Em sua primeira infância não lhe faltaram manifestações precoces de profunda religiosidade, preferindo uma imagem de Nossa Senhora sobre qualquer outro brinquedo. Com apenas quatro anos, não era raro encontrá-lo rezando no celeiro
Ir. Lucilia Lins Brandão Veas, EP
São João Batista Maria Vianney nasceu na aldeia francesa de Dardilly, não longe de Ars, em 8 de maio de 1786, pouco antes de eclodir a Revolução Francesa.
Sobrevieram os terríveis anos do Terror. Ainda que este não tenha feito muitos mártires em Dardilly, os objetos religiosos precisaram ser escondidos e o pároco do lugar foi substituído por um sacerdote juramentado, cujos sermões de cunho político acabaram por afastar os aldeães da frequência à igreja.
Quando em 1800 as igrejas foram reabertas, João conheceu em Écully, vila próxima a Dardilly, o Pe. Charles Balley, homem virtuoso que discerniu sua vocação sacerdotal e não poupou esforços por vê-la desabrochada, ajudando-o ao longo dos anos de preparação. Conta-se que o jovem camponês fora reprovado nos primeiros exames para a ordenação, pois os estudos lhe eram muito penosos. Mas seu esforço venceu todas as dificuldades.
Sacerdote santo
Tendo sido ordenado em 13 de agosto de 1815, foi destinado à paróquia de Écully, como coadjutor do Pe. Balley.
Após a morte do Pe. Balley, o Pe. João Vianney foi enviado como pároco a Ars, talvez o último e menos importante vilarejo da França. Chegando a Ars, ele se depara com um panorama desolador: a Revolução havia conseguido que os habitantes daquela aldeia se tornassem licenciosos em seus costumes e, privados de toda formação religiosa, se afastassem da Fé.
Porém, algum tempo depois, o Pe. Vianney passou a atrair multidões. Já não eram só os paroquianos que acorriam à igreja, senão também fiéis vindos de toda a redondeza. Não raras vezes chegava a ficar até vinte horas no confessionário. Milagres sem conta poderiam ser aqui relatados: conversões de pecadores empedernidos, tíbios que recuperam o fervor, pessoas muito afastadas da Religião retornam à casa do Pai. Possuindo o dom de discernimento dos espíritos, indicava aos penitentes pormenores das circunstâncias vividas e podia conhecer as disposições de cada um. Por isso, amiúde negava a absolvição aos que não queriam realmente se emendar.
Consumido pela missão sacerdotal
Com quase sessenta anos, sua entrega sem reserva à missão sacerdotal tornava um verdadeiro milagre o fato de sua existência. Um médico que o examinara chegou a afirmar que, “com a vida que levava, ‘a ciência não podia explicar como é que permanecia vivo’”.1 Nem mesmo o mais indispensável para sobreviver ele se concedia e nunca parava para dar-se um repouso. Em várias ocasiões, ao “subir ao púlpito ou descer ao confessionário, viam-no vergar-se; parecia, por um momento, estar perdendo a substância. Mas de repente a sua missão o reerguia, a graça voltava a enchê-lo até a borda, o sacerdote ressuscitava o homem. Continuava perfeitamente lúcido, tão pronto nas respostas e tão seguro nos conselhos”.2
Alquebrado pela fadiga e pelo trabalho, na madrugada do dia 4 de agosto, sem espasmos, sem agonia, sem violência, João Batista Maria Vianney adormecia no Senhor. Entrava no Paraíso, para gozar do convívio com Aquele cujo amor o sustentara em sua exemplar vida de sacerdote.