O site ACI Stampa*, de Roma, publicou uma entrevista com o padre Carlos Werner, EP, tratando sobre a Consagração a Nossa Senhora
Transcrevemos a seguir o artigo com a entrevista concedida pelo pe. Carlos Werner.
Em nossa sociedade tão secularizada, nota-se em muitas pessoas o desejo de aumentar sua devoção a Nossa Senhora. Para realizá-lo, os Arautos do Evangelho difundem amplamente a consagração à Santíssima Virgem como escravo de amor, segundo o conhecido método de São Luís Maria Grignion de Montfort. ACI Stampa aprofundou o assunto com o padre Carlos Werner, presidente da seção italiana dos Arautos do Evangelho.
ACI Stampa: Padre Carlos, por que os Arautos do Evangelho propagam a consagração a Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort?
Pe. Carlos Werner: A via espiritual da consagração a Maria de acordo com o método montforniano é uma parte essencial da espiritualidade dos Arautos do Evangelho. O inspirador do movimento, Plínio Correa de Oliveira, nos anos de juventude, depois de recitar com confiança uma novena a Santa Teresinha para pedir-lhe a graça de identificar um meio de avançar na vida espiritual, encontrou à venda em uma paróquia, o Tratado de Verdadeira Devoção a Maria, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Ele leu-o com entusiasmo e consolação e compôs uma ladainha a Maria com base nos ensinamentos do Santo, dos quais ele assumiu a doutrina como uma regra de vida.
Em sua juventude, nosso fundador, Monsenhor Scognamiglio, incentivado pelo Prof. Plínio, leu e releu o Tratado várias vezes, permanecendo verdadeiramente marcado pelo fogo Mariano do Santo francês. Como jovem discípulo, ele também desejava traduzir essa doutrina em um modo de vida sob a orientação de seu mestre espiritual, confiando em sua própria união espiritual com Maria Santíssima e com seu filho Jesus. Graças a esta espiritualidade da escravidão Mariana, então nasceu, entre os primeiros discípulos do Prof. Plínio, o desejo de uma vida de sequela Christi , que está na raiz do carisma dos Arautos do Evangelho. Por esta razão, todos os membros dos Arautos, nos primeiros passos de suas lutas espirituais, são introduzidos no caminho da consagração a Maria Santíssima, preconizada por São Luís Maria de Montfort.
Como resultado, não só os membros celibatários, mas também as pessoas que se aproximam do carisma e querem participar, conforme suas graças específicas, são encorajadas a empreender a estrada definida por Montfort como o meio mais curto, mais rápido e mais seguro de alcançar o adorável Jesus e permanecer unido a Ele. Neste sentido, e salientando que muitas outras são as congregações que promovem este método, em primeiro lugar os membros da companhia de Maria fundada por Montfort, os Arautos organizam grupos de preparação para a consagração a Maria Santíssima em todo o mundo, que sempre registra a presença de muitos participantes.
O caso mais flagrante para a nossa realidade é o da cidade de Montes Claros, no Brasil, onde já existem mais de 10.000 pessoas que se consagraram a Maria depois de terem seguido a preparação oferecida pelos Arautos.
Consagração a Maria, o que é exatamente?
Para entender o que a consagração a Maria proposta por São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716), devemos primeiro traçar, mesmo apenas nas linhas essenciais, um esboço da personalidade de seu maitre à pensé, ou seja, o mesmo Santo.
São Luís Maria foi antes de tudo, um missionário de fogo, próximo dos necessitados e humildes de coração, um lutador indomável contra o pecado e o vício e devoto de Maria. Para ter uma ideia de seu molde de lutador, é bom saber que muitas vezes ele dispersou com o uso de uma certa violência física, casas de nomeação e locais de má vida, sucedendo a converter mulheres de maus costumes e homens corruptos.
Os frutos de suas missões Marianas eram abundantes, a ponto de que em La Rochelle sofreu uma tentativa de homicídio por alguns inimigos de sua pregação. O Papa Clemente XI em 1706 recebeu-o em audiência em Roma e, maravilhado pela sua fé ardente e seu zelo pelas almas sempre insatisfeitos, viu nele um espírito de toda a chama, ansioso por recuperar a França ameaçada pelo jansenismo e galicanismo, à verdadeira afeição pela Igreja de Roma. Por esta razão, ele de bom grado nomeou-o missionário apostólico. O próprio Clemente XI ouviu dos lábios do Santo a explicação da sua espiritualidade de escravidão a Jesus em Maria, e, muito satisfeito, aprovou a sua doutrina. A consagração a Jesus através de Maria tem na base um conceito simples e indispensável explicado por Montfort:
O homem nesta terra é sempre um escravo, quer ele queira ou não. Escravo de Deus por amor, com o consentimento da vontade, ou escravo do pecado e do diabo, como ensina São Pedro em sua segunda Epístola: você se torna escravo daquele que o venceu. E na vida eterna todos serão escravos de Deus, alguns em amizade e amor eterno, outros forçados pela justiça: em nome de Jesus, todo joelho se dobre nos céus, na terra e debaixo da terra (Fil 2, 10).
Portanto, segundo São Luís Maria, o batismo nos chama à escravidão de amor a Deus, à submissão de seus mandamentos, à aceitação de sua vontade divina, sendo esta a chave de ouro da verdadeira e única liberdade. Mas como ser fiel a tal chamado? As tendências para o mal que sentimos dentro de nós mesmos e a corrupção do mundo tornam quase impossível preservar este tesouro, que é a graça, nos vasos de barro que somos. Então a mediação de Maria vem para o resgate de nossa necessidade e nossa miséria como remédio.
Antes de tudo por sua santidade incomparável e seu amor por nós, consumados em um sofrimento atroz ao pé da Cruz, onde se uniu como óstia pura ao cordeiro sacrificado. Então, por sua singular participação na glória de Cristo, tendo sido assunta ao céu antes do fim do mundo. Os privilégios que A levaram ao pico da santidade e somente abaixo de Jesus, são uma razão certa para confiar em sua benevolência e misericórdia para conosco. Além disso, no plano da redenção, “Jesus veio ao mundo através da Santíssima Virgem Maria, e é através dela que Ele deve reinar sobre o mundo”:
Esta é a primeira frase do Tratado da Verdadeira Devoção. A este argumento soteriológico, São Luis acrescenta um de vida espiritual. Reconhecer-nos pequenos diante de Jesus ao ponto de precisar da ajuda de Maria, de sua proteção e de sua amizade para nos aproximar dEle, é sem nenhuma dúvida uma atitude mais humilde e consequentemente mais perfeita do que dirigindo-se a Ele, como se nossa virtude nos permitisse sermos considerados puros diante de sua Majestade. Portanto, as almas dos pequeninos que escolhem Maria como mãe e senhora são aquelas que se aproximam de Jesus de forma privilegiada, sendo acolhidas por Ele com o carinho que reservou aos filhos nos dias de sua vida pública.
Aqui são traçados, muito sumariamente, algumas das motivações que levam tantos cristãos a se consagrarem como escravos do amor a Jesus em Maria. Agindo desta forma, de acordo com São Luís Maria, a alma predestinada cultiva em seu coração a árvore da vida, isto é, Maria, plantada em nós pelo Espírito Santo, e, consequentemente, verá nascer em si mesma, e então a provará, seu único fruto, ou seja, o amável Jesus.
Nesse sentido, sempre afirmava o Santo, a mais forte inclinação de Maria é unir seus escravos a Jesus Cristo, seu Filho, e a mais forte inclinação do Filho é que se chegue a Ele por intermédio de sua Santíssima Mãe.
Como então as pessoas que escolhem se consagrar a Maria vivem? Eles seguem um estilo de vida particular?
Para tornar-se escravo de amor de Jesus em Maria, deve-se fazer um caminho com a catequese, com reuniões, mas, acima de tudo, deve-se aderir interiormente à espiritualidade proposta por São Luis Montfort, que não se traduz em práticas externas de devoção, mas consiste principalmente em atitudes internas marcadas pela grande confiança na eficácia da mediação de Maria, bem como o compromisso de fazer tudo para a maior glória de Deus e de sua Mãe. A bela característica desta consagração é que todos os batizados são admitidos sem exceção.
Não é, de fato, uma questão de assumir um estado particular de vida, como o religioso faz, mas em alguns aspectos, como explica São Luís Maria, a escravidão Mariana vai além da necessidade de votos religiosos, porque implica um abandono radical nas mãos da Virgem para sermos perfeitos escravos de Jesus na caridade. Assim, as pessoas casadas ou celibatárias, que vivem no mundo ou fazem parte do clero ou da vida consagrada, podem ser consagrados pelo método montforniano.
Padre Carlos, tem alguma data que seja mais significativa para as pessoas consagradas a Maria?
São Luís Maria afirma que a festa mais adequada para os escravos de Jesus em Maria é a Solenidade da Anunciação do Senhor, isto é, a festa da encarnação do verbo no seio virginal de Maria. Na verdade, nesta ocasião terão a honra de imitar a inefável dependência de Deus, o filho de Maria.
Jesus, de alguma forma, diz o Santo, torna-se totalmente dependente dEla do ponto de vista humano e, em certo sentido, torna-se seu escravo do amor.
Por outro lado, as pessoas consagradas naquele dia agradecerão ao Senhor pelas graças muito especiais concedidas pelo Pai a Maria, que primeiro se declara escrava de Deus e depois é escolhida para se tornar sua Mãe! Assim, em 25 de março é o dia em que os consagrados honrarão com singular devoção.
Por que você crê que um fiel deve escolher se consagrar a Maria?
Os caminhos do Senhor são misteriosos. Ocorre que a consagração a Maria é descoberta pelas almas que Ela mesma quer trazer particularmente ao seu Imaculado Coração.
Devemos, portanto, ser muito dóceis aos movimentos do Espírito Santo, Esposo místico de Maria, e deixar ser conduzido para onde Ele assim desejar.
Estou certo, porém, que qualquer católico sem preconceitos pseudo-teológicos sobre a devoção à Virgem e que lê o Tratado de São Luis com boa vontade irá se apaixonar pela espiritualidade que o Santo apresenta com tanta luz de sabedoria e tanto fogo de amor. Seria o impulso de uma inspiração interior, que digamos, é um bem contagioso.
Vale a pena tentar!♦
Muito boa essa reflexão ,gostei muito ser de Maria e escrava dela tbm quero