Reconversão de um sacerdote afastado

Padre, ex-Padre, e de novo Padre

  Vou tentar resumir minha vida para mostrar o que a Virgem Maria faz pelos sacerdotes.  

Padre

Nasci em Montes Claros a 16 de Setembro de 1931, e comecei meus estudos em Mariana no ano de 1945. Fui ordenado sacerdote a 27 de Abril de 1955. Fui logo nomeado Reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora Medianeira de todas as Graças, até 1964. Confiando em mim, meu Bispo Diocesano, além de me fazer Cônego, nomeou-me Cura da Catedral e Vigário da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, tendo eu exercido este ministério até 1968.

 Então, infelizmente não correspondia mais à confiança do meu Bispo e dos paroquianos; e começava já a escandalizar o povo de Deus. Por quê? Confesso publicamente que: deixei-me arrastar e vencer pelos atrativos mundanos.

 Solicitei meu afastamento das funções sacerdotais para não mais causar escândalo.

Vejo-me na segunda fase: um ex-padre

Não me dava conta da tragédia desta situação. Pois queria viver e sentir as maravilhas do mundo, descontar o que julgava “tempo perdido”.

  Desde 1956 lecionava no Colégio Estadual e outras escolas da cidade. Ambicionava mais. Matriculei-me na Faculdade de Direito e formei-me em 1972. Queria conhecer todos os ambientes, pois era “livre”. E mais títulos chegavam. Em 1973, comecei a lecionar na Faculdade de Direito, tornei-me funcionário municipal no gabinete do Prefeito, como assessor técnico de pesquisas e redator oficial. Cargos importantes e rendosos não me faltavam. Sentia-me humanamente realizado.

 Fui aprovado como membro da Academia Municipal de Letras com honrarias, dinheiro e posição social. Novos convites chegavam, sempre a estimular-me o desejo de subir cada vez mais.

    Foi quando chegou Maio de 1973, o mês de Nossa Senhora. Não sei como, mas parei para refletir um pouco. Lembrei-me de que a Virgem Maria, a Virgem Fiel, era minha Mãe. Senti que, como sempre, Ela amava-me. Eu continuava ligado a Ela pelo Terço que trazia sempre ao pescoço e que jamais deixara de rezar.

Apesar das glórias humanas, eu me sentia triste e vazio.. Eu pensava confusamente em voltar à minha vida de Padre. Queria e não queria. A vontade e a indecisão tumultuavam na minha mente e no meu coração. O que iriam pensar de mim? Mas sabia que muitos rezavam pelo meu retorno.

 No dia 28 de Maio de 1973 meus alunos da Faculdade de Direito organizaram uma festa de confraternização. Neste estado de espírito, compareci à festa.

 Por volta da meia-noite, talvez por ter bebido demais, senti-me mal e resolvi ir embora. Ofereceram-se para me levar, mas recusei porque morava perto. Cansado e apressado, resolvi contornar o corrimão do viaduto. Não me lembro de mais nada, depois disso. Fiquei inconsciente.

 Meses depois quando recuperei a consciência, fiquei sabendo que caíra, vitimado por um derrame cerebral. Contaram-me que ficara paralítico do lado esquerdo e impossibilitado de falar. Fui ungido e a minha morte era inevitável.

 Depois de muito tempo, minha memória foi voltando e comecei a lembrar-me do passado. Um pensamento muito forte convenceu-me da realidade: Deus havia me derrubado no viaduto e Nossa Senhora levantou-me. Eu trazia o terço no pescoço como jamais deixei de trazê-lo. Senti com toda a evidência e arrependimento como tinham sido vãos os meus presunçosos caminhos.

  “Vaidade das vaidades”, anuncia o livro bíblico do Eclesiastes!

 Eu senti isso profundamente! E como o  senti! Não fui fiel à graça do Senhor, mas desejava ardentemente reencontrar-me com Ele! A angústia e a falta de paz atormentavam-me mais do que a doença. Eu carregava também a cruz da enfermidade lutando para recuperar a saúde e por isso viajava de Montes Claros para Belo Horizonte, e daí para o Rio de Janeiro. Era um pobre ambulante à procura mais de saúde da alma do que do  corpo!

     E agora a terceira fase da minha história de trevas e de luz, de pecado e de perdão

Ao emergir da inconsciência a que a enfermidade me fizera descer, meus olhos abriram-se para reconhecer a minha desoladora situação espiritual. Lembrei-me do filho pródigo e pensei em minha Mãe Celestial. Confiante, procurei o Sacramento da Confissão. Arrependido, fiz uma confissão geral de todas as minhas fraquezas e pecados. Numa aparente contradição, o confessor deu-me a mais simples penitência: “Reze uma Salve Rainha”! Sim, devia rezar um hino de louvor à Virgem Maria, que me arrebatara da beira do abismo.

 Contrito e perdoado, estava de novo na graça de Deus. E aqui afirmo que esse retorno   foi-me concedido pela mediação daquela que é a “Mãe da Divina Graça”!

 Ajoelhado aos pés do sacerdote, legítimo representante de Nosso Senhor Jesus Cristo, recebi a luz de que carecia, a consolação que me faltava, a coragem que não tinha, a alegria que havia desaparecido. É de pensar que hoje a astúcia do demônio pretende acabar com este Sacramento que perdoa, que tranquiliza, que reergue as almas para o Coração Misericordioso de Nosso Senhor!

 Voltei aos sacramentos, comungando diariamente, sem deixar minhas devoções particulares. Continuava agora, e com mais fervor, a rezar diariamente o Terço de Nossa Senhora.

 E as cartas dos amigos continuavam a chegar com titulos pomposos como Professor, Doutor. Por quê Doutor? Por quê Professor Joaquim Cesário? Ser Padre não é tudo? Ser Padre não é a glória maior do homem? As portas de entrada para as vaidades do mundo abriram-se facilmente para mim. Agora, como e onde encontrar a sagrada chave da porta que eu mesmo fechara no dia em que decidi abandonar o sacerdócio?

 Eu era um homem em magníficas condições sociais: dono de imóveis valorizados e com  renda mensal privilegiada. Mas sentia-me vazio e triste. Experimentava a inquietação revelada por Santo Agostinho: “O nosso coração, Senhor, está inquieto até que em Ti repouse”.

“O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.” (Salmos 110:4)

 A Virgem Maria, minha Mãe, encorajou-me. E eu sabia que os fiéis paroquianos estavam a rezar por mim. Decidi então procurar o Bispo diocesano e lhe manifestei o desejo de reassumir o meu sacerdócio. Ele acolheu-me como Bom Pastor, abrindo o coração e os braços para a sua ovelha tresmalhada. Meu Bispo aceitou-me novamente e marcou o dia 27 de Abril de 1976, aniversário da minha ordenação sacerdotal, para que eu outra vez celebrasse a Santa Missa. Bem posso dizer que esta foi realmente, a minha “grande Missa”, a “Missa Nova” como a chamam os neo-sacerdotes.

 Hoje trabalho entre os pobres do Asilo São Vicente, celebrando todos os dias a Santa Missa, ouvindo confissões, ajudando a meus irmãos. Uso batina. Com ela, sinto-me feliz e mais intensa e profundamente PADRE. Ela lembra-me sem cessar minha consagração a Deus e defende-me contra as ciladas do maligno. Continuo com o Terço em torno do meu pescoço. Quero morrer envolto neste glorioso simbolo de predileção da minha Mãe do Céu, a Rainha e protetora dos sacerdotes de seu Divino Filho Jesus.

 Padre, ex-Padre, de novo Padre. Coloco-me comovidamente sob o olhar materno de Nossa Senhora e assim espero continuar até meu último dia, para depois agradecer-Lhe a misericórdia que exerceu para com este pobre filho, que embora indigno, é sacerdote de Nosso Senhor Jesus Cristo.

  É a mesma graça que desejo aos meus irmãos padres que talvez estejam na mesma situação.

 Que a Virgem Maria os inspire, proteja e acolha da mesma forma que fez comigo.

 Assim seja.
 Padre Joaquim Cesário


Fonte: V. Alberton, S.J., Eficácia do Rosário em nosso século XX, São Paulo, 1982, pág. 47-50.

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2 respostas para “Reconversão de um sacerdote afastado”

  1. Mais uma história para nós mãe de padres rezar por nossos filhos e toda ordem
    Tem um Mons. Aqui que não vou deitar o nome que é contra essa ordem alegando que quando saem fica com problema de emprego e abandona a fé. Conheci um que deixou de acreditar em Deus diz que inventaram céu e inferno e que todas religiões são boas. Em fim nem um jovem aguenta aqui fora o mundo dos maus. A pureza vai por terra. Mas…tem tem também os que resistem. Acabo de descobrir que o exército desse Mons. Precisa ser fiel
    Estou satisfeita com a família Arautos

  2. Lindo testemunho ! Até onde vai a misericórdia de NOSSA MAE Maria santíssima? Não a resposta para tanto amor pelos seus filhos .Salve Maria

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