Nunca nos relacionamos tanto; Nunca nos sentimos tão sozinhos

Relacionados como nunca na história dos homens, somos manipulados por um “cardápio” prático, atraente, avassalador, que nos estimula a estar hiperconectados, vivendo um presente fictício.

Por Padre Fernando Gioia, EP

“Menino, pare imediatamente de jogar videogame, já pedi três vezes!”, “Vamos tirar uma selfie!”, “Cuidado que vai dar de cara com alguém por ficar olhando o celular!”, “Vamos filmar o acidente!”,“ Pai, deixa o celular e olha para mim, por favor! ”, expressões comuns em casas, escritórios ou nas ruas.

Nunca estivemos tão intimamente relacionados um com os outros, as notificações nos oprimem, somos perseguidos pelo som do aviso de chegada de mensagens o tempo todo, estamos ansiosos para saber o que está acontecendo ou animados para comunicar aos outros o que estamos fazendo. Já não sabemos mais viver o momento… apenas o registramos.

Se a internet ou o WhatsApp ficam suspensos, deixando as redes em “silêncio”, diante da desconexão, sentem uma terrível solidão… É difícil ficar quieto, sem fazer nada. Já não se divaga mais, não se observa o mundo que nos rodeia, não se interage. Desconfia-se do tédio, pensando que ele nos oprimirá, o que não é real, porque muitas vezes surgem daí pensamentos e ideias de supremo interesse. Muitos criativos surgem disso.

Mundo do espontâneo, a imediatez, a resposta rápida

Nos encontramos no mundo do espontâneo, do imediatismo, da resposta rápida, de tirar a foto em vez de apreciar o panorama, de filmar um acidente antes de tomar a atitude de socorro, de estar colado a uma tela e não olhar para os olhos, de falar com meras interjeições, deixamos de escrever algumas linhas optando por ‘emoticons’ ou figuras que representem a resposta.

Até onde chegará isso? Nosso relacionamento está tomado por meios tecnológicos, já não nos socializamos mais. Até mesmo crianças de dois anos – com pais pouco avisados ​​e nada vigilantes – recebem a “chupeta eletrônica” para que possam passar o dedo sobre uma tela a qualquer momento, estáticos diante dela.

Pareceria que o objetivo seria criar um vínculo artificial entre o indivíduo e o aparelho. Já existem celulares ou ‘smartphones’ que interpretam as sensações de quem os possui, classificam seus ritmos de comportamento habituais. Eles capturam gestos faciais ou entonações de voz, catalogando os momentos emocionais do usuário ao longo do dia. Com o tempo, se tornariam uma espécie de extensão artificial do proprietário do dispositivo.

Outro aspecto da vinculação “homem-máquina” – para dar um deles -, já está em muitas empresas ou negócios, a assistência virtual. Solicitando algo a uma empresa ou restaurante, não é possível identificar se quem responde é um ser humano. Tudo automatizado, robotizado, des… humanizado.

Estão os resistentes, mas também os angustiados

Há quem resista a uma relação de dependência da tecnologia, mas também há quem se sinta angustiado, submetido às redes sociais, o que acaba sendo um ansiolítico para eles.

Estamos entrando em outra era? Boa pergunta. Anteriormente, a natureza era considerada possuidora de efeitos terapêuticos. Um projeto sobre a felicidade mediu emocionalmente alguns voluntários durante anos, concluindo que os homens se sentem mais felizes ao ar livre. Entretanto, uma porcentagem mínima tira vantagem disso.

Hoje, com o celular nas mãos, a pessoa se comunica, estuda, trabalha, se diverte. O sinal está em cima de você em todos os lugares, há wi-fi até nos parques. Se vive um presente que elegantemente chamam de “virtual”, interagimos apenas com os gadgets, através de uma tela. Quase perdemos o uso da palavra e do visual, mudamos para um rápido clique.

De expressar-nos através de uma frase, falada ou escrita, passamos a meras interjeições, emoticons ou um mero desenho. Clico e aí está minha: “resposta comunicativa”.

Imediatez, vivemos o imediato. Tudo rápido, não há tempo para pensar. Já os “donos” das redes lutam para reter mais tempo do “cliente” no YouTube, Facebook, Instagram ou outra rede. Eles causam efeitos nas pessoas que provocam uma experiência sensível, no “produto”, que é você mesmo. Há um dinamismo em que sempre é necessário estar conectado, os “clientes” ficam presos em uma engrenagem. O tempo real de retenção teve de ser reduzido. Chegamos ao “TikTok” (15 segundos prolongados para 3 minutos), ou ao “Short” (45 segundos) ou aos “Reels” (15 segundos). Curtos e com um conteúdo vazio, e… milhões de pessoas entrando neles.

A calma vai se tornando rara

Não há espaço para as pessoas verem algo com calma, em casa ou no escritório, tudo tem que ser rápido, pois… já vem outra coisa, soa outra notificação, entra outra foto ou mini vídeo.

A indústria tecnológica nos prometeu, comunicação instantânea, ampla informação, simplificar trabalhos, se divertir, viver mais e melhor, um futuro todo especial e novo para a humanidade. Ocorreu o contrário. Relacionados como nunca na história dos homens, somos manipulados por um “cardápio” prático, atraente, avassalador, que nos estimula a estar hiperconectados, vivendo um presente fictício. Corremos o risco de perder – se é que muitos já não perderam – o olhar nos olhos um do outro, trocar palavras, receber o carinho da mãe, o abraço entre cônjuges ou de um amigo.

Diminuiu a proximidade, o calor do relacionamento, estamos nos desumanizando, tornando-nos mais homogêneos, nos robotizando, o artificial está dominando – passo a passo – nos transformando em “zumbis”.

Algumas atitudes a tomar que nos ajudarão:

1) Dominar a tecnologia e não deixar-se escravizar por ela.

2) Saber priorizar os momentos que dedicamos a ela (fora dos horários de trabalho ou estudo obrigatório).

3) Recuperar o convívio com quem nos rodeia pessoalmente, e não “virtualmente”, conversando cara a cara.

4) Monitorar o uso em crianças e adolescentes.

Um hino da liturgia das horas diz: “Saí pela manhã entre os homens e encontrei tantos ricos que eram pobres; tantos homens maltratados sem ilusões ”. Parafraseando poderíamos dizer: “Encontrei tantos homens e mulheres, olhando para uma tela, ansiosos e maltratados, sem relações humanas”.

Queira Deus, como dizia São João Paulo II face à crescente dificuldade de comunicação, no ano de 2002, dado que: “não se consegue estar juntos, e os raros momentos para isso acabam infelizmente absorvidos pelas imagens duma televisão”, se “introduzam na vida cotidiana outras imagens muito diferentes, as do mistério que salva: a imagem do Redentor, a de sua Mãe Santíssima”, através da recitação do rosário em família. Estando com Jesus no centro, se compartilham “as alegrias e as dores, se colocam em suas mãos as necessidades e projetos, se obtém a esperança e a força para o caminho” (Rosarium Virginis Mariae, 41).


Publicado originalmente em La Prensa Gráfica de El Salvador, 11-7-2021.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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