Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto

Comentário ao Evangelho do XI Domingo Comum

Por Mons. João S. Clá Dias, EP

33 Jesus anunciava a Palavra
usando muitas parábolas
como estas, conforme eles
podiam compreender.
34 E só lhes falava por
meio de parábolas,
mas, quando estava
sozinho com os
discípulos,
explicava tudo

Deus respeita o que criou; e tendo dado ao homem a liberdade, não a tolhe, impondo-lhe seus desígnios. Muito pelo contrário, sempre lhe permite aderir ao bem, sem coagi-lo em nada. Claro está que rejeitando o homem as vias do bem e optando pelas do mal, perde a sua liberdade. Procede Deus desta maneira para ser possível premiá-lo com seus dons e benefícios.

Esta é umas das razões essenciais que levaram Nosso Senhor Jesus Cristo a ensinar através de parábolas, em vez de usar uma linguagem direta e coercitiva. Em face da parábola, alguém poderá, com facilidade, dar uma interpretação diferente da real, e com isso não se tornar tão condenável quanto seria se rejeitasse de modo categórico um convite de Deus. A parábola é o melhor dos meios para permitir o uso meritório da liberdade que Ele concedeu ao homem.

Por isso Nosso Senhor falava a todos através de metáforas, e na intimidade auxiliava a inteligência dos Apóstolos, explicando-lhes o significado mais profundo de tudo quanto dissera. Assim, robustecidos pela graça por Ele criada e infundida no fundo de suas almas, viam-se com mais possibilidades de aderir virtuosamente a todos os convites que Cristo fazia, de forma muito genérica e insinuada, à opinião pública que O ouvia.

Quem, analisando estas duas parábolas sob o ponto de vista meramente humano e não subisse até o significado mais alto delas, circunscreveria sua capacidade de relacionar-se com Deus e estaria mais preocupado com as coisas “cá de baixo” e não com as de “lá de cima” (Jo 8, 23). Estaria, por conseguinte, fora do conselho que nos dá São Paulo: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da Terra” (Col 3, 1-2).

Muitas vezes, contemplar um belo edifício projetado nas plácidas águas de um lago poderá encantar a quem nele fixe sua atenção. Mas esse deslumbramento tem seu fundamento no fato de a figura ser reflexo de algo real; se, por absurdo, houvesse apenas a sua projeção, o encanto não existiria, pois o homem teria a noção clara de que, movendo as águas, aquela beleza se esvaneceria. Entretanto, em se tratando de uma realidade espelhada nas águas, podem estas ser movidas sem que nada sofra o original ali projetado, pois o edifício continuaria a existir inalterado.

Este é bem o papel dos símbolos dos quais Jesus lança mão para instruir seus ouvintes, quer seja o das sementes ou o do plantador. Por mais que deixassem de existir, seu Criador é eterno, e nada poderá modificá-Lo. Daí que nada pode nos ser mais benéfico na contemplação desses belos reflexos, do que elevarmos nosso olhar Àquele que é a causa eficiente, formal e final de todo o universo.


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