Na Anunciação do Anjo São Gabriel, Nossa Senhora recebeu a angélica visita em sua casa em Nazaré. Hoje esta mesma casa está na cidade de Loreto, na Itália. Como isso aconteceu? Veremos neste artigo
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria. (Lc 1, 26)
Este acontecimento, talvez o maior de toda a História, deu-se numa humilde casinha, na cidade de Nazaré, na atual Palestina. Ao refletir alguns instantes sobre este fato grandioso, quem não desejaria viajar no tempo e estar ali, num canto, assistindo este marco de toda a História da humanidade? Quem não gostaria de ser uma simples pedra daquelas paredes para poder contemplar este augusto colóquio e ouvir o “sim” dito por Maria ao anjo Gabriel? Quem não exclamaria como a pequena Teresa Martin?:
“A minha emoção foi profunda encontrando-me sob o mesmo teto que a Santa Família, contemplando as paredes sobre a quais Jesus tinha fixado os seus olhos divinos” (SANTA TERESINHA, 1979).
Esta casinha, composta de três paredes que se encaixavam na entrada de uma gruta cavada na rocha, era o local onde vivam Maria e seus pais quando o anjo lhe apareceu. Maria aí fora concebida e nascera. Foi aí também que tivera a revelação do Anjo e onde o plano salvífico do gênero humano começara.
Durante trinta anos aí vivera a Sagrada Família. Esta Santa Casa, ainda hoje se conserva não mais em Nazaré, mas em Loreto, Itália (MURRI, 1791).
Como ela foi transportada por uma distância tão grande, por quem e por quê?
O itinerário da Santa Casa
Era a segunda vigília da noite de 9 ou 10 de maio de 1291, a Santa Casa de Maria apareceu repentinamente na Dalmácia (atual Croácia), às margens do Adriático, entre Tersato e Fiume[1], no monte Rauniza. De manhã a surpresa dos habitantes e peregrinos, cada vez em maior número, era indescritível: de onde e como apareceu repentinamente lá aquela Casa?
Feita de pedras vermelhas e quadradas, arquitetura desconhecida na região, era certamente uma construção de forma oriental, claramente antiga. Como é que se mantinha em pé toda aquela mole, pousada na terra nua, sem quaisquer fundações? O estupor ainda foi maior quando o povo viu o seu pastor, o Bispo Alexandre, nativo de Modruzia, aparecer diante da misteriosa casa. Todos sabiam que ele estava gravemente doente. Mas fora misteriosamente curado: à noite, no seu leito de dor, a Santíssima Virgem lhe havia aparecido e revelado que aquela era a sua Santa Casa.
O governador local, Nicolau Frangipane, nomeou uma comitiva de deputados, entre eles Sigismundo Orsich e João Grégoruschi, além do próprio bispo Alexandre, para irem a Nazaré, na Palestina, e averiguar os fatos.
Verificaram que não existia mais em Nazaré a casa que, desde a época apostólica era tida por todos como a Casa da Sagrada Família.
As fundações que lá restavam não tinham nenhuma diferença com a construção que havia aparecido em Tersato. As dimensões eram perfeitamente iguais. Tudo confirmado por escrito e sob juramento.
Três anos e meio depois, em decorrência de acontecimentos que todos julgaram indignos da gratidão e reverência que se deveria prestar, a Santa Casa desapareceu.
No monte Rauniza, o governador mandou erigir uma capela, onde se podia ler:
“Aqui é o lugar onde outrora esteve a Santíssima Casa da Bem-Aventurada Virgem”. E no caminho que dava acesso ao local gravou-se: “Santa Casa da Bem-aventurada Virgem veio a Tersato no dia 10 de maio de 1291 e retirou-se no dia 10 de dezembro de 1294” (ROHRBACHER, 1858).
Segundo narra a tradição difundida há séculos a toda a Cristandade, creditada por inúmeras provas históricas e arqueológicas, a Santa Casa da Virgem Maria foi transportada miraculosamente, por vontade de Deus, de Nazaré, na Galiléia a Tersato em 1291, e depois a uma colina da cidade de Ancona, onde permaneceu por nove meses e finalmente em Recanati, no local hoje chamado Loreto, em 1294.
Um testemunho deixado por Girolamo Angelita, arquivista da cidade de Recanati de 1509 a 1561, confirma a data da chegada da Santa Casa em Tersato, na Dalmácia, em 9-10 de maio de 1291 e fixa a sua chegada em Loreto em 9-10 de dezembro de 1294. Angelita baseou-se numa “schedula”, um extrato de um documento dos “Anais de Fiume”, no qual era narrada a história da milagrosa transladação da Santa Casa à Dalmácia, “por ministério angélico” (NICOLINI, 2004).
Segundo NICOLINI aos habitantes da cidade de Recanati informaram ao Papa Leão X sobre esta “schedula” recebida de Tersato. Por esta razão, certamente o Papa afirmou ser a história da transladação milagrosa da Santa Casa de Nazaré-Tersato-Loreto, comprovada por “testemunhos dignos de fé” (LEÃO X, 1518).
Comprovações arqueológicas[3]
As três paredes que compõem a Santa Casa estavam conectadas à entrada de uma Gruta em Nazaré. As experiências de estudiosos e arqueológicos, especialmente MONELLI (2001) realizadas na Gruta, que ainda hoje é venerada, na Basílica da Anunciação, em Nazaré, comprovam que as três pareces se conectam perfeitamente à base ainda existente no local. As pedras utilizadas na construção da Casa são trabalhadas segundo o uso dos Nabateus[4], um povo que teve influência na Galiléia até o tempo de Jesus. Sobre as pedras ainda se conservam gráficos e incisões típicos da comunidade judaico-cristã presentes somente na Palestina.
Segundo o testemunho do Beato Giovanni Spagnuoli (conhecido também o “il Mantovano”) havia na entrada do Santuário de Loreto uma antiqüíssima lápide, onde estava impressa a história da milagrosa transladação (FRANCESIA, 1894).
O insigne arquiteto Federico Mannucci, encarregado pelo Papa Bento XV de examinar as fundações da Santa Casa, por ocasião da reforma do pavimento, após o incêndio de 1921, escreveu e declarou peremptoriamente, no seu “Relatório” de 1923, que é “absurdo somente cogitar” que o sacello [5] possa ter sido transportado “com meios mecânicos”, e revelou que:
“É surpreendente e extraordinário o fato de que o edifício da Santa Casa não tendo nenhum fundamento, situado sobre um terreno de nenhuma consistência, desfeito e sobrecarregado, ainda que parcialmente, pelo peso da armação construída no lugar do teto, se conserve inalterado, sem ter cedido em nada e sem ter sequer uma mínima rachadura nas paredes” (MANNUCCI, 1923).
O arquiteto Mannucci traçou ainda, em síntese, as seguintes conclusões:
1) as paredes da Santa Casa de Loreto são formadas com pedras da Palestina, e cimentadas com argamassa lá utilizada;
2) é absurdo somente cogitar num transporte mecânico;
3) a construção da Santa Casa no lugar onde se encontra se opõe a todas as normas de edificação e às próprias lógicas físicas.
O estudo sobre o translado da Casa da Virgem Maria é longo e excede por demais o espaço de um post. Acreditamos que o exposto até aqui seja suficiente para ilustrar o espetacular milagre.
Entretanto, para aqueles que desejarem aprofundar sobre o assunto, disponibilizamos abaixo o documento completo.
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