“O Senhor é meu Pastor”

Naquele tempo, disse Jesus: 11 “Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas. 12 O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13 Pois ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas. 14 Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas Me conhecem, 15 assim como o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. 16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17 É por isso que o Pai Me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18 Ninguém tira a minha vida, Eu a dou por Mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi do meu Pai” (Jo 10, 11-18).

IV Domingo da Páscoa

A propósito da cura do cego de nascença e da polêmica provocada por ela entre os fariseus, Jesus Se revelou como o Bom Pastor, que arrisca a vida por suas ovelhas. Foi esta uma das ocasiões nas quais Ele exprimiu de modo mais tocante seu amor infinito por nós

Por Mons. João S. Clá Dias, EP

O Pastor por excelência

Jesus é o Pastor que deu a vida por seu rebanho; ademais, está sempre disposto a ir atrás da ovelha perdida e, encontrando-a, retornar alegre e feliz com ela sobre os ombros; a tirá-la do valo, ainda que em dia de sábado. Quem de nós pode afirmar nunca ter sido objeto da busca do Bom Pastor, às vezes até em circunstâncias trágicas? Quem alguma vez não se sentiu ovelha desgarrada, e nos ombros de Jesus sendo reconduzida ao aprisco?

É nesta perspectiva que se insere o Evangelho do 4º Domingo da Páscoa.

As circunstâncias: a cura do cego de nascença

As palavras pronunciadas por Jesus se prendem a um episódio antecedente, denso de emocionante carga simbólica. Inicia-se ao incidir o olhar de Jesus sobre um cego de nascimento. Era comum julgarem os judeus haver uma relação entre as enfermidades e os pecados cometidos pelo doente ou por seus parentes. Por isso perguntaram os discípulos ao Senhor: “Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9, 2). A resposta firme de Jesus e o desenrolar dos acontecimentos subsequentes deitarão luz para melhor entendermos o Evangelho de hoje: “Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus” (Jo 9, 3). Tendo feito esta profética afirmação, tomou a iniciativa de curar o cego.

Como não podia deixar de ser, o portentoso milagre causou comoção entre todos os conhecidos do miraculado, levando-os a desejarem encontrar “aquele Homem que Se chama Jesus” (Jo 9, 11).

O burburinho popular cresceu a ponto de conduzirem o beneficiado diante dos fariseus. Narrado o ocorrido, constatou-se ter sido realizada a cura em dia de sábado. Isto configurava um grande crime, condenado pelos fariseus. Um violador da Lei do sábado — portanto, um pecador — não podia ser de Deus! Eis, finalmente, encontrada uma grave acusação contra aquele Homem que tanto os perturbava. Todavia, esta conclusão entrava em choque frontal com uma pergunta levantada por outros fariseus: como explicar que um tal prodígio pudesse ser praticado por um pecador?

Em meio à dissensão perplexitante, a esperança de acharem uma saída fez os maus se voltarem para o próprio ex-cego. Quiçá pudesse este dizer algo que desabonasse inteiramente Jesus. No entanto, iludiam-se por completo. Aquela era uma ovelha que conhecia a voz de seu Pastor, e não se deixava enganar pelos ladrões e salteadores (cf. Jo 10, 8). Convicto, afirmou ser Nosso Senhor um profeta. Embaraçados, os inquiridores resolveram interrogar os pais daquele homem, na esperança de provarem ter tido sempre vistas normais. Afinal, desqualificar

a testemunha é uma saída bem conhecida daqueles que se encontram em apuros. Contudo, mais uma vez não conseguiram seu intento, pois o casal confirmou ser seu filho cego de nascença, e com sabedoria evitou quaisquer outros comentários sobre o acontecido: “[Eles] temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que reconhecesse Jesus como o Cristo. Por isso é que seus pais responderam: ‘Ele tem idade, perguntai-lho’” (Jo 9, 22-23).

O interrogatório final, em um ambiente de ansiedade e fraude, acabou despertando a indignação dos fariseus, por esbarrarem na robustez de fé e honestidade do ex-cego. Havendo eles declarado não saberem de onde era Jesus, disse-lhes “aquele homem: ‘O que é de admirar em tudo isso é que não saibais de onde Ele é, e entretanto Ele me abriu os olhos. Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem Lhe presta culto e faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se esse Homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada’. Responderam-lhe eles: ‘Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?…’. E expulsaram-no” (Jo 9, 30-34).

A Igreja é o redil, cuja Porta é Cristo

Após esta injusta conclusão de seu inquérito, não tardou o antigo cego a se reencontrar com Jesus. Este, conhecendo desde toda a eternidade aqueles fatos, perguntou-lhe se acreditava no Filho de Deus. Diante de não poucos curiosos, o tal homem não só afirmou sua crença em Nosso Senhor, como também se prosternou diante d’Ele e O adorou.

Esta bela e virtuosa atitude deixou emudecido o público presente. O Divino Mestre aproveitou a ocasião para tirar todo o proveito do episódio, e afirmou: “Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos” (Jo 9, 39).

A partir deste instante, entrando em contenda aberta com os fariseus, Jesus passa a desenvolver a parábola que culminará no Evangelho de hoje. Começa por referir-se a um hábito comum, bastante conhecido entre os judeus: o ladrão não entra pela porta do aprisco, mas “sobe por outra parte” (Jo 10, 1). O pastor, pelo contrário, utiliza-se tão só dessa porta, fazendo ouvir sua voz pelas ovelhas.

Não havendo os fariseus entendido esta alegoria, o Divino Mestre declarou ser, Ele mesmo, a Porta do aprisco (cf. Jo 10, 9). Comentando com brilho esse trecho do Evangelho, a Constituição Dogmática Lumen gentium afirma: “A Igreja é o redil, cuja única Porta e necessário Pastor é Cristo (cf. Jo 10, 1-10). É também o rebanho do qual o próprio Deus predisse que seria o Pastor (cf. Is 40, 11; Ez 34, 11ss.), e cujas ovelhas, ainda que governadas por pastores humanos, são contudo guiadas e alimentadas sem cessar pelo próprio Cristo, Bom Pastor e Príncipe dos pastores (cf. Jo 10, 11; I Pd 5, 4), o qual deu a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10, 11-15)”.

Também nós devemos ser pastores…

Dispôs Deus que as figuras do cordeiro, do rebanho e do pastor facilitassem ao homem a compreensão da necessidade do apostolado. Em sua substância simbólica, elas reforçam princípios enunciados ao longo da Sagrada Escritura: “Impôs a cada um deveres para com o próximo” (Eclo 17, 12).

Em relação a Jesus, somos cordeiros; é nossa obrigação moral e religiosa reconhecer-Lhe a voz e seguir-Lhe os passos. Mas somos também muitas vezes chamados a representar o papel de pastores para com nossos irmãos, dever de caridade, como nos ensina São Pedro: “Como bons dispensadores das diversas graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros o dom que recebeu” (I Pd 4, 10). Caso assim não procedamos, seremos julgados como o servo mau e preguiçoso da parábola dos talentos (cf. Mt 25, 14-30).

O trecho do Evangelho que acabamos de analisar constitui uma premente conclamação para a participação efetiva, dedicada e entusiasmada de todos os fiéis nas tarefas de apostolado. A obrigação de evangelizar não é exclusiva dos religiosos, é também de todo batizado. Por este Sacramento, cada um de nós é incorporado a uma sociedade espiritual — a Santa Igreja Católica — regida pela Comunhão dos Santos, recebendo uma vocação geral de apostolado e uma missão individual de expandir o Reino de Cristo. Mais especialmente encontram-se concernidas nisto as associações e movimentos católicos.

Para a realização de tal atividade, o campo de trabalho mais indicado é a paróquia. Em outros termos, nada mais louvável e eficiente do que contribuir para o revigoramento de nossas paróquias, esforçando-nos por incluir neste âmbito todos aqueles que estejam a nosso alcance.

Recorramos à Mãe do Bom Pastor

Maria é a Estrela da Nova Evangelização, lembrava-nos sempre o Papa São João Paulo II. Quem quiser ter sucesso nesse sublime empreendimento de atrair seus próximos para o aprisco de Jesus Cristo, não pode deixar de colocar seus trabalhos e sua própria pessoa sob a proteção e a orientação da Mãe do Bom Pastor.

Nas catacumbas de Santa Priscila, em Roma, pode-se ver, bem conservada, uma pintura que representa Nosso Senhor como o Bom Pastor. Significativamente, leva Ele aos ombros a ovelha perdida e caminha em direção a sua Mãe, em cujas mãos vai entregá-la.

Peçamos ao Coração Maternal e Imaculado que nos conduza ao Bom Pastor, e assim possamos cumprir com santidade nossos deveres de apostolado para com nossos irmãos. ♦️


Excertos de O Inédito sobre os Evangelhos, IV Domingo de Páscoa, Ano B.

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