IV Domingo da Quaresma
(Domingo Lætare)
Ao operar o milagre da cura de um cego de nascença, Nosso Senhor Jesus Cristo mostra que há cegueira pior que a dos olhos corporais: a da alma, que impede o desenvolvimento da luz sobrenatural infundida em nossas almas pelo Batismo
Mons. João S. Clá Dias, Fundador dos Arautos do Evangelho e do Apostolado do Oratório
Nesta vida terrena, temos na alma apenas uma semente de visão beatífica. Mas, ao passarmos para a eternidade, ela se desenvolverá como uma árvore, e desaparecerão por completo os véus que cobrem a fé e a esperança, e veremos a Deus face a face. A Liturgia do 4º Domingo da Quaresma, Domingo da Alegria, nos traz a jubilosa esperança da plena posse dessa visão.
O trecho do Evangelho deste domingo apresenta Nosso Senhor pouco depois de sair do Templo, onde acabara de ter uma das mais ardentes polêmicas com os fariseus, encerrada por Ele com uma solene declaração de sua divindade, ao afirmar com fórmula de juramento: “Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão fosse, Eu sou” (Jo 8, 58). Os fariseus “pegaram então em pedras para Lhas atirar” (Jo 8, 59). Tinham a intenção de matá-Lo, mas não conseguiram, pois Ele Se esquivou e saiu do Templo, “porque ainda não era chegada sua hora” (Jo 8, 20).
Logo após essa dramática cena, Jesus fez diante de todo o povo o estrondoso milagre que servirá para confirmar a veracidade de suas palavras a respeito de sua sobrenatural origem.
Naquele tempo, 1 ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. 2 Os discípulos perguntaram a Jesus: “Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?” 3 Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele. 4 É necessário que nós realizemos as obras d’Aquele que Me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, em que ninguém pode trabalhar. 5 Enquanto estou no mundo, Eu sou a Luz do mundo”. 6 Dito isto, Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. 7 E disse-lhe: “Vai lavar-te na piscina de Siloé” (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando. 8 Os vizinhos e os que costumavam ver o cego — pois ele era mendigo — diziam: “Não é aquele que ficava pedindo esmola?” 9 Uns diziam: “Sim, é ele!” Outros afirmavam: “Não é ele, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo!” 10 Então lhe perguntaram: “Como é que se abriram os teus olhos?” 11 Ele respondeu: “Aquele homem chamado Jesus fez lama, colocou-a nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Então fui, lavei-me e comecei a ver”. 12 Perguntaram-lhe: “Onde está Ele?” Respondeu: “Não sei”. 13 Levaram então aos fariseus o homem que tinha sido cego. 14 Ora, era sábado, o dia em que Jesus tinha feito lama e aberto os olhos do cego. 15 Novamente, então, lhe perguntaram os fariseus como tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: “Colocou lama sobre meus olhos, fui lavar-me e agora vejo!” 16 Disseram, então, alguns dos fariseus: “Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado”. Mas outros diziam: “Como pode um pecador fazer tais sinais?” 17 E havia divergência entre eles. Perguntaram outra vez ao cego: “E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?” Respondeu: “É um profeta”. 18 Então, os judeus não acreditaram que ele tinha sido cego e que tinha recuperado a vista. Chamaram os pais dele 19 e perguntaram-lhes: “Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora está enxergando?” 20 Os seus pais disseram: “Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego. 21 Como agora está enxergando, isso não sabemos.
Cristo dispôs tudo para sua glória
Naquele tempo, 1 ao passar, Jesus viu um homem cego de
nascença. 2 Os discípulos perguntaram a Jesus: “Mestre, quem
pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?” 3 Jesus
respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve
para que as obras de Deus se manifestem nele. 4 É necessário
que nós realizemos as obras d’Aquele que Me enviou, enquanto
é dia. Vem a noite, em que ninguém pode trabalhar. 5 Enquanto
estou no mundo, Eu sou a Luz do mundo”.
A crença de que os males físicos eram sempre consequência de algum pecado estava muito arraigada não só nos judeus, mas também nos povos pagãos contemporâneos de Cristo. “Em diversas ocasiões” ― escreve Fillion ― “o próprio Jesus parecia ter considerado como castigo do pecado algumas das enfermidades por Ele curadas”.5 E São João Crisóstomo6 observa que certa feita, depois de haver curado um paralítico, Ele o advertiu: “já não peques, para não te acontecer coisa pior” (Jo 5, 14), dando a entender assim que o pecado havia sido causa daquela doença.
No presente caso, porém, declara taxativamente o Mestre que essa cegueira foi permitida desde toda a eternidade, para dar ensejo à manifestação de seu poder divino sobre a natureza. E, como veremos pouco abaixo, esse milagre foi também a misericordiosa oportunidade para o cego receber a graça da conversão; junto com a luz natural, veio-lhe a fé n’Aquele que é a Luz do mundo.
A didática de um grandioso milagre
6 Dito isto, Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e
colocou-a sobre os olhos do cego. 7 E disse-lhe: “Vai lavar-te na
piscina de Siloé” (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se
e voltou enxergando.
Causa surpresa o fato de Jesus cuspir no chão, fazer lama, passar nos olhos do doente e depois dar-lhe ordem de ir lavar-se. Ora, Ele poderia ter operado esse milagre mediante um simples olhar ou um ato de vontade, como mais tarde fará com outro cego — o de Jericó — a quem Jesus disse: “Vê!” (Lc 18, 42). No entanto, quis sarar o cego de nascença aplicando-lhe barro sobre os olhos e mandando-o lavar-se na piscina de Siloé. Bem observa, a este propósito, o mesmo São João Crisóstomo:
“Cuspiu no chão para eles não atribuírem um poder milagroso à água dessa piscina e para entenderem que saiu de sua boca a misteriosa energia que regenerou os olhos do cego e os abriu. É por isso que o Evangelista diz: ‘Fez lama com a saliva’. Em seguida, para evitar que se pensasse num poder secreto da terra, mandou-o ir lavar-se”.
Primeiro quis o Divino Mestre que todos os circunstantes vissem o cego com barro nos olhos, e isso, certamente, causou viva impressão. Em seguida, ao retornar o homem curado, ficaria patente perante eles quem era o Autor da cura. Para um povo duro de coração como aquele, era preciso não haver dúvida a tal respeito. Daí ter Jesus utilizado a própria saliva, misturando-a com a terra, duas matérias incapazes por si de operar a cura, ressaltando provir d’Ele o poder sobrenatural. Pode-se observar que os detalhes do episódio foram divinamente dispostos para produzir nos presentes o grande efeito narrado pelo Evangelista.
Por sua vez, o cego acreditou na palavra de Jesus. Não pensou, por exemplo, em quantas vezes já se lavara na piscina de Siloé, sem se curar, nem se aquela lama poderia prejudicar ainda mais sua saúde. Comenta ainda São João Crisóstomo: “Note-se como o cego tinha a disposição de obedecer em tudo. […] seu único objetivo foi o de obedecer a quem lhe ordenava. Nada pôde dissuadi-lo, nada constituiu obstáculo”. Ele fez exatamente o que Nosso Senhor mandara, e foi recompensado.
Má vontade diante do milagre patente
8 Os vizinhos e os que costumavam ver o cego — pois ele era
mendigo — diziam: “Não é aquele que ficava pedindo esmola?
” 9 Uns diziam: “Sim, é ele!” Outros afirmavam: “Não é ele, mas
alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo!”
10 Então lhe perguntaram: “Como é que se abriram os teus
olhos?” 11 Ele respondeu: “Aquele homem chamado Jesus fez
lama, colocou-a nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e
lava-te’. Então fui, lavei-me e comecei a ver”.
12 Perguntaram-lhe: “Onde está Ele?” Respondeu: “Não sei”.
Um fato tão extraordinário como este foi motivo de grande sensação, comentários e discussões entre “os vizinhos e os que costumavam ver o cego” pedindo esmolas. O sintético relato evangélico não especifica se houve manifestações de entusiasmo, de incredulidade ou de ódio. Contudo, parece certo que a primeira reação de alguns foi, pelo menos, de ignorar a evidência da cura milagrosa. Indício disso é o tom reservado das respostas do feliz beneficiário do milagre.
Má-fé e dureza de coração dos fariseus
13 Levaram então aos fariseus o homem que tinha sido cego. 14 Ora,
era sábado, o dia em que Jesus tinha feito lama e aberto os olhos
do cego. 15 Novamente, então, lhe perguntaram os fariseus como
tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: “Colocou lama sobre
meus olhos, fui lavar-me e agora vejo!” 16 Disseram, então, alguns
dos fariseus: “Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o
sábado”. Mas outros diziam: “Como pode um pecador fazer tais
sinais?” 17 E havia divergência entre eles. Perguntaram outra
vez ao cego: “E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?”
Respondeu: “É um profeta”. 18a Então, os judeus não acreditaram que ele tinha sido cego e que tinha recuperado a vista.
A par do desentendimento instalado entre os fariseus a propósito do acontecimento, esses versículos tornam patentes dois aspectos do estado de espírito deles. A má-fé: pouco se importando com o favor dispensado por Nosso Senhor ao infortunado cego, proferem contra Ele a desgastada censura de violação do sábado. E a dureza de coração: mesmo diante da evidência, negam-se a acreditar em Jesus e inquirem o mendigo, não para apurar a verdade, mas na esperança de conseguir um testemunho hostil ao Divino Mestre. “Interrogam-no acerca da visão obtida, não para saber, mas para forjar uma calúnia e impor falsidade”, comenta São Tomás. O ex-cego, pelo contrário, faz diante deles um ato de fé em Jesus: “É um profeta”.
Como se esquivam os pais do cego
18b Chamaram os pais dele 19 e perguntaram-lhes: “Este é o vosso
filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora está
enxergando?” 20 Os seus pais disseram: “Sabemos que este é nosso
filho e que nasceu cego. 21 Como agora está enxergando, isso
não sabemos. E quem lhe abriu os olhos também não sabemos.
Interrogai-o, ele é maior de idade, ele pode falar por si mesmo”.
22 Os seus pais disseram isso, porque tinham medo das autoridades
judaicas. De fato, os judeus já tinham combinado expulsar da comunidade quem declarasse que Jesus era o Messias. 23 Foi por isso que seus pais disseram: “É maior de idade. Interrogai-o a ele”.
Não tiveram dificuldade os pais do cego em perceber a malícia e o ódio que imperavam nesse inquérito dos fariseus. E tinham motivos de sobra para temê-los, pois a expulsão da sinagoga poderia ter graves consequências no campo civil, como o desterro e o confisco dos bens. Por isso preferiram cortar qualquer possibilidade de fazer algum pronunciamento a respeito de Jesus: “Não sabemos, perguntai ao nosso filho, ele é maior de idade”.
Contraste entre o ódio dos fariseus e a sabedoria do mendigo
24 Então, os judeus chamaram de novo o homem que tinha
sido cego. Disseram-lhe: “Dá glória a Deus! Nós sabemos
que esse homem é um pecador”. 25 Então ele respondeu: “Se
Ele é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo”.
26 Perguntaram-lhe então: “Que é que Ele te fez? Como te
abriu os olhos?” 27 Respondeu ele: “Eu já vos disse, e não
escutastes. Por que quereis ouvir de novo? Por acaso quereis
tornar-vos discípulos d’Ele?” 28 Então insultaram-no, dizendo:
“Tu, sim, és discípulo d’Ele! Nós somos discípulos de Moisés.
29 Nós sabemos que Deus falou a Moisés, mas esse, não
sabemos de onde é”. 30 Respondeu-lhes o homem: “Espantoso!
Vós não sabeis de onde Ele é? No entanto, Ele abriu-me os olhos!
31 Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta
aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. 32 Jamais se ouviu
dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença.
33 Se este homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada”.
34 Os fariseus disseram-lhe: “Tu nasceste todo em pecado e
estás nos ensinando?” E expulsaram-no da comunidade.
Grande era a contumácia dos dirigentes da sinagoga. Nota-se nestes versículos, mais uma vez, sua malévola insistência na tentativa de obter do miraculado uma declaração contra o Senhor. “Os fariseus procuravam em sua resposta somente um motivo para desvirtuar os fatos e negar que Cristo o havia curado”, observa o padre Tuya. Mas, assistido pelo Espírito Santo, o mendigo respondeu-lhes com acerto, tal como o próprio Jesus teria feito em iguais circunstâncias. “Que contraste entre o ódio, a astúcia e a violência dos fariseus, reprimida no início, mas logo depois declarada, e, de outro lado, a calma, a habilidade e a fina ironia do mendigo que, embora vencido na aparência, conseguirá a vitória!”, comenta bem a propósito Fillion. Prevaleceu a sabedoria do homem simples, fiel à graça, sobre a pretensiosa ciência dos fariseus, ficando patente que o milagre beneficiara mais profundamente a visão da alma do que a visão do corpo.
Quanto aos fariseus, estes reagiram de acordo com sua obstinação: após insultar com grosseria o homem que uma autoridade justa deveria tratar com toda a benevolência, decretaram contra ele a sentença de excomunhão.
Uma razão a mais para Jesus o atrair a Si com sua divina bondade. Comenta, a esse respeito, Santo Agostinho: “Depois de muitas coisas, foi excluído da sinagoga dos judeus aquele que era cego e agora enxergava. Enfureceram-se contra ele e o expulsaram. E era isso que temiam seus pais, conforme foi declarado pelo Evangelista. […] Temiam, pois, eles serem enxotados da sinagoga; ele não temeu e foi enxotado; os pais permaneceram nela. Mas ele é acolhido por Cristo e pode dizer: ‘Porque meu pai e minha mãe me abandonaram’. Que acrescentou? ‘O Senhor, porém, tomou-me sob a sua proteção’. Vem, ó Cristo, e recebe-o; eles o excomungaram, acolhe-o Tu. Tu, o Enviado, acolhe o excluído”.
O cerne deste episódio
35 Jesus soube que o tinham expulsado. Encontrando-o,
perguntou-lhe: “Acreditas no Filho do Homem?” 36 Respondeu
ele: “Quem é, Senhor, para que eu creia n’Ele?” 37 Jesus disse:
“Tu O estás vendo; é Aquele que está falando contigo”. Exclamou
ele: 38 “Eu creio, Senhor!” E prostrou-se diante de Jesus.
O objetivo de São João, ao narrar este episódio, era, sem dúvida, tornar evidente o seguinte ponto: ao ser curado da cegueira, aquele homem recebeu também a crença na divindade de Cristo.
A pergunta do Mestre é formulada com suprema sagacidade. Em diversas ocasiões Ele Se denomina nos Evangelhos como o Filho do Homem. Essa expressão O protegia da malícia dos fariseus, que procuravam pretexto para condená-Lo, pois podia ser interpretada tanto como “o Homem que Eu sou”, quanto como uma denominação do Messias. No fundo, Ele dava testemunho da sua divindade por meio de um título do qual os fariseus não poderiam tirar proveito para seus insidiosos ataques.
E quando respondeu ao mendigo com as palavras: “Tu O estás vendo”, fazia menção ao duplo benefício que lhe concedera: a visão natural e o dom de crer na sua divindade. Por isso o miraculado proclamou sua fé prosternando-se diante d’Ele, em atitude de adoração, e provavelmente passou a acompanhar os discípulos.
É razoável considerar que este milagre tenha concorrido muito para confirmar na fé os próprios Apóstolos e, ademais, lhes haver dado a possibilidade de ponderar o quanto vale mais a conversão espiritual do que a cura da cegueira material.
A leitura do próximo versículo nos fará entender melhor este aspecto da questão.
A verdadeira visão
39 Então, Jesus disse: “Eu vim a este mundo para exercer um
julgamento, a fim de que os que não veem, vejam, e os que veem
se tornem cegos”.
Emprega aqui o Divino Mestre o verbo ver em dois sentidos: o físico e o espiritual. Santo Agostinho assim comenta esta passagem: “Embora todos, ao nascer, tenhamos contraído o pecado original, nem por isso nascemos cegos; contudo, considerando bem, nascemos cegos nós também. Com efeito, quem não nasceu cego? Cego de coração. Mas o Senhor, que fizera ambas as coisas, os olhos e o coração, curou tanto uns quanto o outro”.
40 Alguns fariseus, que estavam com ele, ouviram isto e lhe
disseram: “Porventura, também nós somos cegos?”
41 Respondeu-lhes Jesus: “Se fôsseis cegos, não teríeis
culpa; mas como dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece”.
À interpelação de alguns fariseus, Nosso Senhor responde com uma impressionante increpação. Com efeito, se, apesar de todas as obras por Ele realizadas, alguém O considera apenas de modo natural e humano, sem reconhecer sua divindade, esse é, de fato, um cego de alma, um cego de coração. Pelo contrário, quem padece de cegueira corporal, mas, por ação da graça, acredita na divindade do Messias, este foi curado da cegueira espiritual, cura incomparavelmente mais importante que a da cegueira física. Pois, como afirma o Apóstolo, “as coisas que se veem são temporais e as que não se veem são eternas” (II Cor 4, 18).
Essa é a beleza da Liturgia de hoje, ao ressaltar a maravilha da visão sobrenatural.
Deixemos as trevas deste mundo
O cerne deste Evangelho nos é sintetizado por São Paulo em sua Epístola aos Efésios (5, 8-14), também proposta à nossa consideração neste Domingo da Alegria: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor” (Ef 5, 8).
Tendo nascido com o pecado original, de fato estaremos em trevas para compreender o sobrenatural enquanto não recebermos a luz da graça pelo Batismo. Esta é incomparavelmente superior à própria luz solar. “O que é o Sol para o mundo sensível, é-o Deus para o mundo espiritual: a luz da justiça e da verdade eterna, da mais elevada formosura e do amor infinito, da mais pura santidade e da mais perfeita felicidade”, afirma o padre Scheeben.
Em nosso apostolado, esforcemo-nos, pois, em ajudar os outros a recuperar a vista espiritual, porque, assim, poderão contemplar os reflexos da luz divina na criação e ordenar sua vida em função desse luzeiro que é Cristo Jesus e a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Apresentando-nos esse magnífico Evangelho sobre a luz, no 4º Domingo da Quaresma, a Igreja nos proporciona um particular alento para avançarmos com ânimo resoluto na vida espiritual. Às vezes fraquejamos, deixamo-nos arrastar por nossas más inclinações e sentimos periclitar nossa perseverança nas vias da santificação. Nesses momentos, lembremo-nos da cura do cego de nascença e consideremos que, se Deus permitiu que caíssemos numa debilidade, Ele está atento para intervir a qualquer instante e restaurar em nós a vida divina. Com as orações e a mediação maternal de Maria, nos encontraremos purificados para contemplar a luz do Círio Pascal, símbolo também dessa Luz que nos foi dada com a Ressurreição de Cristo e que nos vem através dos Sacramentos. ♦
O Inédito sobre os Evangelhos, Vol. 1. Ano A. Quaresma.