Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos
Um simples pescador da Betsaida proclama que o filho de um carpinteiro é realmente o Filho de Deus, por natureza. Ali é plantado o grão de mostarda, do qual nasceria a Santa Igreja Católica Apostólica Romana
Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP. Fundador dos Arautos do Evangelho
13 Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” 14 Eles responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas”. 15 Perguntou-lhes de novo: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” 16 Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. 17 Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. 18 Também Eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nada poderão contra ela. 19 Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na Terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu” (Mt 16, 13-19).
O Evangelho: “Tu es Petrus”
Pergunta de Jesus e circunstância em que foi feita
13 Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte
pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o
Filho do Homem?”
A cidade na qual se desenvolve o Evangelho de hoje havia sido construída pelo tetrarca Filipe que, para angariar a simpatia do imperador César Augusto, deu-lhe o nome de Cesareia. Desconhece a História o exato percurso empreendido pelo Senhor e pelos Apóstolos àquela altura dos acontecimentos; a hipótese mais provável é a de que tenham atravessado a via de Damasco a Jerusalém, perto da ponte das Filhas de Jacó. O território onde nasce o rio Jordão, compreendido entre Julias e Cesareia, é rochoso, solitário e acidentado. Foi nessa localidade montanhosa e pétrea que Herodes, o Grande, erigiu um vistoso templo de mármore branco em homenagem ao imperador César Augusto. Calcando as pedras da região, e talvez à vista do tal templo sobre o alto das rochas, foi que se estabeleceu o diálogo durante o qual se tornaram explícitas para os Apóstolos a natureza divina de Jesus e a edificação da Santa Igreja.
Convém não esquecermos o quanto a divina pedagogia de Jesus escolhia os acidentes da natureza sensível para efeito didático, e assim poderem seus ouvintes ter melhor compreensão das realidades invisíveis do universo da Fé. A esse respeito, seriam inúmeros os casos a serem citados, mas basta-nos lembrar o modo pelo qual Ele convocou os dois irmãos pescadores, Pedro e André: “Segui-Me e Eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4, 19). Não se trata, portanto, de nos basearmos em razões meramente poéticas para supor que o desenrolar dessa conversa verificou-se sobre as pedras; há por detrás, um elevado teor simbólico. Ali estavam rochas que deviam perpetuar-se, e a contemplação dessas criaturas minerais, fruto de sua onipotência, tornava mais bela a solene profecia da edificação de sua indestrutível Igreja.
Alguns autores ressaltam outro importante aspecto: o fato de Jesus ter escolhido uma região pertencente à gentilidade para manifestar-Se como Filho de Deus e fundar o primado de sua Igreja. Eles interpretam como sendo um prenúncio da rejeição do Reino messiânico, pelos judeus, e sua definitiva transferência para os gentios.
“Aconteceu que estando a orar, em particular” (Lc 9, 18). Conforme nos relata São Lucas, toda a conversa narrada no Evangelho de hoje realizou-se depois de Jesus ter-Se recolhido e deixado “perder-Se”, com suas faculdades humanas, nas infinitudes de seu Pai eterno. Utilizou-Se desse meio infalível de ação, a prece, para conferir raízes e seiva imortais à obra que lançaria.
Segundo a Glosa, “querendo confirmar seus discípulos na fé, o Salvador começa por afastar de seus espíritos as opiniões e os erros que outros poderiam ter infundido neles”;2 ou seja, convidando-os a terem clara consciência dos equívocos da opinião pública a respeito da identidade d’Ele, fortificava-lhes as convicções. É curioso o comentário de São João Crisóstomo sobre o caráter “sumamente malicioso”3 do juízo emitido pelos escribas e fariseus a respeito do Divino Mestre, muito diferente daquele da opinião pública que, apesar de errôneo, não era movido por nenhuma malícia.
Jesus não pergunta o que pensam os outros a respeito d’Ele, mas sim do Filho do Homem,“a fim de sondar a fé dos Apóstolos e dar-lhes ocasião de dizer livremente o que sentiam, embora isso não ultrapassasse os limites daquilo que poderia lhes sugerir sua santa humanidade”.4 Por todos os conhecimentos que Lhe eram próprios, do divino ao experimental, Jesus sabia quais eram as opiniões que circulavam com relação à sua figura, não necessitava, portanto, informar-Se; desejava, isto sim, levá-los a proclamar a verdade em contestação aos equívocos da opinião pública.
Os Apóstolos tinham exata noção do juízo que os “homens” de então faziam a propósito do Divino Mestre. Apesar de todas as evidências, dos milagres, da doutrina nova dotada de potência, etc., o povo não O considerava como o Messias tão esperado. Jesus surgia aos olhos de todos como a ressurreição ou o reaparecimento de anteriores profetas. Não encontravam n’Ele a eficaz magnificência do poder político, tão essencial para a realização do mirabolante sonho messiânico que os inebriava. Daí imaginarem-No o Batista ressurrecto, ou Elias, enquanto mais especificamente um precursor, ou até mesmo um Jeremias, lídimo defensor da nação teocrática (cf. II Mac 2, 1-12). Vê-se claramente neste versículo como o espírito humano é inclinado ao erro e como facilmente se distancia dos verdadeiros prismas da salvação. Mas, pelo menos, aqueles seus contemporâneos ainda discerniam algo de grandioso em Jesus. Seria interessante nos perguntarmos como Ele é visto pela humanidade globalizada, cientificista e relativista de nossos dias.
Pedro O reconhece como Filho de Deus
15 Perguntou-lhes de novo: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”
Bem sublinha São João Crisóstomo5 a essência desta segunda pergunta. Sem refutar os erros de apreciação dos outros, Jesus quer ouvir dos próprios lábios de seus mais íntimos o juízo que d’Ele fazem. Para lhes tornar fácil a proclamação de sua divindade, não usa aqui o título humilde de Filho do Homem.
16 Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias,
o Filho de Deus vivo”.
Pedro falava como intérprete da opinião de todos, por ser o mais fervoroso e o principal,6 embora não fosse a primeira vez que Jesus era reconhecido como Filho de Deus. Já Natanael (cf. Jo 1, 49), os Apóstolos após a tempestade no Mar de Tiberíades (cf. Mt 14, 33) e o próprio Pedro (cf. Jo 6, 69) haviam externado essa convicção.
Sola fides! Aqui não há elemento algum emocional ou sensível, como em circunstâncias anteriores. Em meio às rochas frias de um ambiente ecológico, longe de acontecimentos arrebatadores e da agitação das turbas ou das ondas, só a voz da fé se faz ouvir.
“Certíssimo argumento é que Pedro chamou a Cristo de Filho de Deus por natureza, quando O contrapôs a João, a Elias, a Jeremias e aos profetas, os quais foram — claro está — filhos de Deus por adoção”.7 Ademais, como comenta o mesmo Maldonado, Pedro dá a Deus o título de vivo para distingui-Lo dos deuses pagãos que são substâncias mortas. E, por fim, o artigo — como sói acontecer na língua grega — antecedendo o substantivo filho, designa filho único segundo a natureza, e não um entre vários.
A ciência humana não tem força para atingir a união hipostática
17 Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas,
porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu
Pai que está no Céu”.
Ao felicitar seu Apóstolo, Jesus avalia a afirmação de Pedro a respeito de sua filiação e, portanto, de sua natureza divina e consubstancialidade com o Pai. Sobre este particular são unânimes os comentaristas. Era um costume judaico indicar a filiação da pessoa para ressaltar sua importância; neste caso concreto havia a intenção de manifestar o quanto “Cristo é tão naturalmente o Filho de Deus como Pedro é filho de Jonas, quer dizer, da mesma substância daquele que O engendrou”.8
As palavras de Pedro não são fruto de um raciocínio com base num simples conhecimento experimental. Não haviam sido poucas as curas logo após as quais os beneficiados conferiam com exclamações ao Salvador o título de “Filho de Davi” (cf. Mt 15, 22; Mc 10, 47; etc.), conhecido como um dos indicativos do Messias. Os próprios demônios, ao se encontrarem com Ele, proclamavam-No “o Santo de Deus” (Lc 4, 34), “o Filho de Deus” (Lc 4, 41), “Filho do Altíssimo” (Lc 8, 28; Mc 5, 7). Ele mesmo declarara ser “dono do sábado” (Mt 12, 8), e após a multiplicação dos pães a multidão queria aclamá-Lo Rei (cf. Jo 6, 15). Assim como estas, muitas outras passagens poderiam facilmente nos indicar as profundas impressões produzidas por Jesus sobre seus discípulos.9 Porém, em nenhuma ocasião anterior Pedro recebeu tal elogio saído dos lábios do Salvador. Nesta passagem, ele “é feliz porque teve o mérito de elevar seu olhar além do que é humano e, sem deter-se no que provinha da carne e do sangue, contemplou o Filho de Deus por um efeito da revelação divina e foi julgado digno de ser o primeiro a reconhecer a divindade de Cristo”.10
Portanto, a afirmação de Pedro se realizou com base num discernimento penetrante, luzidio e abarcativo da natureza divina do Filho de Deus. A ciência, a genialidade ou qualquer outro dom humano não têm força suficiente para atingir os páramos da união hipostática realizada no Verbo Encarnado. É indispensável ser revelada pelo próprio Deus e aceita pelo homem. Mas o homem sem fé aferra-se às suas próprias ideias, tradições e estudos, rejeitando, às vezes, as provas mais evidentes, como o são os milagres. Para este, Jesus não passa — e quando muito — de um sábio ou de um profeta. Haverá também aqueles que não O verão senão como “o filho do carpinteiro” (Mt 13, 55).
Essa é a nossa Fé ensinada pela Igreja, revelada pelo próprio Deus, anunciada pelo Filho, o enviado do Pai, e confirmada pelo Espírito Santo, enviado pelo Pai e pelo Filho. As verdades da Fé não são fruto de sistemas filosóficos, nem da elaboração de grandes sábios.
Jesus edifica sua Igreja sobre Pedro
18 Também Eu te digo: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja, e as portas do inferno nada poderão contra ela”.
Foi indispensável e excelente ter afirmado Orígenes inspiradamente: “Nosso Senhor não precisa se é contra a pedra sobre a qual Cristo construiu sua Igreja ou se é contra a própria Igreja, construída sobre a pedra, que as portas do inferno não prevalecerão. Mas é evidente que elas não prevalecerão nem contra a pedra nem contra Igreja”.11 Sim, porque para destruir essa pedra, ou seja, o Vigário de Jesus Cristo na Terra, muitos esforços e diligências de um considerável número de hereges têm sido empregados, na tentativa de abalar o sagrado edifício da Igreja a partir de seu fundamento, o qual é a alegria, consolo e triunfo dos verdadeiros católicos. Nesse “edificarei” se encontra o real anúncio do Reino de Jesus. O grande e divino desígnio começa a se delinear nesse nome, até então nunca usado: “minha Igreja”.
O plano de Jesus é proclamado sobre as rochas de Cesareia, pelo próprio Filho de Deus, que Se apresenta como um divino arquiteto a erigir esse edifício indestrutível, grandioso e santíssimo, a sociedade espiritual, constituída por homens: militante na Terra, padecente no Purgatório, triunfante no Céu. O conjunto de todos aqueles que se unem debaixo da mesma Fé, nesta Terra, chama-se Igreja. Desta, o fundamento é Pedro e todos os seus sucessores, os Romanos Pontífices, pois, caso contrário, não perduraria a existência do edifício. Eis um ponto vital de nossa Fé: “o fato da Igreja estar edificada sobre o próprio Pedro” — que aliás — “é admitido por todos os autores antigos, exceto os hereges”.12
Um só corpo e um só espírito em torno do Sucessor de Pedro
Há na Igreja muitas pessoas constituídas em autoridade, às quais devemos estar unidos pela obediência. “No entanto, toda essa variedade precisa reduzir-se a um prelado primeiro e supremo, em quem principalmente se concentre o principado universal sobre todos. Deve reduzir-se não só a Deus e a Cristo, mediador entre Deus e os homens, mas também a seu Vigário; e isto não por estatuto humano, mas por estatuto divino, mediante o qual Cristo constituiu São Pedro príncipe dos Apóstolos, estabelecidos estes, por sua vez, como príncipes na Terra. E Cristo fez isso convenientissimamente, por assim o exigirem a ordem da justiça universal, a unidade da Igreja e a estabilidade, tanto dessa ordem, quanto dessa unidade”.13
O “Tu es Petrus…” será aplicado a todos os escolhidos em Conclave para se sentarem na Cátedra da infalibilidade. Assim, morreu Pedro, mas não o Papa; e é em torno dele que a Igreja mantém a sua unidade.
“Fácil é a prova que confirma a fé e compendia a verdade. O Senhor fala a São Pedro e lhe diz: ‘Eu te digo que tu és Pedro’ (Mt 16, 18). […] E noutro lugar, já ressuscitado: ‘Apascenta minhas ovelhas’ (Jo 21, 17). Sobre um só Ele edifica sua Igreja, e o encarrega de apascentar suas ovelhas. E embora, depois da Ressurreição, confira igual poder a todos os Apóstolos e lhes diga: ‘Como meu Pai Me enviou, assim Eu vos envio’ (Jo 20, 21) […], sem embargo, para manifestar a unidade, estabeleceu uma Cátedra, e com sua autoridade dispôs que a origem dessa unidade se fundamentasse em um. Por certo, todos os Apóstolos eram o mesmo que Pedro, adornados com a mesma dignidade e poder; mas o princípio dimana da autoridade, e a Pedro foi dado o primado para demonstrar que uma é a Igreja e a Cátedra de Jesus Cristo.
Todos são pastores, mas há um só rebanho que deve ser apascentado por todos os Apóstolos de comum acordo […].
“Pode ter fé quem não crê nessa unidade da Igreja? Pode pensar que se encontra dentro da Igreja quem se opõe e resiste obstinadamente à Igreja, quem abandona a Cátedra de Pedro, sobre a qual ela está fundada? São Paulo também ensina o mesmo, e manifesta o mistério da unidade, ao dizer: ‘Há um só corpo e um só espírito, como também só uma esperança, a de vossa vocação. Só um Senhor, uma só Fé, um só Batismo, um só Deus’ (Ef 4, 4-6)”.14
Jurisdição plena, suprema e universal
Se lermos os Atos dos Apóstolos, encontraremos Pedro exercendo esse supremo poder, ao falar em primeiro lugar nas reuniões dos Apóstolos, ao propor o que se deve fazer, inaugurando a missão apostólica, encerrando discussões com sua palavra, etc. E assim se têm perpetuado, ao longo de dois milênios, a jurisdição e o magistério dos Papas.
Todo sucessor de Pedro possui verdadeira jurisdição, pois tem o poder de promulgar leis, julgar e impor penas, de forma direta, em matéria espiritual, e indireta, no campo temporal, sempre que se apresente como necessária para obter bens espirituais. Essa jurisdição é plena: não há poder na Igreja que não resida no Papa. É universal, ou seja, todos os membros da Igreja ― fiéis, sacerdotes e Bispos ― a ele estão submetidos. É, ademais, suprema: o Papa acima de todos, e ninguém acima dele. Até mesmo os Concílios Ecumênicos não podem se realizar sem ser por ele convocados e presididos. Os próprios estatutos conciliares não o obrigam, tendo ele o poder de mudá-los ou de derrogá-los.
Magistério infalível
Outro tanto se pode afirmar sobre uma análoga e grande função de Pedro e de seus sucessores: o supremo magistério que, como coluna que sustenta a Igreja, não pode equivocar-se. O Papa é infalível ao falar ex cathedra, ou seja, enquanto doutor de todos os cristãos, ao definir com autoridade apostólica doutrinas sobre Fé e moral, que devem ser admitidas por toda a Igreja universal.
Aí está o motivo pelo qual “as portas do inferno” não poderão se sobrepor a um edifício construído sobre a pedra que é Pedro.
“Doce Cristo na Terra”
19 “Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na
Terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na Terra será
desligado no Céu”.
Cristo retornaria ao Pai, deixando nas mãos de Pedro as chaves de sua Igreja. “Quem tem o uso legítimo e exclusivo das chaves de uma casa ou de uma cidade, este é o administrador, o intendente supremo que recebeu os poderes de seu senhor. A Igreja é o Reino dos Céus neste mundo; a Igreja triunfante será o Reino definitivo e eterno dos Céus, prolongamento desta mesma Igreja da Terra, já purificada de toda impureza. Pedro terá poder de abrir e fechar a entrada nesta Igreja temporal e, consequentemente, na eterna”.15
A cabeça desse Corpo Místico sempre será Cristo Jesus. Durante a História, Ele será o Chefe invisível, mas deixa entre nós um Pedro acessível, o “doce Cristo na Terra” — segundo expressão usada por Santa Catarina de Sena —, a quem todos devemos amar como bom pai, obedecer até às suas mais leves insinuações e conselhos, honrar como a um supremo monarca, rei de reis.
É de pasmar o desenrolar desse acontecimento histórico ocorrido na “região de Cesareia de Filipe”. Um simples pescador da Betsaida proclama que o filho de um carpinteiro é realmente Filho de Deus, por natureza. Este, em seguida, anuncia que edificará uma obra indestrutível e deixará em mãos de seu administrador, com plenos poderes de jurisdição e magistério, “as chaves do Reino do Céu”. O ambiente que os cerca é pobre, árido, mas com certa grandeza. Ali é plantado “o grão de mostarda”, do qual nasceriam as igrejas, as catedrais, as cerimônias, os vitrais, as universidades, os hospitais, os mártires, os confessores, as virgens, os doutores, os santos, enfim, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Passaram-se dois milênios e, depois de tantas e catastróficas procelas, inabalável continua essa “nau de Pedro”, tendo Cristo, com poder absoluto, em seu centro. Nenhuma outra instituição resistiu à corrupção produzida pelos desvios morais ou pela perversão da razão e do egoísmo humano. Só a Igreja soube enfrentar as teorias caóticas, opondo-lhes a verdade eterna; arrefecer o egoísmo, a violência e a volúpia, utilizando as armas da caridade, justiça e santidade; pervadir e reformar os poderes despóticos e materialistas deste mundo, com a solene e desarmada influência de uma sábia, serena e maternal autoridade.
Não podiam mãos meramente humanas erigir tão portentosa obra, só mesmo a virtude do próprio Deus seria capaz de conferir santidade e elevar à glória eterna homens concebidos no pecado. ♦