Uma via segura para a salvação eterna

XXXIII Domingo do Tempo Comum

Os servos fiéis passaram todo o período de ausência do senhor
servindo-o com seriedade e suspirando pelo seu retorno. Ao ouvir que
ele chega e os chama, vão céleres ao seu encontro. O servo preguiçoso,
pelo contrário, acusa-o de injusto. Sua atitude erige-se assim,
em paradigma do comportamento dos pecadores que procuram
justificar suas faltas, atribuindo a Deus a causa das mesmas

Mons. João S. Clá Dias, EP

Naquele tempo, Jesus contou esta parábola a seus discípulos: 14 “Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. 15 A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade. Em seguida viajou. 16 O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. 17 Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. 18 Mas aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão. 19 Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar contas com os empregados. 20 O empregado que havia recebido cinco talentos entregou- lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. 21 O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’ 22 Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entre gaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. 23 O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’ 24 Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. 25 Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. 26 O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e que ceifo onde não semeei? 27 Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’. 28 Em seguida, o patrão ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez! 29 Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. 30 Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’” (Mt 25, 14-30)

Seriedade de todos os nossos atos

Na parábola dos talentos — como na das virgens prudentes, que a antecede, formando com ela um conjunto —, Jesus nos ensina o caminho da felicidade eterna. Ambas têm o seu início em uma analogia: “O Reino de Deus será semelhante a…” (Mt 25, 1). De fato, parábola, na língua grega, significa: comparação.

Precedendo estas duas passagens do Evangelho, o capítulo anterior de São Mateus nos traz a descrição do fim do mundo, saída dos lábios do próprio Salvador. A conclusão também se faz através de uma parábola, a do “servo mau”, demitido e lançado no lugar onde “haverá choro e ranger de dentes” (Mt 24, 51).

Novo prisma para a parábola dos talentos

Na passagem do Evangelho deste domingo imediatamente anterior ao de Cristo Rei, último do Ano Litúrgico, os exegetas costumam salientar as contas que, no fim da vida, cada um de nós deverá prestar a propósito dos “talentos” recebidos de Deus.

Os ensinamentos de Jesus, porém, são de uma riqueza inesgotável, e podem ser contemplados por uma infinitude de prismas, sendo um deles — e muito importante — a seriedade com que todo homem deve procurar cumprir a tarefa ou exercer a função da qual foi incumbido. Sobretudo, se elas são encomendadas não por um senhor terreno, mas pelo próprio Deus.

Seriedade no ver, julgar e agir

A rapidez frenética da modernidade torna difícil a reflexão sobre os acontecimentos cotidianos. Daí o fato de o homem contemporâneo tender à superficialidade de pensamento e não analisar em profundidade as consequências, boas ou más, de seus próprios atos.

Ora, tudo nesta vida é sério, pois somos criaturas de Deus e “é n’Ele que temos a vida, o movimento e o ser” (At 17, 28). Assim, o mais trivial dos nossos atos tem relação com realidades altíssimas, e pode nos acarretar graves consequências ou colocar-nos diante de onerosas responsabilidades, se não for devidamente executado.

Por isso, essa seriedade no exercício de uma função exige de nós, em primeiro lugar, uma inteira objetividade. É preciso ver a realidade como ela é, sem véus nem preconceitos, e sem permitir que seja distorcida por ansiedades ou frenesis. Dessa coerência no ver e no julgar, emanará a seriedade no agir. O que se tem a fazer deve ser começado logo, executado por inteiro, sem perda de tempo e sem interrupções desnecessárias.

Somos árvores cujos frutos são pobres, pecos e, frequentemente, podres

Não nos esqueçamos, entretanto, de que, sem o auxílio da graça, a natureza humana é incapaz de praticar com estabilidade a própria lei natural, e até de fazer algo meritório para a salvação eterna. Por nossa natureza decaída, somos árvores cujos frutos são pobres, pecos e, frequentemente, podres. Só quando a seiva da graça circula com força no caule e nos galhos dessa árvore, alcançando até mesmo as folhagens mais distantes da raiz, produzimos frutos abundantes e bons.

Os três servos da parábola nada possuíam e, ao partir de viagem, seu senhor põe-lhes nas mãos todos os bens que lhe pertencem: oito talentos no total. Tratava-se de uma fortuna considerável, pois o talento não era propriamente uma moeda, mas uma unidade de valor equivalente a um lingote de prata de mais ou menos 26 kg. O conjunto desse tesouro comportava, portanto, cerca de 208 kg do precioso metal.

Tudo o que temos vem de Deus

Sobre este aspecto da parábola cabe já uma aplicação para nossa vida espiritual.

Cada um de nós é um servo de Deus que, de si mesmo, nada tem. Na ordem da natureza, recebemos do Criador o ser que Ele idealizou para nós desde toda a eternidade, munido de determinados atributos e dons. Junto com a existência, Ele nos deu também todos os bens necessários, tanto materiais quanto espirituais.

De nossos pais recebemos a geração humana, e não a alma, a qual é criada pelo próprio Deus e elevada à vida sobrenatural pelo Batismo. A partir desse momento, o rico legado de Cristo para sua Igreja fica direta e imerecidamente à nossa inteira disposição: sua doutrina, os Sacramentos, as graças, os benefícios decorrentes dos seus méritos, etc.

Os dons são distribuídos de forma desigual

Cabe também salientar que, ao distribuir os talentos entre os servos, o senhor da parábola o faz de forma desigual: para um dá cinco; para outro, dois; para o terceiro, um. Sendo o dono, ele pode repartir sua própria fortuna do modo que achar melhor, e, neste caso, distribuiu a cada um “de acordo com a sua capacidade”.

Perante essa diferença, os três servos agem bem. Os dois últimos não reclamam pelo fato de haver sido dado mais ao primeiro; os que têm menos não ficam com inveja do que recebeu mais, e este não despreza os outros dois. Sabem com segurança que tudo é do senhor. São meros administradores, e cada qual deverá prestar contas na proporção do valor que lhe foi confiado. Por conseguinte, não há motivo para inveja, queixa ou, menos ainda, revolta.

É o que devemos fazer também nós, que somos servos do Senhor Nosso Deus. Ao receber d’Ele dons, não nos cabe perguntar se outros receberam menos ou mais, mas aplicar-nos em retribuir-Lhe da maneira mais completa, segundo as nossas próprias aptidões, estando sempre prontos a prestar contas desses talentos, e perguntando-nos repetidas vezes: “O que faço com os benefícios que de Deus recebi?”.

Medita nos teus Novíssimos

Meditar sobre a parábola dos talentos leva-nos, como vimos, a refletir a respeito da seriedade com que devemos conduzir todas as nossas ações. Salta aos olhos como isto traz para nós benefícios extraordinários.

Nesta parábola, todavia, Nosso Senhor nos ensina também a jamais nos apropriarmos de nada. Quer se trate de um dom gratuito, quer se trate de um benefício conquistado pelo próprio esforço, tudo é de Deus; d’Ele tudo recebemos e a Ele pertence tudo quanto fazemos, porque até as nossas capacidades pessoais e nosso próprio trabalho foram criados para sua glória.

A parábola dos talentos nos convida, e muito também, a voltarmos constantemente os olhos para o nosso fim último, que é Deus, bem como para o dia em que por Ele seremos julgados. “Em todas as tuas obras lembra-te dos teus Novíssimos, e nunca jamais pecarás” (Eclo 7, 40), diz a Sagrada Escritura. Se assim procedermos, teremos abraçado uma via segura para a nossa salvação eterna! ⚜️


O inédito sobre os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos dominicais. Ano A. Vol. II.


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