ainda não havia invadido a vida dos homens, o passageiro de um trem que entrava vagarosamente nos arredores de uma pequena aldeia, pôde observar à beira de um riacho e junto às pedras, uma senhora que dedicadamente empenhava-se em lavar roupas.
Esse homem reconheceu a mulher. Ela tinha sido professora nesse lugarejo. Como então ela estava agora a lavar roupas para ganhar a vida?
Procurou saber a história dela junto a alguns passageiros do trem. E de seguida escreveu um comovente artigo num diário da capital paulista. Pois ele era jornalista do jornal “O Estado de São Paulo”.
Ela desde muito jovem dedicou-se com esmero e carinho a cuidar das crianças do povoado. Reunia todas elas nos finais da tarde para contar-lhes historias, ensinar-lhes o Catecismo, cantar, brincar e passear.
Depois, passou a dar-lhes aulas escolares, ensinando-lhes o “be-a-bá”, as tabuadas, as continhas, as noções primárias de Historia e Geografia, e tudo que se costuma aprender no Curso Primário.Ela preparava com cuidado as suas aulas e, como a criançada do lugar gostava muito dela, acontecia algo de admirar os povos. Todos iam correndo para as suas aulas!
Isso é mesmo admirável. Todos nós fomos um dia como a criançada desse lugar e bem sabemos o quanto criança não gosta de ficar assistindo aulas. Mas no caso dela não era assim. As crianças iam contentes e gostavam mesmo de tudo quanto dela ouviam.
E isso a tomava de satisfação. Ela vivia feliz por ver-se útil para todos aqueles miúdos que eram assim educados, sob a boa influência dela e continuavam os demais passos das suas vidas, sempre agradecidos ao que dela receberam.Centenas de jovens foram por ela beneficiados, ao longo de quinze anos. Vários chegaram ao nível colegial e universitário.
Entretanto, num certo dia, chega na aldeia um procurador do governo e diz à senhora:
“Venho avisá-la de que, como a senhora não tem os diplomas exigidos pelo Ministério da Educação, chegará uma nova professora, e a senhora deixará de dar as aulas. Continue até que ela chegue, e então, entregue-lhe as crianças”.
Para a professorinha isso foi um choque. Ela estava familiarizada com tudo aquilo, e a sua dedicação fez com que as crianças fossem uma parte importante na vida dela.
Pouco tempo depois, chega a professora oficial que começou com aquelas aulas do sistema obrigatório, sem graça, sem amor, sem atrativos, sem didática. E começou aí o eterno equívoco dos alunos com os professores que não sabem lecionar.
A professorinha, para manter-se na vida sem a ajuda que os pais dos alunos lhe ofereciam, passou a lavar roupas. Ela, que estava habituada a tornar alvas e reluzentes as almas, passou a alvejar as roupas…
De vez em quando, alguma criança a via andando pela rua, corria para abraçar-lhe e perguntava: “Professora, quando a senhora volta? Temos saudades…” Ela sorria, não respondia, segurava as lágrimas e continuava seu caminho. Era um verdadeiro drama!
Mas, se esta senhora soube enfrentar esse drama com resignação, coragem e confiança, ela terá se tornado uma verdadeira heroína. Ela terá cumprido o papel mais importante da sua vida que foi de aceitar a cruz que Deus permitiu que lhe fosse colocada nos ombros.
Se ela não ceder à pior coisa que pode acontecer na vida de alguém, que é de ter pena de si mesmo, ela haverá de passar por isso tudo com muita coragem.
Merecerá até uma grande homenagem! Talvez até, e por que não?, uma estátua na praça central da aldeia, com uma inscrição assim: “Mulher corajosa que soube enfrentar o seu drama”.
E a partir daí esta pequenina aldeia passará a ter história, porque esses dramas particulares é que fazem a história dos homens.
Espalhados pelo país adentro há muita gente que tem dons artísticos como pintura, poesia, música, escultura, teatro, etc não reconhecidos. Os temas que vão inspirar essas obras de arte nascem de dramas desse tipo. Isso porque houve gente que diante de uma situação aflitiva, soube ser corajoso e decidido. E mantiveram a virtude da Fé.
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