“Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os Anjos do Céu, nem o Filho, mas somente o Pai”.
Quando a vida humana chega ao fim, ela se reveste de uma gravidade especial, por mais banal que tenha sido na aparência. A morte – ao menos em outras épocas se passava assim – realiza o papel de lente corretora, mostrando em sua verdadeira magnitude o valor da existência de cada pessoa perante Deus e seus semelhantes.
Conhecer o tempo exato de acontecimentos futuros não é dado ao comum dos homens. Excepcionalmente alguns Santos profetizaram com acerto o dia da própria morte, ou épocas de penúria, de cataclismo e de graça.
Todavia, em seu senhorio Deus mostra-Se cioso em manter veladas certas datas mais determinantes. Desse modo a Trindade Santíssima incentiva a virtude da vigilância, tão prezada no Novo Testamento.
Estar atentos à visita iminente de Jesus glorioso desperta o zelo e o amor, assim como extingue nos corações a moleza e o gozo da vida, fontes de tantos vícios.
Por esse motivo, e para evitar que os discípulos insistissem em indagar-Lhe a data do fim do mundo, Jesus declara que nem os Anjos, nem o Filho a sabem. Entretanto, deve-se entender tal afirmação com certa reserva.
As palavras de Nosso Senhor significam que Ele, em sua natureza humana, ignorava o dia e a hora; mas seria incorreto estender esse desconhecimento ao Filho enquanto Verbo de Deus, onisciente com o Pai e o Espírito Santo.
Do ponto de vista divino, porém, o panorama é diferente. Para o Verbo de Deus o tempo não existe; por seu conhecimento pleno e concomitante, Ele contempla a multiplicidade das criaturas e a variedade dos acontecimentos num simples olhar, que tudo abrange de modo imediato e absoluto.
Elevemos os nossos corações!
O mundo moderno está sendo arrastado ao mais profundo e sombrio desespero pelos vagalhões do caos, ele mesmo em boa medida organizado.
Terrificadas ante a perspectiva de perder a saúde e bombardeadas pelas contínuas solicitações da tecnologia, facilmente as pessoas se tornam marionetes em mãos mal intencionadas.
Assim, muitos se deixam guiar pela opinião dominante, vagando sem rumo definido, de tal sorte que todos se deslocam num movimento frenético, mas poucos sabem para onde são levados.
Essa situação gera uma imensa frustração interior. De uma parte, as atenções são captadas pelo brilho artificial e sedutor das telas eletrônicas; de outra, o novo regime do medo fomenta sentimentos de angústia, tristeza e até pavor.
Em consequência, embora pareça paradoxal a morte tornou-se fútil e sem sentido, assim como a própria existência humana. Para curar os corações feridos pelas atuais circunstâncias, nossa terna e prestimosa Mãe, a Santa Igreja, põe à nossa disposição meios excelentes, de uma eficácia sobrenatural plena.
Antes de tudo, a boa doutrina católica, que nos ensina a altíssima vocação do ser humano e, de modo particular, dos batizados. Estar chamados à vida eterna, num convívio íntimo com Deus, é algo inimaginável!
E a Esposa Mística de Cristo possui um instrumento propício para, não só nos fazer aprender, como também degustar esse luminoso ensinamento: a Liturgia.
Destarte, a Liturgia da Palavra considera trechos do Evangelho relativos ao fim do mundo e ao retorno de Nosso Senhor, pois ter diante dos olhos a grandeza da conclusão da História, assim como o esplendor deslumbrante e feérico de Nosso Senhor vindo com majestade sobre as nuvens do céu, exorciza as vivências cinzentas e amarfanhadas que inocula o ambiente circundante.
Com efeito, ao contemplar tanta sublimidade o fiel descobre a beleza da própria vocação, a magnificência divina, a altíssima meta reservada a cada um.
Procuremos, então, sacudir de nosso espírito os miasmas maléficos que flutuam pelos ares poluídos de nossa triste sociedade, e elevemos nossa mente e nosso coração aos horizontes grandiosos por excelência.
Desse modo, recuperaremos o ânimo, a ênfase e a determinação de procurar a santidade acima de todas as coisas, e encheremos nossos pulmões com o ar puro da esperança, que nos promete, após as lutas desta vida, atingir os cumes da bem-aventurança eterna em companhia do Bom Jesus, de seus Anjos e Santos.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP. Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 239, novembro 2021.
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