O Papa São João Paulo II ao proclamá-la Doutora da Igreja, incluiu seu nome no seleto rol de expoentes como Santo Agostinho, São João Crisóstomo e São Tomás de Aquino
Causa-nos surpresa que uma religiosa falecida aos 24 anos de idade tenha recebido esta honraria concedida apenas aos mais destacados teólogos da Santa Igreja.
Entretanto, melhor do que muitos luminares das ciências, a Doutora da Pequena Via ensinou que “se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3), e justificou de maneira magnífica a oração do Divino Mestre:
“Eu Te louvo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25).
“Não sou uma águia…”
Qual seria a vocação específica de Teresa? Caminhando pelos claustros do convento, ela se interrogava a este respeito.
Desejava ardentemente o martírio, mas isto não lhe bastava: queria ser também missionário, doutor, guerreiro, profeta, apóstolo. Uma só missão não satisfazia o seu fervor, almejava ser tudo ao mesmo tempo!
Encontrou afinal a resposta nos capítulos 12 e 13 da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: o amor abrange todas as vocações. E exclamou, transbordante de contentamento:
“No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor… assim serei tudo, assim meu sonho se realizará!”.1
Contudo, convencida estava Teresinha de ser por demais fraca e imperfeita para tão elevada vocação. Isso, entretanto, não representava obstáculo para ela, pois era sua própria fraqueza que lhe dava a audácia de oferecer-se a Jesus como vítima de amor.
E exprimiu, então, com uma bela parábola sua situação no Carmelo:
“Não passo de uma débil avezinha coberta apenas de leve penugem. Não sou uma águia, tenho desta unicamente os olhos e o coração, pois, apesar de minha extrema pequenez, ouso fixar o Sol Divino, o Sol de Amor, e meu coração sente todas as aspirações da águia”.2
E assim, vendo-se impossibilitada de voar para junto desse Sol, ela o contemplava com amor aqui da Terra.
Como bem reconhecia a ousada carmelita, em sua linguagem figurada, por vezes a avezinha se distraía com bagatelas terrenas, mas depois voltava arrependida, fixava novamente os olhos no Sol e estendia suas asas molhadas para se secarem ao contato com os benéficos raios.
Em momentos como esses, recorria com mais ardor às grandes águias – os Anjos e Santos do Céu -, que a auxiliavam a perseverar no amor.
Mas a avezinha sabia também que estava rodeada de perigosos abutres – os demônios -, os quais espreitavam ocasião propícia para apanhá-la.
Não tinha medo deles, pois, no centro do Sol, ela via sua grande proteção: a Águia Eterna, Cristo Senhor nosso, defendendo-a de todas as ciladas infernais.
Veja mais sobre Santa Teresinha
______________________
1 SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS. História de uma alma. 24. ed. São Paulo: Paulus, 2005, p. 21
2 SANTA TERESA DE LISIEUX. Manuscrits autobiographiques. Manuscrit A, 2v. In: Archives du Carmel de Lisieux. OEuvres de Thérèse: www.archives-carmel-lisieux.fr.4v-5r.