A origem da Festa Corpus Christi

Por Padre Jorge Gustavo Antonini, EP. Em 11 de agosto de 1264, o Papa Urbano IV emitia a bula Transiturus de Hoc Mundo, pela qual determinava a solene celebração da festa de Corpus Christi em toda a Igreja. Diz o pontífice no texto da bula:

Ainda que renovemos todos os dias na Missa a memória da instituição desse Sacramento, estimamos todavia, conveniente que seja celebrada mais solenemente pelo menos uma vez ao ano para confundir particularmente os hereges; pois, na Quinta-feira Santa a Igreja ocupa-se com a reconciliação dos penitentes, a consagração do santo crisma, o lava-pés e muitas outras funções que lhe impedem de voltar-se plenamente à veneração desse mistério.”

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Antídoto para a vanglória?

Comentário ao Evangelho do XXII Domingo do Tempo Comum

Repetidas vezes nos alerta o Divino Mestre contra o orgulho, de cujos efeitos todos padecemos, infelizmente. Como combatê-lo com eficácia? No que consiste a verdadeira humildade? Muitos, por equívoco, a confundem com mediocridade

Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP, Fundador dos Arautos do Evangelho e do Apostolado do Oratório

Choque entre dois modos de ser

Nesta Terra de exílio, um dos melhores modos de nos comunicarmos com Deus e termos, assim, algum antegozo da visão beatífica é contemplar os símbolos do Criador postos no universo, pois “as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, tornam-se visíveis à inteligência, por suas obras” (Rm 1, 20). Ou seja, desde que queiramos, é-nos dado discernir o Invisível no visível, o Infinito no finito, o Criador nas criaturas.

“Eis o Cordeiro de Deus”

Por isso, a Divina Providência dispôs na natureza uma abundância de símbolos de grande expressão, alguns dos quais foram aplicados ao próprio Filho de Deus, a fim de melhor O conhecermos e mais O amarmos. Ele mesmo Se apresenta como a videira cujos ramos produzem muito fruto (cf. Jo 15, 1-5), ou como o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10, 11-16). Também é o Messias chamado de Leão da tribo de Judá (cf. Ap 5, 5), e como tal Se manifesta ao repreender com severidade os fariseus (cf. Mt 23, 13-33), e ao “expulsar os que no Templo vendiam e compravam” (Mc 11, 15).

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Páscoa do Senhor – Vitória de Cristo sobre a morte

“Eis o meu Filho muito amado, em quem pus toda minha afeição” (Mt 17, 5). Seria suficiente esse amor infinito do Pai pelo seu Unigênito para que operasse sua Ressurreição, porém, ademais concorreu para tal o brilho da justiça divina, segundo São Tomás de Aquino, “à qual é próprio exaltar aqueles que se humilham por causa de Deus, conforme diz Lucas (1, 52): ‘Precipitou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes’. E uma vez que Cristo, por causa do amor e da obediência a Deus, se rebaixou até a morte de Cruz, convinha que fosse exaltado por Deus até a gloriosa Ressurreição”.(1)

Tomados de adoração, uma vez mais foi-nos possível acompanhar liturgicamente ao longo da Semana da Paixão o quanto a morte teve uma aparente vitória no Calvário. Todos que por ali passavam podiam constatar a “derrota” de quem tanto poder havia manifestado não só nas incontáveis curas por Ele operadas, como também em seu caminhar sobre as águas ou nas duas vezes que multiplicou os pães.

Os mares e os ventos Lhe obedeciam, e até mesmo os demônios eram, por sua determinação, desalojados e expulsos.

Aquele mesmo que tantos milagres prodigalizara havia sido crucificado entre dois ladrões e, diante de seus extremos sofrimentos, “os que passavam O injuriavam, sacudiam a cabeça e diziam: ‘Tu, que destróis o Templo e o reconstróis em três dias, salva-Te a Ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da Cruz!’ Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam d’Ele: ‘Ele salvou a outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Se é Rei de Israel, desça agora da Cruz e nós creremos n’Ele! Confiou em Deus, Deus O livre agora, se O ama, porque Ele disse: Eu sou o Filho de Deus!’” (Mt 27, 39-43).

Porém, a maneira pela qual fora removida a pedra do sepulcro e o desaparecimento dos guardas eram, de si, uma prova sensível do quanto havia sido derrotada a morte, conforme o próprio São Paulo comenta: “A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (I Cor 15, 55). Os fatos subsequentes tornaram ainda mais patente a triunfante Ressurreição de Cristo e, por isso, a Liturgia Eucarística canta, sucessivamente, nos Prefácios da Páscoa: “Morrendo, destruiu a morte, e, ressurgindo, deu-nos a vida”;(2) “Nossa morte foi redimida pela sua e na sua Ressurreição ressurgiu a vida para todos”;(3) “Imolado, já não morre; e, morto, vive eternamente”;(4) “E, destruindo a morte, garantiu-nos a vida em plenitude”.(5)

Constituem essas frases uma sequência de afirmações que proclamam a vitória de Cristo não só sobre sua própria Morte, como também sobre a nossa. Ele é a Cabeça do Corpo Místico e, tendo ressuscitado, trará necessariamente a nossa respectiva ressurreição, pois esta nos é garantida pela presença d’Ele no Céu, apesar de estarmos, por ora, submetidos ao império da morte. De maneira paradoxal, aquele sepulcro aberto com violência a partir de seu interior, deu à morte um significado oposto, e passou ela a ser o símbolo da entrada na vida, pois Cristo quis “destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio” (Hb 2, 14), e assim libertar os que “estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão” (Hb 2, 15).

São Paulo tem sua alma transbordante de alegria em face da realidade da Ressurreição de Cristo e nela encontramos nosso triunfo sobre a morte, tal qual ele próprio nos diz: “ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram! Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão” (I Cor 15, 20-22).

Na Ressurreição vemos, ademais, realizada por Jesus, a profecia que Ele mesmo fizera pouco antes de sua Paixão: “Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo” (Jo 12, 31). De fato, o cumprimento exato dessa profecia se iniciou durante os quarenta dias de retiro no deserto, e teve continuidade passo a passo ao longo de sua vida pública ao expulsar os demônios que pelo caminho encontrava, chegando ao ápice em sua Paixão: “Espoliou os principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela Cruz” (Col 2, 15).

Posteriormente, não só o demônio, mas o próprio mundo foi derrotado: inúmeros pagãos passaram a se converter e muitos entregaram a própria vida para defender a Cruz, animados pelas luzes da Ressurreição do Salvador. Em função dela, passaram a ser acolhidos no Corpo Místico todos os batizados que, revitalizados pela graça e sem deixarem de estar incluídos no mundo, tornaram perpétuo o triunfo de Cristo: “Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). Trata-se, portanto, de uma vitória ininterrupta, mantendo seu rútilo fulgor tal qual no dia de sua Ressurreição, sem uma fímbria sequer de diminuição. Com a Redenção, Cristo lacrou as portas do seio de Abraão depois de ter libertado, de seu interior, as almas que ali aguardavam a entrada no gozo da glória eterna.

(Excerto do livro “O inédito sobre os Evangelhos” Vol I, de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP – Comentário ao Evangelho do Domingo de Páscoa.)

 NOTAS:

1) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.53, a.1.
2) RITO DA MISSA. Oração Eucarística: Prefácio da Páscoa, I. In: MISSAL ROMANO.
Trad. Portuguesa da 2a. edição típica para o Brasil realizada e publicada
pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9.ed. São Paulo: Paulus,
2004, p.421.
3) Idem, Prefácio da Páscoa, II, p.422.
4) Idem, Prefácio da Páscoa, III, p.423.
5) Idem, Prefácio da Páscoa, IV, p.424.

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Veja também: Sábado Santo – O prêmio concedido aos que mais amam

 

Meditação para o Primeiro Sábado de janeiro de 2015

I – Por que Jesus quis ser batizado?

O batismo conferido por São João não era da mesma natureza que o Batismo sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo. Provinha verdadeiramente de Deus, mas não tinha o poder de conferir a graça santificante. O próprio Batista pôs em realce a diferença: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3, 16).

O efeito do batismo de São João consistia num incentivo ao arrependimento dos pecados, explica São Tomás de Aquino.

Ora, em Jesus não havia sequer sombra de pecado, nem poderia haver, uma vez que Ele era o Homem-Deus. Não tinha, portanto, matéria para arrependimento e penitência. O que explica, então, que Ele tenha querido ser batizado?

1 – Sujeitar-se à condição humana

Várias são as razões dadas pelos Padres e Doutores da Igreja.

Eis uma delas: quando o Verbo se fez Homem, Ele quis se sujeitar às leis que regem a vida humana. Por exemplo, obedeceu às leis que estavam em vigor entre os judeus, sendo apresentado no Templo após seu nascimento, sofrendo a circuncisão, e cumprindo os ritos da Páscoa judaica. Assim, quis também receber o batismo penitencial de João. Perdido no meio da multidão, Jesus – inocente – submeteu-se a um rito destinado ao pecador: “Convém cumpramos a justiça completa”, justificou-se Ele perante o profeta.
Comentando essas palavras, Santo Agostinho diz que Nosso Senhor “quis fazer o que ordenou que todos fizessem”. E Santo Ambrósio acrescenta: “A justiça exige que comecemos por fazer o que queremos que os outros façam, e exortemos os outros a nos imitarem pelo nosso exemplo”.

Outra razão reside no fato de que Nossa Senhora veio ao mundo para resgatar todos os homens, vítimas do pecado de Adão, ao aceitar o batismo de penitência, Ele, que nunca pecou e jamais poderia pecar, assumiu simbolicamente o pecado de toda a humanidade! (Leia mais aqui!).

Obs: Se estiver usando o Firefox, dependendo da versão, depois de clicar em (Leia mais aqui!), será preciso procurar o arquivo da meditação na pasta de downloads padrão.

Veja também: Meditação para o Primeiro Sábado de dezembro de 2014

O Pastor ama e conhece profundamente suas ovelhas

A dois mil e treze anos do início da era cristã, num mundo marcado por contínuas mudanças, com evoluções e revoluções, avanços e regressos, guerras e tratados de paz, a voz do Divino Pastor continua a chamar suas ovelhas e atraí-las para junto do Seu celestial rebanho. O Evangelho nunca sairá de moda, ele chegou até nós através do Ungido de Deus, o Cristo (no Grego) ou Messias (pelo hebraico). Por isso, há séculos a Igreja proclama ufana Cristo ontem, hoje e sempre!

De forma profunda, clara e atraente, o presente comentário de Mons. João Clá Dias ao Evangelho de São João recorda-nos eficazmente do amor de Deus para com suas frágeis criaturas.

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, Eu as conheço, e elas Me seguem” (Jo 10, 27).

Mons. João Clá Dias

A Sabedoria infinita de Deus nelas (ovelhas) pensou desde toda a eternidade, para assim melhor Se fazer entender pelos homens no relacionamento entre Criador e criatura. A própria natureza da Judeia facilitava as características desta simbologia usada pelo Divino Mestre. A terra naquelas regiões não era fértil para a plantação, devido aos seus consideráveis trechos pedregosos e um tanto áridos. O pastoreio ali se adaptava mais comodamente do que a agricultura e, assim mesmo, exigia do rebanho um grande número de deslocamentos. Essa situação redundava na necessidade de vigilância e aplicação mais esmeradas do pastor. As circunstâncias tornavam mais nítidas as diferenças entre o autêntico pastor e o mercenário. Deus quis o nascimento da figura do pastoreio e a colocou com destaque na pluma dos literatos. Até os poetas pouco dados a compreenderem a excelsitude da castidade são levados a realçar a pureza virginal do zelo caridoso dos pastores, em geral, por suas ovelhas.

A vida do pastor nos leva a considerar seu amor casto, inocente, governando sem decretos, muito pelo contrário, baseado num relacionamento íntimo, fortemente paternal — talvez melhor se diria maternal — através do qual atende todas as conveniências e necessidades de suas ovelhas. Ele sabe entretê-las, defendê-las, ampará-las, levá-las a pastar e até mesmo agradá-las com seus cantos ou com as melodias de sua flauta. “Ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes” (Jo 10, 3). São Tomás de Aquino ressalta a grande familiaridade existente nesse relacionamento, pois chamar pelo nome significa ter íntima amizade. Ao revertermos os símbolos aos simbolizados, a realidade e a significação se tornam incomparavelmente mais profundas. Cristo conhece a natureza e o ser de cada uma de suas ovelhas, e também o objetivo imediato, tanto quanto o último, para o qual foram criadas, assim como o que são e o que poderão vir a ser com o auxílio de sua graça. Por isso o Doutor Angélico julga ver nesse “chamar pelo nome” (nominatim) “a eterna predestinação, pela qual Deus conhece cada ovelha, cada homem” (São Tomás, Comentario in Io., 10, lec. Iª, 3 – Marietti, p. 280.).

Foto: Vitor Toniolo

O homem, o mais elevado ser percebido por nossos sentidos, não é criado em série. Deus aplica seu poder criador sobre cada pessoa, uma a uma, e por isso não há homens iguais, nem moral nem fisicamente, nem sequer no referente às circunstâncias da vida individual e menos ainda no que tange à vocação pessoal. Daí a profundidade insondável desse conhecimento dispensado por Jesus a cada um de nós, a ponto de compará-lo ao existente entre o Pai e o Filho (Jo 10, 15), ato eterno tão absoluto que, através dele, uma Pessoa divina é gerada pela outra. O conhecimento que o Pai tem do Filho, portanto, não é uma imagem intelectual acidental, como acontece em nós, ao fazermos uso de nossa razão. O conhecimento do Pai é substancial e amoroso, através do qual, por geração, Ele dá sua própria essência ao Filho. Este, por sua vez, com amor substancial e infinito também, restitui ao Pai o que d’Ele recebe; e tão rico é esse amor mútuo que dele procede o Espírito Santo. Ora, aí está o padrão do conhecimento de Jesus a cada um de nós. Por isso nada de nosso exterior ou interior — seja-nos nocivo ou útil, nossas enfermidades físicas ou espirituais, seus remédios, etc. — nada foge à sua onisciência. Não há em Jesus uma fímbria sequer de frieza nesse conhecimento em relação a nós, como Ele mesmo disse e realizou na figura do Bom Pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas.

Por outro lado, as ovelhas seguem o Pastor. Pela sua graça, conhecem as maravilhas que estão n’Ele, sua doutrina dotada de potência, sua vida, sua misericórdia, sua sabedoria, numa palavra, sua humanidade e divindade. E, por isso, ao ouvirem sua voz, elas O seguem, como Saulo no caminho de Damasco (At 9, 5-9) ou como Madalena ao ser chamada pelo nome, junto ao Sepulcro do Senhor (Jo 20, 16). Portanto, ao conhecê-Lo, seguem-No no cumprimento de seus desígnios: “Aquele que diz conhecê-Lo e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele” (1 Jo 2, 4). Quando ouvem sua voz, enchem-se de amor pelo Pastor, a ponto de estarem dispostas a entregar suas vidas por Ele, e ardem do desejo de que Ele inabite em suas almas.

(Excerto do Artigo “Somos todos ovelhas de Jesus?” de Mons. João Clá Dias – Revista Arautos do Evangelho, nº 64, abril de 2007.)

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Veja também: “Enviai o vosso Espírito”

Curso de Teologia promovido pelo Apostolado do Oratório

Missa e almoço de confraternização

Tendo em vista aprofundar a formação doutrinária dos nossos aderentes, teve início em fevereiro do ano passado o Curso de Teologia, promovido pelo Apostolado do Oratório para as famílias participantes do movimento.

O curso é Organizado pelo Instituto Lumen Sapientiae dos Arautos do Evangelho, com a colaboração do Instituto Teológico São Tomás de Aquino da SVA Virgo Flos Carmeli e as aulas são ministradas na casa do Apostolado do Oratório em São Paulo por sacerdotes arautos e professores do referido instituto. A primeira turma contou com a participação de cerca de 90 alunos.

O ano letivo foi encerrado com uma Missa e almoço de confraternização.

Seguem abaixo algumas fotos do evento.

Santa Missa

Guaruja-Teologia confraternização 103     Guaruja-Teologia confraternização 105     Guaruja-Teologia confraternização 107

Guaruja-Teologia confraternização 108     Guaruja-Teologia confraternização 115     Guaruja-Teologia confraternização 141

         Coral do Apostolado do Oratório

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Guaruja-Teologia confraternização 156     Guaruja-Teologia confraternização 166

Confraternização

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Guaruja-Teologia confraternização 194     Guaruja-Teologia confraternização 198     Guaruja-Teologia confraternização 226

Guaruja-Teologia confraternização 228