Quando a poesia se soma à súplica orante e a teologia, em termos que atingem todos os fiéis, dos mais instruídos aos mais simples, torna-se especialmente atraente, pastoral e útil
Pe. Rafael Ramón Ibarguren Schindler*, EP
É nessa composição (poesia, suplica e teologia) que se reúnem os transcendentais do ser, assim chamados por São Tomás de Aquino: a unidade, a verdade, o bem e a beleza, que em latim chamamos de unum, verum, bonum e pulchrum.
Bem, essa introdução é para apresentar e dar valor a um modesto soneto – e quem disse que a modéstia se opõe à qualidade? – de autoria de uma poetisa contemporânea, a asturiana Emma Margarita R. A. Valdés, que soube, com muita categoria, retratar um drama contemporâneo: a inconsequência dos fiéis em relação à presença real do Senhor no Santíssimo Sacramento.
A seguir, o poema eucarístico com sua ciência, rima e medidas impecáveis em seu idioma original**. A tradução segue no final.
¡Qué milagro se ofrece cada día
ante la humanidad indiferente!,
todo un Dios, infinito, omnipotente,
da su cuerpo, cosecha de agonía.
Nos espera en amante cercanía
como agua, vino y pan, limpio torrente,
zumo añejo de paz, viva semiente,
alimento de célica alegría.
¡Qué humildad!, en el fruto consagrado
está Dios, el espíritu inmortal,
en silencioso amor esclavizado.
Olvidó su dolor, nuestro pecado,
nos ofrece su reino celestial,
y le dejamos solo, abandonado.
Das ideias contidas nestes versos, vamos nos deter naquele que inicia o poema e no qual serve de conclusão. Ali é retratada com precisão, a que limites a luz da razão na humanidade se apaga; e se não está extinta em toda a humanidade, pelo menos em incontável número de batizados. A luz da razão, sim, porque, se esta não for exercitada, aguçando seu senso crítico e extraindo das premissas percebidas as consequências que se impõem, ela se extingue.
Nos versos citados, deve-se dizer que não é apenas “um milagre todos os dias”, como se diz: há centenas, senão milhares de milagres … a cada minuto, diante de uma humanidade indiferente e incrédula.
O fim dos versos chega a dilacerar a alma, porque nos diz que um reino de felicidade eterna é desprezado em troca de ninharias efêmeras.
Essa é a resposta miserável, nossa resposta miserável, ao “silencioso amor escravizado” que se oculta sob as aparências do pão nos tabernáculos abandonados e desprezados.
Além disso, diante do Senhor exposto na custódia abandonada e desprezada, precisamente quando Ele mostra seu infinito amor pelos homens.
Diante desta incongruência, convém rezar em reparação a oração que o Anjo de Portugal ensinou aos pastorinhos de Fátima:
“Senhor, creio, adoro-te, amo-te e espero; e peço seu perdão para aqueles que não acreditam, não adoram, não te amam e não esperam.”
E fazer o propósito de, na medida do possível, ir o quanto antes a presença do Senhor no Sacramento em um tabernáculo próximo, para reparar a onda de irracionalidade que nos cerca.
Buenos Aires, outubro de 2018
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*Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas e da Igreja.
**Que milagre é oferecido todo o dia
ante a humanidade indiferente!
um Deus inteiro, infinito, onipotente,
Ele dá seu corpo, colheita de agonia.
Nos espera em amorosa cercania
como água, vinho e pão, cristalina torrente,
licor antigo de paz, viva semente,
alimento de celeste alegria.
Que humildade, no fruto consagrado
Está Deus, o espírito imortal
em silencioso amor escravizado.
Esquecendo sua dor, nosso pecado
Ele nos oferece seu reino celestial,
e nós o deixamos só, abandonado.
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