“Convertei-vos e crede no Evangelho”

I Domingo da Quaresma

Adequar os nossos pensamentos, desejos, ações e sentimentos conforme Nosso Senhor Jesus Cristo é o único meio de correspondermos condignamente ao amor que Deus manifesta por cada um de nós

Mons. João S. Clá Dias, EP

Naquele tempo, 12 o Espírito levou Jesus para o deserto. 13 E Ele ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os Anjos O serviam. 14 Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1, 12-15).

Na Liturgia deste domingo, a Igreja quer nos transmitir uma mensagem: Deus nos ama e deseja nos perdoar. Ele está disposto a reconciliar-Se conosco, a fazer conosco uma aliança inquebrantável. Mas é preciso reavivar a fé e mudar de vida, como nos exorta Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho!”.

Como corresponder a este amor?

No concernente a essa conversão, é mister nos acautelarmos de um perigoso erro. Em nossa vida espiritual, falta-nos muitas vezes a compenetração da necessidade de sermos santos. Não raro procuramos ser simplesmente corretos, esquecendo a exortação do Concílio Vaticano II, tantas vezes repetida: “Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: ‘sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5, 48)”.

“Gravíssimo erro comete” ― ensina Santo Afonso Maria de Ligório ― “quem sustenta que Deus não exige que todos nós sejamos santos, pois São Paulo afirma: ‘Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação’ (I Tes 4, 3). Quer Ele que sejamos todos santos, cada qual conforme seu estado: o religioso como religioso, o leigo como leigo, o sacerdote como sacerdote, o casado como casado, o comerciante como comerciante, o soldado como soldado, e o mesmo se diga de todos os demais estados e condições de vida”.

Progredir no amor e no conhecimento

Para o cumprimento desta obrigação, a Igreja nos orienta maternalmente através da Liturgia de hoje. Já a Oração do Dia nos indica de certa maneira o caminho: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”.

Com efeito, precisamos “progredir no conhecimento de Jesus Cristo”, porque sendo Ele Deus e Homem verdadeiro é o arquétipo de todo o universo, conforme afirma São Paulo: “N’Ele foram criadas todas as coisas nos Céus e na Terra, as criaturas visíveis e as invisíveis” (Col 1, 16).

Mas basta conhecer? Não. Bem diz São João da Cruz que no entardecer desta vida seremos julgados segundo o amor. A mais profunda compreensão da doutrina deve servir, sobretudo, para aumentar a caridade em nós, de forma que melhor conhecendo a adorável Pessoa de Nosso Senhor, tenhamos maiores possibilidades de “corresponder a seu amor”.

Deus espera a nossa conversão

Nada disto obteremos, todavia, sem o auxílio da graça. O homem não tem forças por si mesmo para, estavelmente, adequar a Nosso Senhor seus pensamentos, desejos, ações e sentimentos. Para tornar efetiva a conversão à qual Jesus nos convida por meio desta Liturgia, indispensável será juntarmos as mãos em oração e dizer, junto com o profeta: “Convertei-me, porém, e que eu volte, já que sois Vós o Senhor, meu Deus” (Jr 31, 18).

Esse nosso desejo de mudarmos de vida neste período de penitência quaresmal deve estar, portanto, pervadido de muita confiança. O triunfo de Cristo no deserto obteve graças superabundantes para todo seu Corpo Místico para vencer as tentações do demônio. Nossa fortaleza está em Jesus e, desde que não nos divorciemos da Cabeça, nada poderá satanás contra nós.

Entretanto, se, ao fazermos exame de consciência, acharmos uma falta aqui ou outra ali, não nos desesperemos: “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus”. Ele conquistou a vitória sobre as nossas faltas para todo o sempre. Basta reconhecermos a nossa miséria e pedirmos perdão.

Como retribuir tanta bondade?

Peçamos ardentemente a Maria Santíssima a graça de uma autêntica conversão, isto é, a compreensão entusiasmada e admirativa do inefável amor do seu Divino Filho por cada um de nós, que nos leve a trilhar uma vida santa, a caminho do Céu. ♦️


Excertos de “O Inédito sobre os Evangelhos”, Ano B – I Domingo da Quaresma.

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