Há quatro lugares especialmente relacionados com a Eucaristia na Terra Santa: Belém, Cafarnaum, Jerusalém e Emaús.
Pe. Rafael Ramón Ibarguren Schindler*, EP
Em uma gruta de Belém, que significa ‘casa do pão’, nasce Jesus das entranhas puríssimas de Maria. Na sinagoga de Cafarnaum, Jesus revela profeticamente que sua carne tem que ser comida para se ter a vida eterna… o que causa um profundo trauma em seus ouvintes!
Na Cidade Santa, dois são os lugares emblemáticos da Eucaristia: o Cenáculo e o Calvário, onde sucede, em poucas horas de diferença, um mesmo mistério de amor. Por fim, no caminho de Emaús, Nosso Senhor confirma na Fé aos seus discípulos abatidos que o reconhecem a partir do pão.
I – Belém é o lugar onde Jesus vê a luz… ainda que seja de noite. Vê a luz, porque os olhos de Maria são dois sóis que, junto com a presença de São José e dos anjos, dão uma claridade maravilhosa àquele inóspito lugar transformado em um palácio. Mas isto é dizer pouco. São João em seu Evangelho vai diretamente ao essencial: “O Verbo era a Luz” (Jo 1, 9) Jesus é a luz!
Cronologicamente, antes de Belém se situa outro lugar bendito: Nazaré. Foi aí que o Verbo se fez carne e onde, depois, viveu Jesus por espaço de 30 anos. O Salvador foi conhecido como o Nazareno, ainda que sua nobre estirpe o identifique com Belém, onde seu pai virginal foi inscrever-se junto com Maria, por ocasião do censo ordenado por César Augusto. Jesus nasceu, pois, no solo de seu ilustre antepassado, David, o santo Pastor e Rei de Israel.
Já em Belém, Jesus recebeu culto de adoração por parte da humanidade. Antes que mais nada, de Maria e de José, mas também dos pastores e dos magos. Os pastores do ambiente representavam aos simples, aos trabalhadores, aos homens de todos os dias; e os magos, potentados e sábios, que sendo muito ricos e eruditos, deixaram exemplo de humildade extraordinário: “prostrando-se, lhe adoraram abriram depois seus cofres e lhe ofereceram dons de ouro, incenso e mirra”.
Nos presépios que se colocam nas igrejas e nos lares cristãos, se contempla o mistério admirável do Natal. Mas esse mistério se faz realidade e pode ser adorado com propriedade, nos altares, nos sacrários e as custódias onde está a Eucaristia. Pensemos que Jesus tomou nossa natureza, não apenas para padecer e morrer, mas também para ficar como alimento.
II – Em Cafarnaum, desafiando a murmuração dos judeus em geral e o temor e rejeição de seus próprios discípulos, Jesus profetizou a instituição do Sacramento: “Em verdade lhes digo que se não comem a carne do Filho do homem e não bebem seu sangue, não tem vida em vocês. O que come minha carne e bebe meu sangue vive de vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Minha carne é verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida” (Jo 6,53-55).
O Senhor, depois de anunciar essa maravilha, vê que muitos o abandonam, chocados e interroga aos seus Apóstolos: “Querem ir embora também?” (Jo 6, 67). Pedro, o porta-voz dos doze declara sua fidelidade ao Senhor. Jesus, entretanto, anuncia que um deles o trairá. No momento de revelar o maior dom feito aos homens, Jesus põem diante deles o drama de sua morte. Com efeito, seu corpo será entregue e seu sangue derramado.
Para conhecer em detalhes e encantar-se com o acontecimento do anúncio da Eucaristia em Cafarnaum, deve-se ler que com atenção o capítulo VI do Evangelho de São João.
III – Jerusalém foi o lugar privilegiado entre todos onde se deu a instituição Eucarística. O Senhor quis que fosse em um lugar adequado, espaçoso e bem adornado (Lc 22, 12), o Cenáculo. Durante a Última Ceia, três maravilhas vieram à luz: a Eucaristia, o Sacerdócio ministerial e o mandamento do amor… tão intimamente relacionadas entre si.
O pão e o vinho foram transubstanciados, o mandato de fazê-lo em Sua memória foi dado aos Apóstolos e, com o lavatório dos pés, se estabeleceram as disposições para viver o sacerdócio e para comungar devidamente.
Mas é necessário saber que Jerusalém tem uma pré-história relacionada com a Eucaristia. Foi aí que o Sacerdote do Altíssimo e Rei de Salem (assim se chamava o lugar), Melquisedec, ofereceu pão e vinho em sacrifício ao Senhor. Foi também nas imediações de Jerusalém, no Monte Moria, onde Abraão sacrificou um cordeiro em substituição de seu filho Isaac que ia ser imolado.
IV – Por fim, no caminho da aldeia de Emaús Jesus se faz surpreendentemente presente… para nunca mais deixar-nos. De fato, Emaús são todos os lugares onde a Eucaristia acolhe, nutre e confirma com o Viático de imortalidade aos caminhantes neste vale de lágrimas.
O ocorrido em Emaús é um esboço da celebração da Missa: foi no dia da Ressurreição, um domingo; caminhavam tristes e desolados, com disposições análogas com as quais se pede piedade no ato penitencial. Jesus lhes explica as Escrituras. Eles se acendem e querem ficar com Ele e, ao partir do pão, o reconhecem, da mesma forma que nós, ao dizer amém ao comungar. Por fim, voltam fervorosos e fortalecidos na Fé, aos seus deveres cotidianos. ‘Ite missa est’…
A Eucaristia produz os mesmíssimos efeitos que a aparição do Ressuscitado aos de discípulos de Emaús… mas é importante a disposição dos peregrinos. Necessitamos ser perdoados, instruir-nos com a Palavra e comer Seu corpo para estar integrados na Igreja como pedras vivas.
Necessitamos da Missa!
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*Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas e da Igreja.
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