O caminho para a felicidade

III Domingo Do Advento
(Domingo Gaudete)

A procura da felicidade norteia a existência de toda criatura humana, por disposição divina. A Liturgia do Domingo “Gaudete” indica o verdadeiro caminho para encontrá-la e oferece um exemplo seguro a seguir

Mons. João S. Clá Dias



“Naquele tempo, 2 João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-Lhe alguns discípulos, 3 para Lhe perguntarem: “És Tu, Aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” 4 Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5 os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6 Feliz aquele que não se escandaliza por causa de Mim!” 7 Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões sobre João: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. 9 Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 10 É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de Ti’. 11 Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele” (Mt 11, 2-11).

Uma lufada de ânimo para chegar até o fim

Dizia o célebre teórico de guerra Karl von Clausewitz, que a melhor forma de vencer um adversário é fazê-lo perder o ânimo de combater, pois a quebra de sua força moral é a causa principal de seu aniquilamento físico. Assim, quando empreendemos uma ação com desânimo, não atingimos a meta. Pelo contrário, quem tem uma confiança sólida, baseada numa fé vigorosa, desenvolve energias e entusiasmo para perseverar até o fim com galhardia. Se, por acaso, na realização de um árduo esforço, sentimos faltar o fôlego, basta uma lufada de esperança para redobrar as boas disposições e garantir o sucesso.

A Igreja, no 3º Domingo do Advento ― chamado Domingo Gaudete ―, tem em vista este propósito: fazer uma pausa nas admoestações do período de penitência e amenizar a tristeza causada pela lembrança dos pecados cometidos, para considerar com alegria a perspectiva do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em breve seremos libertados de nossa miséria, se soubermos ouvir os seus ensinamentos e nos abrirmos às graças que Ele nos traz, e poderemos seguir adiante com entusiasmo, confortados pela certeza de que nos será dada a salvação. Esse verdadeiro gáudio pela próxima vinda do Redentor é a nota tônica desta Missa, simbolizada pela cor rósea dos paramentos e expressa nos textos litúrgicos, sem, todavia, excluir totalmente o caráter penitencial. Depois do pecado original, a cruz tornou-se indispensável para obtermos a glória no cumprimento da finalidade para a qual fomos criados.

A sede de felicidade da criatura humana

Se voltarmos nossa atenção para cada criatura humana, encontraremos em todas elas o desejo de alcançar a felicidade. Quando Adão, belíssimo boneco de barro, saiu das mãos divinas e lhe foi infundido um sopro de vida, já possuía ele essa aspiração que era atendida com largueza por sua participação na própria natureza de Deus, a Felicidade Absoluta. Tão elevada era a figura deste varão que o Senhor ia visitá-lo no Paraíso, à hora da brisa da tarde (cf. Gn 3, 8). Eram felizes nossos primeiros pais! Porém, expulsos daquele local de delícias em consequência do pecado, Adão e Eva viram-se obrigados a habitar este mundo repleto de dificuldades, sem perder, entretanto, aquele anseio de felicidade. Ardiam de desejo de retornar ao estado de outrora, de gozar das maravilhas que tinham conhecido no Éden.

Mais tarde, constituído o povo de Israel, especialmente amado pela Providência, esperava ele o advento de um Salvador que o tirasse dessa desditosa situação.

Com o transcurso dos séculos e dos milênios, os hebreus ― sempre numa tremenda instabilidade e submetidos à escravidão por diversas vezes ― foram alimentando a ideia de que o Messias seria um homem aquinhoado por dons meramente naturais, portador de soluções humanas e políticas para todos os problemas.

Sua grande incógnita era acerca da vinda deste enviado que traria a felicidade, a qual já não concebiam como uma condição semelhante à do Paraíso, mas segundo padrões terrenos.

Algo parecido ocorre conosco, pois sabemos que o centro de nossa vida e a fonte da alegria é Nosso Senhor Jesus Cristo; contudo, as ilusões do mundo apontam para uma pseudofelicidade baseada em boa carreira, na aquisição de um valioso patrimônio, numa posição de prestígio, num vantajoso casamento ou, talvez, em negócios lucrativos. Numa palavra, a felicidade para os que assim pensam está na matéria, e não em Deus. Eis aí o lamentável equívoco.

O caminho da verdadeira felicidade

A Liturgia deste domingo nos convida à alegria, mostrando o rumo para alcançá-la. O contraste entre os protagonistas da cena de hoje é notório: enquanto São João está no cárcere e se submete a este padecimento com plena resignação, animado pela felicidade de ser íntegro e cumprir seu chamado, os discípulos veem-se privados dessa felicidade pela inveja que os consome. Semelhante amargura acompanha Herodes Antipas, escravizado por suas paixões, como também os fariseus que vivem à procura de louvor e incenso, movidos pela sede de glória terrena. Os próprios Apóstolos tampouco estão inteiramente felizes nesse período da vida pública do Divino Mestre, pois aguardavam um Messias diferente do que têm diante de si.

A alegria, então, onde está? Na loucura da Cruz. Nosso Senhor Jesus Cristo não podia estar triste nem abraçar um caminho de depressão, e, todavia, escolheu o do Calvário para nos dar o exemplo e indicar que a conquista da felicidade comporta a adversidade e a dor. Lembremo-nos de seu ensinamento:

“Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me” (Mt 16, 24). A ideia de que a felicidade exclui o sofrimento é infundada, pois uma vez que somos tendentes ao mal pela queda de nossos primeiros pais, o sofrimento tornou-se um elemento indispensável para a nossa santificação.

Com efeito, o problema do sofrimento não está tanto naquilo que o ocasiona, mas no modo como é suportado. Ele existe em todas as situações da vida e pede de nossa parte o ânimo que esta Liturgia apresenta, do qual Maria Santíssima é modelo. Ela aceitou todos os padecimentos que se abateriam sobre seu Divino Filho e Se dispôs a dar seu contributo ao sacrifício redentor, pois queria a salvação de todos.

Nossa finalidade é pertencer a Jesus

Feito para pertencer a Nosso Senhor Jesus Cristo, o ser humano se realiza na medida em que assume com seriedade sua condição de batizado, membro da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, dando passos adiante na prática da virtude e na busca da santidade. Quanto mais avançamos nessa via, maior é a alegria que nos invade, assim como o desejo de progredir ainda mais. Consideremos de frente nosso destino eterno enquanto esperamos a vinda do Salvador.

Na noite de Natal Ele nascerá de novo, misticamente, e se aplicarmos em nossas vidas a lição desta Liturgia nascerá também em nossos corações, onde encontrará uma digna pousada para Se recolher. ♦

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