O “alter ego*” da mais perfeita das criaturas

Certa vez um Anjo resolveu percorrer a terra em busca da mais bela das criaturas

 

Contemplava, maravilhado, a obra dos seis dias e encantava-se com os reflexos das perfeições divinas nela contidos. Enternecia-se com a singeleza das plantas e a ordenação dos pequenos animais, enlevava-se com a vastidão dos mais diversos panoramas, impressionava-se com a majestosa e implacável força da natureza.

Tudo o que via com os olhos do espírito enchia-o de sentimentos de adoração a Deus. Todavia, não encontrara uma criatura que sintetizasse os incontáveis esplendores que o haviam fascinado. Então pensou: “Se me fosse dado criar um ser perfeito, que características ele deveria ter?”

Voltou-se para o oceano e admirou sua grandeza: imponente e forte, mas envolvente; ora feito de calma, rico em cores e variações, ora violento, furioso e indomável. O Anjo ponderou que uma criatura, para ser perfeito, precisaria harmonizar em si todas as qualidades do mar. Nesse momento, porém, os ventos atraíram-lhe a atenção. Às suaves brisas que acariciavam com delicadeza a vegetação sucediam-se ventanias impetuosas, tufões e tempestades, símbolos da cólera divina. “Como seria bom reunir também estes atributos”, pensou.

Mal cessara o vento, entreteve-se com as árvores, cujo vigor e fertilidade mostram a prodigalidade de Deus. O Anjo não cabia em si de assombro quando avistou ainda as águas puras e cristalinas dos lagos, e observou o fulgor e o calor do fogo, instrumento divino para a purificação da terra.

Considerando assim a obra do Altíssimo, concluiu que a criatura perfeita seria aquela que refletisse, ao mesmo tempo, todas as excelências divinas disseminadas entre os diferentes seres.

Então, elevando os olhos, pôde ver a pulcritude inefável da Virgem Santíssima. E compreendeu que Deus reunira n’Ela o brilho de todos os seus predicados, pois em seu seio virginal a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade tomaria nossa carne. Em razão da proximidade da mãe com seu filho, Nossa Senhora, chamada a ser a Mãe de Deus, deveria ser inundada por Ele de insondáveis perfeições na ordem da natureza e da graça.

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Mons. João Scognamiglio Clá Dias – São José: quem o conhece?…, pgs. 29 – 31
* um segundo eu; substituto perfeito.

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