Festa do Batismo do Senhor
Um milagre invisível ocorre em cada celebração batismal: em suas águas é submerso um ser humano e delas emerge um filho de Deus
Mons. João S. Clá Dias, EP – Fundador dos Arautos do Evangelho
Naquele tempo, 13 Jesus veio da Galileia para o rio Jordão, a fim de Se encontrar com João e ser batizado por ele. 14 Mas João protestou, dizendo: “Eu preciso ser batizado por Ti, e Tu vens a mim?” 15 Jesus, porém, respondeu-lhe: “Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça!” E João concordou. 16 Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água. Então o Céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre Ele. 17 E do Céu veio uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus o meu agrado” (Mt 3, 13-17).
Estímulo à prática da virtude da fé
A comemoração do Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo encerra com chave de ouro o Tempo do Natal. Grande festa para os católicos, porque é neste Batismo, como veremos, que está incluído o nosso e, portanto, o início da participação de cada um na vida sobrenatural, na vida de Deus. Adão fechou a seus descendentes as portas do Paraíso Celeste, mas Nosso Senhor Jesus Cristo, com a Encarnação, abriu-as outra vez, tornando possível aos homens, graças a seu divino auxílio e proteção, gozar do convívio com Ele, com o Pai e o Espírito Santo, com os Anjos e os Bem-aventurados por toda a eternidade.
Somos verdadeiros filhos de Deus!
Toda a pregação de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja tem como núcleo o convite para sermos filhos de Deus pelo Batismo. Este é um dos maiores milagres que é possível fazer. Se alguém transformasse um pedregulho em colibri, faria um milagre muito menor do que o operado no Batismo. Entre a pedra e o colibri há certa proporção, pois ambos pertencem à natureza material. Mas, tornar uma criatura humana partícipe da natureza divina é um salto infinito, que Nosso Senhor nos concede com o Batismo.
Filhos, realmente filhos?
Poder-se-ia objetar que Filho, de fato, é só Jesus Cristo, o Unigênito de Deus, e que nós somos apenas filhos por adoção, filiação cujo alcance não passaria de uma mera formalidade jurídica, um título honorífico desprovido de valor intrínseco. Não obstante, a Escritura afirma com clareza que essa filiação adotiva é muito mais substanciosa do que a adoção concebida em termos humanos.
Um dos maiores empenhos de Nosso Senhor durante sua permanência entre os homens foi o de vincar em nosso interior a convicção de que somos autênticos filhos de Deus. Por isso, ao encontrar-se com Jesus, Nicodemos ouve de seus divinos lábios: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus” (Jo 3, 3). Nascer de novo significa ter Deus como Pai, verdadeiramente… É um outro nascimento! Quando nos ensina a oração perfeita, diz o Mestre: “Pai Nosso” (Mt 6, 9); e, depois da Ressurreição, prepara seus discípulos para a Ascensão, anunciando:
“Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Demonstra com estas palavras que somos irmãos d’Ele, filhos do mesmo Pai. Esta fundamental doutrina é ainda frisada por São João, no prólogo de seu Evangelho: “a todos aqueles que O receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12); e na sua Primeira Epístola:
“Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato” (I Jo 3, 1). O Apóstolo não é menos incisivo ao insistir com os gálatas: “já não és escravo, mas filho. E se és filho, então também herdeiro por Deus” (Gal 4, 7); ou, com os romanos: “somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo” (Rm 8, 16-17).
Refutando os erros de certos teólogos heterodoxos que defendiam ser o Batismo apenas uma capa, uma cobertura posta por cima da nossa corrupção, o Concílio de Trento definiu que os batizados “se tornaram inocentes, imaculados, puros, sem mancha, filhos diletos de Deus”; e explica que, pela justificação, o pecador passa “do estado no qual o homem nasce filho do primeiro Adão, ao estado de graça e ‘de adoção dos filhos de Deus’ (Rm 8, 15)”.
A alma é divinizada
Sim, filiação real, porque por meio deste Sacramento Deus enxerta em nós sua própria vida. Não, portanto, à maneira de um reboco extrínseco a uma parede e que de si não a modifica interiormente, mas como se alguém, por milagre, injetasse ouro nessa mesma parede, a ponto de quase não mais se ver areia ou reboco, mas tão só o precioso metal. Esta figura é ainda inadequada e pobre para exprimir o que se opera na alma quando lhe é infundida uma qualidade sobrenatural que a torna deiforme, ou seja, semelhante a Deus em sua própria divindade. E com a graça santificante a alma recebe, por ação divina, as virtudes ― fé, esperança, caridade, prudência, justiça, fortaleza, temperança ― e os dons do Espírito Santo ― sabedoria, entendimento, ciência, conselho, piedade, fortaleza, temor ―, pelos quais passa a agir como Deus.
Neste mundo, quantas vezes as pessoas anseiam por conseguir uma vaga num colégio, num emprego, num clube, ou em outros lugares que as possam prestigiar. Ora, no Céu temos reservada uma vaga eterna, um trono extraordinário, uma coroa de glória, a partir do momento em que as águas batismais nos caem sobre a cabeça, constituindo-nos herdeiros de Deus e garantindo-nos o convívio com Ele na felicidade sem fim.
E o grande problema de nossos dias é ter sido esquecida esta verdade. Vivemos numa civilização ― se assim a podemos chamar ― feita de pecado, especialmente a impureza, a revolta contra Deus e o igualitarismo. Nela, a humanidade ignora o que há de principal na existência: o chamado para essa filiação divina. Quanto precisaríamos crescer na devoção ao nosso Batismo pessoal, ao Batismo dos outros com quem nos relacionamos! Que veneração deveríamos conservar pela pia batismal onde fomos batizados!
Como teríamos de celebrar com fervor o dia do nosso Batismo, considerando-o muito mais importante do que o próprio dia do nascimento, porque nele nascemos para a vida sobrenatural, nascemos para o Céu! Eis a maravilha que nos lembra a festa do Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo. ♦
Davina
Salve Maria!
Que bem que tenha gostado. É sempre bom lembrarmos da grande graça que temos por sermos batizados.
Que Nossa Senhora lhe ajude sempre.
Apostolado do Oratório
Bela homilia! Salve Maria!