Naquele tempo, 1 houve um casamento em Caná da Galileia. A Mãe de Jesus estava presente. 2 Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. 3 Como o vinho veio a faltar, a Mãe de Jesus Lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 4 Jesus respondeu-Lhe: “Mulher, por que dizes isto a Mim? Minha hora ainda não chegou”. 5 Sua Mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que Ele vos disser”. 6 Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. 7 Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas até a boca. 8 Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram. 9 O mestre-sala experimentou a água que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. 10 O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” 11 Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram n’Ele (Jo 2, 1-11).
II Domingo do Tempo Comum
Comentário ao Evangelho
Quando Nossa Senhora for efetivamente a Rainha dos Corações,
“coisas maravilhosas acontecerão neste mundo”. Na História,
à semelhança das Bodas de Caná, o melhor vinho está sendo
reservado para o fim..
Por Mons. João S. Clá Dias, EP
O poder de intercessão de Maria
Perfumam as páginas do Antigo Testamento os feitos das santas mulheres que edificaram as sucessivas gerações do povo eleito. Todas elas são, sob algum aspecto, pré-figuras de Nossa Senhora, e anteciparam o insuperável exemplo de Maria Santíssima na prática das virtudes.
Assim foram Ruth, a moabita, a casta Susana e Judite, a qual venceu o terrível Holofernes quando os governantes de Israel já preparavam a entrega da cidade. O mesmo sucedeu com Ester. Embora frágil, ela foi sensível às súplicas de seu tio Mardoqueu, para interceder junto ao rei a fim de salvar do extermínio os israelitas. Ela rezou, pediu forças e, correndo risco de vida, obteve as boas graças do rei, deixando patente o quanto amava o seu povo.
Como todo símbolo, essas pré-figuras são inferiores àquilo que representam, mas elas revelam aspectos da inigualável alma da Virgem Maria.
Uma vez que “Deus Pai reuniu todas as águas e as nomeou mar; reuniu todas as suas graças e as chamou Maria”, qualquer perfeição existente no universo criado — com exceção de Jesus Cristo, o Homem-Deus — é insuficiente para se comparar devidamente com a Mãe de Deus. É nessa perspectiva que devemos analisar o Evangelho das Bodas de Caná, onde a insuficiência do vinho deu ocasião ao primeiro milagre de Jesus Cristo, por intercessão de Maria.
O milagre das Bodas de Caná
Não é de estranhar que o primeiro milagre de Nosso Senhor tenha ocorrido durante uma festa de casamento, pois as cerimônias nupciais eram cercadas de extraordinária solenidade naquele tempo, devido à espera do Messias que viria salvar o povo judeu. Os novos casais se formavam na expectativa de figurarem na linhagem do Salvador, e a
esterilidade era considerada um verdadeiro castigo.
Segundo o costume vigente, as núpcias começavam a ser preparadas com um ano de antecedência, quando os pais dos nubentes se reuniam para fazer o contrato matrimonial e concertar todo o relativo ao patrimônio, a fim de garantir a estabilidade do novo lar.
Pré-figura do milagre eucarístico
Embora a palavra mulher, presente nesta resposta de Jesus, soe um tanto dura aos nossos ouvidos, na linguagem do tempo denotava, ao contrário, respeito e solenidade, inclusive grande estima e até um matiz de ternura. E não era raro usá-la para dirigir-se a princesas e rainhas.
Nosso Senhor havia entendido perfeitamente a insinuação de sua Mãe, e ao usar a palavra mulher para se dirigir a Ela quis indicar, como afirma Maldonado, o desejo de “afastar de Si toda suspeita de amor humano, ao fazer o milagre”. Os professores da Companhia de Jesus manifestam igual opinião: “Jesus não nega o milagre que Lhe foi pedido, mas nega que vai operá-lo por um motivo meramente humano. Em tudo Ele Se move pela vontade de seu Pai celestial”.
Como não poderia deixar de ser, Nosso Senhor também deveria estar penalizado com a situação daquelas famílias. Porém, desejava instruir seus discípulos e associar Nossa Senhora à sua obra, mostrando o papel decisivo da mediação de sua Mãe. Por isso, com certeza alegrou-Se ao ouvir o pedido de Maria e, segundo o renomado exegeta padre Lagrange, respondeu como quem diz: “Deixai por minha conta, tudo irá bem […] com mais dignidade no tom, mas sem dúvida também com mais afeto na modulação da voz”.
O melhor vinho foi servido no fim
O vinho fruto desse milagre foi, sem dúvida, o mais delicioso jamais produzido na História — o vinho dos vinhos — porque feito pelo próprio Deus.
Da circunstância de ter ele sido servido no fim, podemos tirar uma aplicação para nossa vida espiritual. Quando cedemos à sedução do pecado, haurimos em primeiro lugar o “vinho bom”: a fruição dos prazeres e a ilusão de uma felicidade perfeita. Mas logo depois, estando já embriagados pelo vício, a elas sucedem-se tristeza e frustração.
Pelo contrário, quando encetamos o percurso da santificação, talvez encontremos no começo dificuldades ou provações. Logo se seguirá, porém, o delicioso “vinho” das consolações espirituais. “Inicialmente, o mundo promete bens, alegria, prazeres, mas no fim ele só dá amarguras, aflições, desespero. Deus, ao contrário, faz quem se entrega a Ele sentir o amargor do cálice de Jesus Cristo, penas e trabalhos, mas no final os sofrimentos e as lágrimas cedem lugar a uma alegria inefável, a torrentes de delícias”.
Eis uma palavra de esperança e de consolo para aqueles que sofrem: está sendo preparado para eles o vinho bom transmudado por Nosso Senhor.
O melhor “vinho” da História: o Reino de Maria
Perante as perplexidades e apreensões que o mundo de hoje possa causar-nos, o Evangelho deste domingo nos convida à esperança. Pois sabemos que, quando a humanidade chegar a um nível de decadência moral onde tudo parecer perdido, a intercessão onipotente de Maria obterá de seu Filho Divino a mutação da água — neste caso, uma água poluída pelo pecado — no melhor vinho.
A miséria espiritual do mundo se transformará, por intercessão da Mãe de Deus, em algo de extraordinário, que não podemos sequer imaginar: o Reino de Maria, isto é, o triunfo do seu Sapiencial e Imaculado Coração, anunciado por Ela em Fátima.
A frase do Evangelho de hoje: “Tu deixaste o melhor vinho para o fim”, bem pode significar: “Deixastes, ó Deus, vossas melhores graças para os tempos vindouros”. As graças mais excelentes, os mais insignes benefícios, os maiores santos, as culturas mais requintadas — tudo quanto pode haver de melhor foi reservado para essa era marial.
De um modo suave, mas rápido e direto — tal como a água foi transmudada em vinho nas Bodas de Caná —, Nossa Senhora obterá de seu Divino Filho a santificação das nossas almas. Para obtermos essa feliz renovação, basta-nos seguir o sábio conselho do Abbé Jourdain: “Apresentai-Lhe vossa necessidade, vossa miséria, vossa tibieza e suplicai-Lhe: ‘Virgem Santíssima, falta-me o vinho do amor e da devoção, tenho apenas um pouco de água fria e insípida; pedi a vosso Filho que a converta em vinho’”.
Nessa venturosa era, Maria será estabelecida Rainha dos Corações, e “coisas maravilhosas se produzirão neste mundo, onde o Espírito Santo, encontrando sua querida Esposa como que reproduzida nas almas, nelas sobrevirá abundantemente, e as encherá com seus dons, particularmente com o dom da sabedoria, para operar as maravilhas da graça. […] quando virá este tempo feliz e este século de Maria, onde inúmeras almas escolhidas e obtidas do Altíssimo por Maria, perdendo-se elas mesmas no abismo de seu interior, se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo?”
Por amoroso desígnio de seu Divino Filho, o melhor “vinho” da História virá no fim, e será o “vinho de Maria”! ♦️
Excertos da obra “O Inédito sobre os Evangelhos”. Vol. VI. Ano C. II Domingo do Tempo Comum.
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