Meditação para o Primeiro Sábado de julho

(Preparação do texto para a meditação: J. B. Gioffi)

Vamos dar inicio a meditação reparadora do primeiro sábado, que nos foi indicada por Nossa Senhora, quando apareceu em Fátima no ano de 1917. Pedia Ela que comungássemos, rezássemos um terço, fizéssemos meditação dos mistérios do Rosário e confessássemos em reparação ao seu Sapiencial e Imaculado Coração. Para os que praticassem esta devoção, Ela prometia graças especiais de salvação eterna. A meditação visa contemplar um dos mistérios do Rosário, fazendo com que o Coração Imaculado de Maria se sinta aliviado, se sinta reparado de tantos pecados de tantos horrores, de tantas imoralidades, tantos delírios que se cometem nos dias de hoje. Ou seja, é importante que além da confissão, da comunhão, além do terço que rezamos, meditemos, considerando todas as maravilhas que Deus operou na sua alma santíssima.

 

Cristo AmiensTerceiro mistério luminoso:

 

Anuncio do Reino de Deus e o convite à conversão.

 

“Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho de Deus e dizia: completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho.” 
 (Mc. 1, 14-15)

 

 

Oração Inicial

Oh! Virgem Santíssima, queremos reparar o Vosso Sapiencial Coração e para isso pedimos especiais graças, por causa de tantas ofensas que recebeis continuamente desta humanidade que se encontra perdida entre tantos pecados e tantos horrores.
Assim sendo, Senhora, é também através desta meditação que poderemos aproximar de nosso fim último, aquele para o qual fomos criados. Para isso, pedimos luzes especiais para a nossa inteligência, entusiasmo para nossa vontade, consolação para a nossa sensibilidade, a fim de contemplarmos bem este mistério do Rosário que hoje vamos meditar; e estejais presente, Senhora, a cada passo da nossa vida.
Assim seja!

 

 I – O que vém a ser o Reino de Deus?


Buen Dieu“Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!”
(Mc. 1, 27)

 

Curava estas e aquelas doenças com tal eficácia, que nenhum médico, hospital ou qualquer medicamento conseguia fazer igual.

Curava, perdoava os pecados, expulsava os demônios ensinando que era preciso todos se preparassem porque o Reino de Deus estava próximo.

Mas o que é propriamente este Reino? Vamos nos aprofundar no conhecimento e significado exatos do que possa ser este Reino.

Os judeus a partir do ano 587 perderam o seu último rei. Desta data até a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, não tiveram mais um governo independente, com exceção de um curto período na época dos Macabeus. Por isso, o que os judeus mais queriam era a restauração de um reino humano. Contudo não era deste reino que Jesus falava; Ele se referia ao Reino da Graça, ao Reino da Igreja Católica, ao Reino da Glória. Quando falamos em Reino de Deus, devemos nos lembrar das palavras de Jesus a Pilatos: “Meu Reino não é deste mundo…” De fato, o reino deste mundo não é o d’Ele, o Reino de Jesus neste mundo está oculto no interior das almas, e na sua aparência, está na Igreja Católica, mas não como um governo humano.

Vamos meditar o que constitui o verdadeiro Reino de Deus: o reino da Graça na Igreja.

1 – O Reino da Graça!

O que é a graça? Segundo o Catecismo, é um dom gratuito criado por Deus, infundido na alma do homem e que nos faz participar física e formalmente de Deus.

Na relação pais/filhos temos duas figuras de filiação: a natural e a adotiva. O que é a  adoção? Uma família tem um filho e o quer entregar aos cuidados de uma outra família. O que fazem? Ambas famílias vão ao Cartório e a 1ª família passa seus direitos sobre a criança para a 2ª família. Aquela criança que tem seu sangue e sua origem em seus pais, passa juridicamente a pertencer àquela família que a adotou. Mas com a criança nada acontece, ela continua  a ser a mesma e é possível que mais tarde esta criança queira conhecer os seus verdadeiros pais, de tal maneira está ligada a eles.

Por ocasião do batismo o sacerdote derrama água sobre a cabeça da criança dizendo: eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; o que se passa nesse momento? Não é um registro de documento feito em Cartório; a criança já não é mera criatura, ela, a partir deste momento, recebe o título de filha de Deus. Neste ato passa-se algo na alma da própria criatura que é um verdadeiro milagre – ela passa a participar da natureza divina. Seria mais ou menos como tomar uma formiga e fazê-la participar da natureza humana. No entanto, é  muito menos fazer uma formiga passar pertencer à natureza humana, do que aquela criança passar a participar da vida divina. Ela passou a ter a vida de Deus em si; nela são infundidas todas as virtudes, todos os dons; ela passa a participar dos méritos de Jesus Cristo.

Antes do Batismo toda criatura está fora da lei da graça, pois, este é o estado de todos aqueles que não receberam esse sacramento. Toda criatura carrega consigo o pecado Original, e assim sendo, é rejeitada por Deus. Entretanto, recebendo o Batismo esta condição muda totalmente – os teólogos não encontraram uma metáfora para explicar o que acontece neste momento – mas dá-se, mais ou menos como se todo o sangue da criança fosse retirado por uma das veias, e por outra fosse introduzido o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela passa a participar da divindade a partir deste momento, tornando-se assim, realmente filha de Deus. Com isso penetra na alma dela como Pai e como Amigo a Deus uno e trino – Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Ela passa a ser tabernáculo de Deus, a tal ponto, que nos primeiros tempos do Cristianismo não era só a Bíblia, não era só o altar, que eram usados para se fazer os juramentos, eram tomadas, não poucas vezes, as crianças recém-batizadas e as partes faziam o juramento colocando a mão sobre o peito desta criança, para atestar diante da Santíssima Trindade o que estavam falando era a verdade. Essa era a noção que se tinha, que Deus nela estava presente.

2 – Exemplos: conversa com Nicodemos e a samaritana.

Quando Jesus conversa com Nicodemos,diz a ele que se não renascesse de novo, não teria a vida. Para renascer, era preciso que a vida divina penetrasse nele.

Mais claro ainda será Jesus com a samaritana, quando diz que ela daria a Ele uma água que possibilitava matar a sede, mas que Ele poderia dar uma outra água, que uma vez bebida, a pessoa não tornaria a ter mais sede.

Muito mais do que os exemplos de Nicodemos e da samaritana, nós vamos encontrar esta vida bem expressa naquela cena em que os Apóstolos – que estavam acostumados com São João Batista a aprender esta ou aquela oração – voltam-se para Nosso Senhor e pedem que os ensinassem a rezar. Jesus dá a eles a mais bela, a mais perfeita, a mais extraordinária das orações:  “Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome. Venha a nós o Vosso Reino…”. Aí está o Reino de Deus proclamado no Pai Nosso – Venha a nós o Vosso Reino.      É este o desejo que devemos ter: que o Reino que existe na Glória, se estabeleça também sobre a face da Terra. Sobretudo que este Reino se estabeleça, se efetue, se torne forte, no fundo dos nossos corações.          

Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como ela é feita no Céu. Portanto, que a vontade de Deus tal qual ela é no Céu, seja estabelecida também neste mundo.

 

II – O alimento do Reino de Deus !

Ficará ainda mais claro o que é este Reino da Graça, na descrição feita por São João, a respeito da maravilhas da Eucaristia, no sermão feito por Nosso Senhor.

Evangelho de João 6, 35, 51, 54 –  “Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede.”  * “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo”. * “Quem como a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”.

Vemos nestas citações que o  Reino de Deus e o Reino da Graça, é a graça vivendo em nós; é a graça que começa com o Batismo, que se fortifica com a Crisma. É a graça que cresce quando nos alimentamos com a sagrada Eucaristia Para isso, Nosso Senhor deixou-se ficar em Corpo, Alma e Divindade, debaixo das espécies eucarísticas, para aumentar esse Reino de Deus que existe dentro de cada de nós.

No entanto esse Reino tem um grande adversário: o pecado. Por isso, devo fazer de tudo para evitar o pecado, a fim de manter vivo no fundo de minha alma esse Reino.

É uma loucura o pecado; ele nos traz muitas vezes um prazer fugaz, são trinta segundos, um minuto, depois o que acontece comigo? Perco o Reino de Deus, deixo de participar da natureza divina, volto ao meu estado de maldição, porque quem peca se torna inimigo de Deus. Entretanto Ele é tão misericordioso que nos deixou o sacramento da Penitência. Depois de uma confissão bem feita, tudo o que tínhamos perdido, nos é devolvido.                                                

1 – Ponto de reflexão:

Nós fomos criados não para viver neste mundo. Os adoradores deste mundo quereriam perpetuar sua existência, ainda que sofrendo, para poder gozar sem limites as alegrias fugazes, que se evaporam com toda a facilidade. Nós somos criados para uma alegria eterna, para a glória eterna.

Diz o Evangelho que na casa do Pai há muitas moradas, “se não fosse assim eu vô-lo diria”. Mais adiante Jesus diz: quando eu estiver ido, e vos tenha preparado um lugar, de novo retornarei e vos tomarei comigo, para que, onde eu estou, estejais também vós. A palavra de Jesus é lei, se Ele disse que vai preparar, é porque vai preparar mesmo e Ele tem preparado para cada um de nós um lugar no céu.

Ele disse que voltará para nos levar para o céu –  é o que acontece com aquele que morre na graça de Deus, Ele o toma e leva para o lugar que lhe preparou, desde toda a eternidade.      

Em vista de tudo isso quanto vale a pena evitar o pecado, porque se eu peco o que pode me acontecer? De repente um carro me pega, uma bala perdida me atravessa, e eu me apresento diante de Deus em estado de pecado. Por isso, devo ter um amor a Deus intenso e crescente,  para que eu possa também ter um gozo junto a Ele que nunca se acabará.

 

Oração Final

Oh! Rainha do céu e da terra, Vós que sois soberana deste Reino tão maravilhoso que é o Reino da Graça, o Reino da Igreja, que é o Reino da Glória, tende misericórdia, tende bondade, perdoai as minhas faltas; daí-me graças para nunca pecar, daí-me graças de compreender as belezas que perderei se sucumbir quando o demônio me tentar para praticar o que não é licito, daí-me a graça de sempre me afastar do mal; que eu não tenha delírios por aquela roupa imoral, que eu não tenha delírios por aquele pecado horroroso, mas, pelo contrário, que eu me deixe tomar, me entusiasmar, pelas maravilhas do céu, para as maravilhas para as quais me criastes; Senhora! Eu quero estar convosco no céu; daí-me esta graça. Assim seja!!!

(Meditação – 1º de julho de 2006 -Mons. João S.Clá Dias – Catedral da Sé, São Paulo.)

 

A vitória de Cristo sobre a morte

 

O Fundador comenta…

Monsenhor JoãoMons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Tomados de adoração, uma vez mais acompanhamos ao longo da Semana da Paixão, o quanto a morte teve uma aparente vitória no Calvário.

Todos que por ali passavam podiam constatar a “derrota” de Quem tanto poder havia manifestado não só nas incontáveis curas por Ele operadas, como também em Seu caminhar sobre as águas ou nas duas vezes em que multiplicou os pães. Os mares e os ventos Lhe obedeciam, e até mesmo os demônios eram, por sua determinação, desalojados e expulsos. Aquele mesmo que tantos milagres prodigalizara havia sido crucificado entre dois ladrões…

Porém, a maneira pela qual fora removida a pedra do sepulcro e o desaparecimento dos guardas, eram de si, uma prova sensível do quanto havia sido derrotada a morte, conforme o próprio São Paulo comenta: “A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Cor 15, 55).

Os fatos subseqüentes tornaram ainda mais patente a triunfante Ressurreição de Cristo e a vitória, não só sobre Sua própria morte, como também sobre a nossa. Ele é a cabeça do Corpo Místico e, tendo ressuscitado, trará necessariamente a nossa respectiva ressurreição, pois esta nos é garantida pela presença dEle no Céu, apesar de estarmos, por ora, submetidos ao império da morte. De maneira paradoxal, aquele sepulcro violentamente aberto a partir de seu interior, deu à morte um significado oposto, passou ela a ser o símbolo da entrada na vida, pois Cristo quis “destruir pela sua morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio”, e assim libertar os que “estavam em escravidão toda a vida” (Hb 2, 14).

São Paulo tem sua alma transbordante de alegria em face da realidade da Ressurreição de Cristo e nela encontramos nosso triunfo sobre a morte, tal qual ele próprio nos diz: “E assim como todos morreram em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Cor 15, 22).

Posteriormente, não só o demônio e a morte, mas o próprio mundo foi derrotado: inúmeros pagãos passaram a se converter e muitos entregaram a própria vida para defender a cruz, animados pelas luzes da ressurreição do Salvador. Em função dela, passaram a ser acolhidos no Corpo Místico

todos os batizados que, revitalizados pela graça e sem deixarem de estar incluídos no mundo, tornaram perpétuo o triunfo de Cristo: “Tende confiança! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33).

Trata-se, portanto, de uma vitória ininterrupta, mantendo seu rútilo fulgor tal qual no dia de Sua ressurreição, sem uma fímbria sequer de diminuição. Com a redenção, Cristo lacrou as portas do seio de Abraão depois de ter libertado, de seu interior, as almas que ali aguardavam a entrada no gozo da glória eterna.

Essas são algumas considerações que nos facilitam compreender o porquê de ser a Páscoa da Ressurreição a festa das festas, a solenidade das solenidades, pois o mistério nela presente é de suma importância para a história da Cristandade, tal como afirma São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1 Cor 15, 14).

Podemos afirmar também ser a Ressurreição a festa de nossa esperança, pelo fato de nela encontrarmos não só o extraordinário triunfo de Cristo, como também o nosso próprio, pois se Ele ressurgiu dos mortos, o mesmo se passará

conosco. E é em vista desse futuro triunfo nosso que desde já nos é feito o convite para abandonarmos os apegos a este mundo, sem olhar para trás, fixando nossa atenção nos absolutos celestes, conforme nos aconselha o Apóstolo: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com Ele na glória” (Cl 3, 1-4).

Aí está mais uma maravilha a aumentar a nossa esperança de que alcançaremos a verdadeira e eterna felicidade, garantida pelo próprio Cristo Ressurrecto.

(Extraído do Boletim-informativo “Maria Rainha dos Corações”, nº 40)