“Permanecei em Mim”

V Domingo da Páscoa

Usando a imagem da videira, Jesus quis deixar clara a absoluta necessidade de permanecermos n’Ele se quisermos frutificar. Ele também permanecerá em nós, contanto que não sejamos ramos secos…

Por Mons. João S. Clá Dias

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: 1“Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que em Mim não dá fruto Ele o corta; e todo ramo que dá fruto, Ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. 3 Vós já estais limpos por causa da palavra que Eu vos falei. 4 Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em Mim. 5 Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em Mim, e Eu nele, esse produz muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer. 6 Quem não permanecer em Mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. 7 Se permanecerdes em Mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. 8 Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (Jo 15, 1-8).

Deus quis Se fazer íntimo de nós

Moisés se maravilhou com a sarça que ardia sem se consumir. Aquelas chamas de incomum beleza, mantidas pela ação de um Anjo, atraíram-no. Movido por uma forte e sobrenatural curiosidade, ele se aproximou “para contemplar esse extraordinário espetáculo” (Ex 3, 3) e qual não foi sua surpresa ao ouvir de dentro das labaredas a voz de Deus, a adverti-lo de que tirasse suas sandálias por encontrar-se numa “terra santa” (Ex 3, 5).

Ali recebeu a elevada missão de libertar do cativeiro o povo eleito e de conduzi-lo à Terra Prometida. Porém, naqueles alvores de seu profetismo, surgiu uma perplexidade: como apresentar aos outros o Senhor? Dúvida inteiramente compreensível, pois o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó era distante, invisível e de difícil acesso. A resposta, no entanto, foi extremamente sintética: “Iahweh”, ou seja, “Eu sou” (Ex 3, 14).

Aquele era o mesmo Deus que passeara todas as tardes com Adão no Paraíso (cf. Gn 3, 8) e que, após o pecado original, fez-Se menos presente entre os homens. A partir daí, quase sempre suas manifestações se deram através da grandeza dos castigos — dilúvio, confusão das línguas, etc. —, que incutiam um profundo respeito, temor e admiração no povo. Embora a travessia do Mar Vermelho, o maná e outras ocorrências miraculosas durante o êxodo lhes dessem um conhecimento experimental da existência de um Ser Supremo que os protegia nos caminhos da vida, a própria entrega das Tábuas da Lei, no Sinai, tornou-se um símbolo do relacionamento d’Ele com o homem, baseado numa severa justiça. Aquele Ser Absoluto Se apresentava ao povo eleito como um Legislador intransigente, invisível e intocável.

Esse modo de agir divino passou por uma transformação inimaginável nestes mais de dois mil anos de Novo Testamento, desde que “o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Aquele mesmo Deus que fez tremer o Sinai e deu grandes poderes ao braço de Sansão e à voz de Elias, pôde ser adorado enquanto bebê na manjedoura, em Belém, e esteve nos braços de Maria, José, Simeão e dos Reis Magos. Doze anos mais tarde, ainda Menino, discutiu com os doutores no Templo, e durante sua juventude auxiliou seu pai nos trabalhos de carpintaria. E, ao iniciar sua missão pública, fez-Se presente a umas bodas, em Caná, realizando ali seu primeiro milagre.

Em Jesus, Deus quis Se fazer íntimo de nós. Ele continuou sendo o mesmo Iahweh, mas atribuindo-Se títulos diferentes: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10, 11), “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6), “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8, 12), “Eu sou a Porta das ovelhas” (Jo 10, 7), “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu” (Jo 6, 51). Fazendo menção a estas criaturas todas — inclusive comparando-Se à galinha com seus pintainhos, ao chorar sobre Jerusalém (cf. Mt 23, 37) —, Ele mostra bem qual é o seu incomensurável desejo — desejo eterno — de nos fazer participar de sua vida.

É nesse contexto que se insere o Evangelho de hoje.

Nossa permanência em Jesus

Comenta o Cardeal Isidro Gomá y Tomás: “A belíssima alegoria da vinha mística, assim como a do Bom Pastor, foi-nos conservada apenas por São João. Pode ter servido de sugestão ao Senhor a lembrança do vinho da ceia, do qual disse que não mais beberia. Ou então simplesmente a inventou, por ser ela extremamente apta para exprimir o pensamento, ou melhor, a teoria da união espiritual com Ele”.

Para Israel, a parreira de uva era uma realidade comum e corrente a ponto de, sob o reinado de Salomão, a Escritura referir-se com esta figura à paz por ele conquistada com todos os povos vizinhos: “Judá e Israel, desde Dã até Bersabeia, viviam sem temor algum, cada qual debaixo de sua vinha e de sua figueira” (I Rs 4, 25).

A verdadeira videira

E qual o significado do vocábulo “verdadeira”, empregado pelo Mestre neste versículo? Antes já dissera: “Moisés não vos deu o pão do Céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do Céu” (Jo 6, 32), e João afirmara ser Ele “a verdadeira luz” (Jo 1, 9). Como explicar o uso destes adjetivos?

Em face de heresias de outrora, alguns Padres da Igreja procuravam esclarecer este particular pelos efeitos produzidos pela “videira”, pela “luz” ou pelo “pão” verdadeiros, pois alimentam a fé dos que deles se servem, enquanto os seres materiais correspondentes só servem para a sustentação ou desenvolvimento físico. Nós, todavia, somos levados a achar que Deus, na sua infinita e eterna sabedoria, criou estes seres todos ― luz, pão, vinha, pastor, caminho, etc. ― sobretudo para melhor Se fazer entender pelo homem. Neste sentido, não contêm eles a verdade inteira e apenas a simbolizam. A arquetipia destes seres se encontra no próprio Jesus. ♦️


Excertos de O Inédito sobre os Evangelhos, V Domingo de Páscoa, Ano B.

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