Mãe de Deus e nossa Mãe

Maternidade Divina de Nossa Senhora

Deus, estabelecendo a união hipostática com a natureza humana, dignificou toda a Criação. Ele quis que essa união se operasse no seio virginal de Maria Santíssima, Aquela que supera todas as meras criaturas

Plínio Corrêa de Oliveira


A importância da Maternidade Divina  para a piedade católica está em que todas as graças extraordinárias pela Virgem Maria recebidas, que fizeram d’Ela uma criatura única em todo o universo e na economia da salvação, têm como título e ponto de partida o fato de Maria ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Essência da devoção mariana

Deus eterno, perfeito, cria os Anjos e, abaixo deles, os homens.

Mas a Encarnação, a união hipostática, é estabelecida não com Anjos, mas com a natureza humana. Parece uma contradição, pois a dignidade superior dos Anjos pediria que a união hipostática fosse feita com o mais alto dos coros angélicos.

Ora, Deus, estabelecendo a união hipostática com a natureza humana — portanto num grau menos elevado que o angélico —, opera maravilha maior do que se fizesse essa união com um Anjo, pois dignificaria apenas as criaturas espirituais. Mas realizando-a com a natureza humana Ele dignifica os Anjos porque o homem, enquanto tendo alma e corpo, participa da dignidade espiritual dos Anjos; e enobrece ainda todo o reino material, pois o homem é também feito de matéria. Assim, todo o cosmos se dignifica muito mais com a aparente incongruência da união hipostática feita com a natureza humana, do que se ela fosse realizada com uma natureza angélica.

Estabelece-se, desse modo, uma hierarquia admirável: acima de tudo Deus, infinito, depois, a humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Após Nosso Senhor Jesus Cristo há naturalmente um abismo. Porém esse abismo é preenchido por Aquela que supera tudo quanto pode existir na mera Criação: Maria Santíssima, Mãe do Verbo encarnado.

A Santíssima Virgem é o espelho mais perfeito que de Deus possa ser uma mera criatura, revestida de todos os outros títulos que Ela possui, inclusive o da mediação universal, pelo fato de ser Ela Mãe de Deus. A Maternidade de Nossa Senhora, de algum modo, é a própria raiz, a própria essência da devoção mariana.

Mãe de Deus e Mãe dos homens

Nossa Senhora como Mãe de Deus é, a título especial, Mãe dos homens e, portanto, nossa Mãe. A mais preciosa graça que podemos receber, em matéria de devoção a Maria Santíssima, é a de Ela condescender em estabelecer, por laços inefáveis, com cada um de nós uma relação verdadeiramente materna. Isso se pode dar de mil maneiras diferentes. Mas geralmente Nossa Senhora revela-se verdadeiramente nossa Mãe quando nos tira de algum apuro de um modo especial, que nos fica gravado indelevelmente, ou quando Ela nos perdoa alguma falta particularmente imperdoável, por uma dessas bondades que só é dado às mães terem.

Mais um sorriso, mais um perdão

Nossa Senhora concede às vezes essas graças de um modo tal que, na vida inteira, fica a alma marcada com fogo. É fogo do Céu, não da Terra e menos ainda do Inferno: a convicção de que podemos recorrer a Ela em circunstâncias mil vezes mais indefensáveis, e sempre Ela nos perdoará de novo, porque abriu para nós uma porta de misericórdia que ninguém fechará.

É propriamente do que nós vivemos. Um crédito de misericórdia aberto por Nossa Senhora como poucas vezes terá havido. Não merecendo nós coisa alguma, Ela tem ainda para nós mais um sorriso, mais um perdão. “Porque eles eram fracos, Eu lhes abri uma porta que ninguém poderá fechar”, diz o Apocalipse (cf. Ap 3, 8).

De maneira que, propriamente, quando se fala da graça especial que recebemos, não se deveria entender como graça merecida por nós. Mas enquanto dada por Nossa Senhora e imerecida, eu não conheço verdade mais palpável, mais digna do nosso amor e de nossa gratidão.♦


(Extraído, com adaptações, de conferência de 1/10/1965 – Revista Dr. Plinio nº 226, janeiro de 2017, pp. 14-17)

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