O Anjo de Portugal

O maravilhoso encontro com a Mãe de Deus não fora a primeira visita que os três pastorinhos receberam do Céu. A fim de prepará-los para aceitar e divulgar a Mensagem de Fátima, a Providência Divina lhes enviara no ano anterior o Anjo de Portugal, para manifestar os desígnios de misericórdia de Jesus e Maria sobre eles

Mons. João S. Clá Dias, EP

 

Foi quando se abrigavam de uma chuva fina na Loca do Cabeço, pequena gruta situada numa propriedade do padrinho de Lúcia, que o Anjo lhes apareceu claramente pela primeira vez. À medida que ele se aproximava, os meninos iam distinguindo sua fisionomia: era a de um jovem de 15 anos, parecendo feito de neve, muito formoso e mais reluzente que um cristal atravessado pelos raios do sol. Surpreendidos diante de tanta beleza sobrenatural, não conseguiam pronunciar palavra.

Ao chegar junto dos pastorinhos, o mensageiro celeste lhes disse:

Não temais, sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

Ajoelhou-se e se curvou até tocar o chão com a fronte. Os três meninos fizeram o mesmo e repetiram as palavras que lhe ouviam pronunciar:

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Após ter recitado esta oração três vezes, o Anjo levantou-se e disse-lhes que rezassem sempre, porque Nosso Senhor e Nossa Senhora estavam atentos às suas orações. E desapareceu.

Algumas semanas depois, quando os pastorinhos brincavam junto ao poço no quintal da casa de Lúcia, o Anjo surpreendeu-os novamente.

– O que fazeis? – perguntou. – Rezai, rezai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.

Dizendo isto, desapareceu.

Mais tarde, por volta de outubro de 1916, novamente na Loca do Cabeço, deu-se a última aparição do Anjo. Depois de terem tomado a merenda, as crianças se puseram a rezar, com o rosto em terra, repetindo a oração que dele haviam aprendido. De repente, perceberam uma luz desconhecida a brilhar sobre eles. Ergueram-se e viram o Anjo, que trazia na mão esquerda um cá­lice, sobre o qual, com a direita, segurava uma Hóstia. Desta caíam algumas gotas de Sangue dentro do cálice.

Deixando a Hóstia e o cálice suspensos no ar, o Anjo se colocou junto às crianças, curvou-se também e lhes ensinou outra oração ainda mais bela:

– Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

Levantando-se, o Anjo tomou na mão a Hóstia e a deu a Lúcia. Francisco e Jacinta se perguntavam se receberiam também a Hóstia, pois ainda não tinham feito a Primeira Comunhão. O Anjo avançou até eles e deu-lhes a beber do cálice, dizendo:

– Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.

Depois, ajoelhou-se e repetiu a mesma oração três vezes: “Santíssima Trindade…”, etc. E desapareceu.

Nunca mais o veriam. Porém, haviam ficado profundamente impressionados pelas palavras dele. A partir de então, passaram a rezar mais e a fazer constantes sacrifícios em reparação a Deus e pela conversão dos pecadores.

E assim foi que suas almas inocentes, alguns meses depois, encontravam-se preparadas para o bendito e inesquecível momento em que contemplariam, na Cova da Iria, uma Senhora mais brilhante que o sol. ♦


Livro Jacinta e Francisco Prediletos de Maria.

Deixe uma resposta