Alegria ou temor, ante o Esposo que chega!

XXXII Domingo do Tempo Comum

A lâmpada de nossa alma brilha pelo azeite da virtude? Ou está ela apagada pela tibieza? Se assim for, no dia do Juízo o Divino Esposo dirá que não nos conhece!

Mons. João S. Clá Dias, EP

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta parábola: 1 “O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. 2 Cinco delas eram imprevidentes, e as outras cinco eram previdentes. 3 As imprevidentes pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo. 4 As previdentes, porém, levaram vasilhas com óleo junto com as lâmpadas. 5 O noivo estava demorando e todas elas acabaram cochilando e dormindo. 6 No meio da noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!’ 7 Então as dez jovens se levantaram e prepararam as lâmpadas. 8 As imprevidentes disseram às previdentes: ‘Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando’. 9 As previdentes responderam: ‘De modo nenhum, porque o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós. É melhor irdes comprar aos vendedores’. 10 Enquanto elas foram comprar óleo, o noivo chegou, e as que estavam preparadas entraram com ele para a festa de casamento. E a porta se fechou. 11 Por fim, chegaram também as outras jovens e disseram: ‘Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!’ 12 Ele, porém, respondeu: ‘Em verdade eu vos digo: Não vos conheço!’ 13 Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora” (Mt 25, 1-13).

Se não reservarmos o azeite, sofreremos o repúdio do Esposo

Para melhor compreender a gravidade do ensinamento de Nosso Senhor com esta parábola, é preciso saber que “não conhecer” na linguagem daqueles tempos tinha uma acepção um tanto diferente da que lhe atribuímos hoje. Modernamente significa ignorar quem é a pessoa. Mas naquela época em que a população era ínfima, comparada com a atual, numa cidade, e ainda mais numa aldeia, todos se relacionavam. A expressão “não te conheço” equivalia a chamar o outro de estrangeiro e mandá-lo embora. Era, portanto, um repúdio, uma ofensa.

“Que significado tem: não vos conheço?” — pergunta Santo Agostinho — “Tendes minha desaprovação, minha reprovação. Não vos conheço porque não sois compatíveis com o meu modo de proceder; meu proceder desconhece o vício. Que coisa admirável: desconhece os vícios e, entretanto, os julga”. Assim, nas palavras do noivo revela-se a sentença do Divino Juiz que os réprobos ouvirão no grande dia: “Retirai-vos de Mim, malditos! Ide para o fogo eterno” (Mt 25, 41).

Àquelas infelizes jovens de nada adiantou sua condição virginal para terem direito a entrar na festa, pois a virgindade do corpo perde seu valor quando falta a da alma, como se vê pela afirmação de São Jerônimo: “O Senhor não conhece os que praticam a iniquidade e, ainda que sejam virgens, […] estejam orgulhosos de sua pureza corporal e de sua confissão da verdadeira fé, sem embargo, porque não têm o azeite da sabedoria, basta-lhes como castigo que o Esposo os ignore”.

Também nós devemos ter azeite na lâmpada no dia a dia, quer dizer, cultivar bem a vida espiritual, rezar sempre, comungar com frequência e confessar-se com regularidade. Mesmo sem ter matéria grave a declarar é imprevidência não se aproximar do tribunal da Penitência, porque este Sacramento infunde na alma abundantes graças que só ali se obtêm, ainda que não haja necessidade de recuperar o estado de graça. Para isso o penitente deve enunciar ao menos genericamente as culpas do passado, a fim de receber a absolvição. Era o que motivava vários Santos, como São Vicente Ferrer, Santo Inácio de Loyola ou São Carlos Borromeu a fazerem a confissão diária. Alguns, como São Francisco de Borja ou São Leonardo de Porto Maurício, faziam-na duas vezes por dia.

Nossas obras serão conhecidas por todos

Há quem se iluda, alegando ter cometido suas faltas às ocultas, longe da vista dos homens. Na realidade, todavia, diante da perspectiva do Juízo Final, o estar sozinho não existe. E se somos propensos a julgar que este dia grandioso e terrível será dentro de tantos séculos que ninguém se lembrará de nós, devemos, ao invés disso, persuadir-nos da seriedade dessa ocasião em que, pelo divino poder, não só cada um guardará na memória a totalidade de seus atos, mas todos conhecerão as obras dos demais. Deus, ante o qual tudo é presente — porque para Ele não há passado nem futuro —, por assim dizer, transferirá ao nosso entendimento, incapaz por si de abarcar tal imensidade, o conhecimento dos méritos e deméritos de cada um. Esta noção não se apagará, de modo que tanto os Bem- aventurados e os Anjos do Céu quanto os precitos do inferno a conservarão eternamente.

O valor da vigilância

Por fim, Nosso Senhor conclui a parábola deixando claro que a elaborou com o objetivo de nos incentivar a sermos vigilantes. A seus discípulos, depois de lhes anunciar os últimos acontecimentos e sua vinda gloriosa, Ele advertiu: “Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem” (Lc 21, 36). E pouco antes de começar a Paixão, durante a agonia no Horto das Oliveiras, recomendou-lhes novamente: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41).

Quantas vezes rezamos, e até muito, para não cair em tentação! Só isso, contudo, não basta, porque é preciso vigiar. Vigiar é tão importante quanto orar, pois, ao nos precavermos, fugimos das ocasiões próximas de pecado e, com isso, obstamos a possibilidade de uma queda. Vigiar, pois, significa ter os olhos bem abertos para que os sentidos inferiores não nos arrastem para baixo, mas, isto sim, nos ajudem a subir até Deus, admirando seus reflexos na criação. A beleza de uma rosa, um suave tecido, um agradável perfume, uma harmoniosa música ou até uma ótima comida, são elementos que podem nos elevar a alma.

Eis a inspiração evangélica para um bom exame de consciência: como me comporto nessa matéria? Meus cinco sentidos carnais dominam os sentidos espirituais? Quais circunstâncias me levam ao mal? Tal companhia que não é boa? É preciso cortar. Tal programa de televisão inconveniente? Não devo vê-lo. Tal acesso à internet? Evitarei a todo custo. Se a vigilância exige que eu arranque um olho ou corte uma das mãos, conforme diz figurativamente Nosso Senhor (cf. Mt 5, 29-30), é imprescindível fazê-lo, porque é melhor entrar no Céu coxo, manco ou cego, do que conservar todos os membros e ser lançado ao fogo eterno (cf. Mt 18, 8-9).

Uma profecia certa: nossa morte

Não deixemos para amanhã o que podemos fazer hoje, porque talvez nesta mesma noite sejamos julgados! Profecia certa e segura é esta: todos morreremos. Dia e hora, porém, ninguém o sabe, pois até mesmo um doente à beira da morte ignora o instante exato em que esta lhe sobrevirá. Quem ousará prometer que vai acordar amanhã? Quem se atreverá a garantir que terminará de ler este artigo? Nosso destino é a morte, mas sua perspectiva nos auxilia a abandonar os apegos e nos arranca do caminho errado que abraçamos. Entrar pelas vias do vício é uma loucura, porque nada há na face da Terra de mais adverso a Deus do que o pecado, que nos expõe a sermos apanhados pelo justo Juiz no momento em que menos esperamos (cf. Mt 24, 44.50; Lc 12, 46), com as mãos vazias e as lâmpadas apagadas. E Ele dirá que não nos conhece!

Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo, por intercessão de Maria Santíssima, a graça de sermos realmente vigilantes em nossos pensamentos, desejos e ações, visando a santidade em tudo. Assim estaremos sempre com a lâmpada abastecida de azeite… ⚜️


O inédito sobre os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos dominicais. Ano A. Vol. II.


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