Por Pe. Antônio Guerra, EP. Assistente Espiritual do Apostolado do Oratório. Em 13 de junho as igrejas de todas as nações, do ocidente pelo menos, se encherão de fiéis para comemorar sua festa e por toda parte as imagens do grande Santo serão expostas para objeto de veneração dos fiéis.
Compadecido dos sofrimentos físicos de dez leprosos, quis Nosso Senhor conceder-lhes a cura miraculosa que tinham pedido confiantes. Mas, como apenas um deles exprimiu sua gratidão, só este foi favorecido com o milagre mais importante
Monsenhor João S. Clá Dias, EP, Fundador dos Arautos do Evangelho e do Apostolado do Oratório
Duas classes de milagre: do corpo e do espírito
Na época de Nosso Senhor, o leproso, devido à falta de recursos médicos que possibilitassem o seu tratamento — carência que se prolongou por muitos séculos —, era um pária desprezado pela sociedade. Uma vez detectada a enfermidade, era ele apresentado ao sacerdote que, após um minucioso exame, o declarava legalmente impuro mediante um cerimonial apropriado. Se é verdade que ele não era deportado para uma ilha, segundo o costume adotado em tempos posteriores, deveria, contudo, ausentar-se da cidade, do convívio humano e viver isolado no campo. Obrigavam-no, ademais, a utilizar uma veste característica para anunciar a situação de excomunhão social em que se encontrava e a seguir certas normas, como a de se deslocar tocando uma campainha para indicar sua presença, de forma que as pessoas abrissem caminho, evitando o risco de contaminação pelo contato ou pela simples cercania.
“Quem é esta que avança como a aurora, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha?” (Cântico 6:10)
Ir. Alberto Nardo, EP
“Foi por meio da Santíssima Virgem Maria que Jesus veio ao mundo, e é também através dEla que Ele deve reinar em todo o mundo”, escreveu o grande santo mariano, São Luis Maria Grignion de Montfort.
Por onde passamos em missão neste início de 2019, constatamos que essas palavras não podiam ser mais verdadeiras.
“Eis que este Menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel e a ser um sinal de contradição” (Lc. 2, 34).
No primeiro livro de suas homilias (hom. 15, De purificatione Beatae Mariae: PL 94, 79-83), São Beda, o Venerável, assim se expressa: “Com júbilo ouvem-se essas palavras, que exprimem haver sido destinado o Senhor a conseguir a ressurreição universal, conforme o que Ele mesmo disse: ‘Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá’ (Jo 11, 25).
“Mas quão terríveis soam aquelas outras palavras: Eis que este Menino está destinado a ser uma causa de queda! “Verdadeiramente infeliz aquele que, depois de haver visto sua luz, fica, sem embargo, cego pela névoa dos vícios… porque, segundo o Apóstolo (2 Pd. 2, 21), ‘melhor fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, depois de tê-lo conhecido, tornarem atrás, abandonando a lei que lhes foi ensinada’.
“Contradizem-No os judeus e gentios, e, o que é mais grave, os cristãos que, professando interior mente o Salvador, desmentem-No com suas ações.” “…a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 35).
Continua São Beda: “Antes da Encarnação, estavam ocultos muitos pensamentos, mas uma vez nascido na terra o Rei dos céus, o mundo se alegrou, enquanto Herodes ‘se perturbava e com ele toda Jerusalém’.
“Quando Jesus pregava e prodigalizava seus milagres, enchiam-se as turbas de temor e glorificavam o Deus de Israel; mas os fariseus e escribas acolhiam com raivosas palavras quantos ditos procediam dos lábios do Senhor e quantas obras realizava. Quando Deus padecia na cruz, riam com alegria nécia os ímpios, e choravam com amargura os piedosos; mas, quando ressuscitou dentre os mortos e subiu aos céus, mudou-se em tristeza a alegria dos maus, e se converteu em gozo a pena dos amigos…” (S. Beda: ut supra).
Ainda hoje e até o Juízo Final, os cristãos, outros Cristos, são “sinais de contradição” e, em função deles, revelar-se-ão os pensamentos escondidos nos corações de muitos.
Maria, corredentora, e o amor às nossas cruzes
“E uma espada transpassará tua alma” (Lc 2, 35) . Maria é corredentora do gênero humano. Essa profecia de Simeão, Ela já a conhecia. Mais ainda, estaria gravada em seu espírito até a ressurreição de Jesus. Ela é a Rainha dos Mártires e, desde a Anunciação, sofreria com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Nós somos convidados neste trecho do Evangelho a dar um caráter de holocausto às dores que nos forem permitidas pela Providência. Tenhamos amor às cruzes que nos cabem, unindo-nos a Jesus e a Maria nessa grandiosa cena da apresentação.
Trecho do artigo: A apresentação do Menino Jesus e a Purificação de Maria Virgem – Revista Arautos do Evangelho, nº 2 – fevereiro de 2002.
Hoje transcrevemos uma das inúmeras e inspiradas frases de Santa Teresa Benedita da Cruz, a religiosa carmelita de nome Edith Stein, mártir da perseguição nazista. Seu comentário a respeito do olhar diligente, maternal e protetor da Mãe de Deus faz-nos lembrar do que nos diz São Luís Grignion de Montfort no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, quando recorda que foi por Maria que Nosso Senhor quis começar os seus milagres, como ocorreu com a santificação de São João Batista no ventre de Santa Isabel e, na vida adulta, quando, a pedido d’Ela, Cristo converteu a água em vinho, nas núpcias de Caná da Galileia.
A propósito, em outro trecho de sua obra, o religioso adverte: “porque os servos nas bodas de Caná seguiram o conselho da Santíssima Virgem, foram honrados com o primeiro milagre de Jesus Cristo (em sua vida pública)”.
À luz do que diz São Luís, as palavras abaixo de Santa Teresa Benedita da Cruz nos indica o quanto Maria ama e ampara os seus fiéis devotos num humilde, despretensioso e providencial silêncio.
“Que possamos voltar o nosso olhar à Mãe de Deus, Maria, nas bodas de Caná. O seu olhar silencioso e perscrutador observa tudo e repara onde falta alguma coisa. E antes que alguém perceba e ocorra algum embaraço, ela já prestou a sua ajuda. Encontra meios e modos, dá as indicações necessárias, e isso tudo em silêncio, sem deixar perceber nada.”
Imaginemos alguém que tivesse presenciado, com enlevo, os milagres de Jesus – aqui a multiplicação dos pães e dos peixes, ali a cura de um paralítico, acolá o andar sobre as águas do mar da Galileia. E ainda mais, a ressurreição de mortos: a filha de Jairo, o filho da viúva de Naim, e Lázaro, que já estava no sepulcro havia quatro dias…
E tivesse ouvido as palavras do Mestre com as quais Ele ensinava e atraía as multidões. Enfim, pensemos em alguém que tivesse convivido com Ele, testemunhando sua infinita bondade refletida no olhar e na voz.
Essa mesma pessoa, ao vê-lo elevar-se aos Céus, no dia da Ascensão, bem poderia sentir um aperto no coração e se perguntar: “Mas, então tudo vai acabar? Os homens nunca mais poderão conviver com Ele?”.
Se é normal que o coração sinta a ausência de um ente querido, o que dizer em relação ao próprio Deus? Assim, o firmamento, a natureza, o gênero humano, talvez até mesmo os Anjos repetiam a súplica dos discípulos de Emaús: “Ficai conosco!” (Lc 24, 29).
Também da parte de Jesus havia o desejo de nunca mais se separar daqueles com os quais condescendeu em contrair uma relação especial. O amor do Criador pelas criaturas é infinitamente maior do que o destas para Deus. Ele, portanto, desejava ficar conosco. Mas como se faria essa maravilha?
Nem todos os Anjos e todos os homens reunidos conseguiriam encontrar a solução apresentada. Só mesmo o Homem-Deus poderia excogitar a Sagrada Eucaristia. Só Ele poderia realizar para nós tal milagre, e com todo o amor, a ponto de também ter ansiado a hora em que pudesse torná-la realidade. “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer” (Lc 22, 15) — confidenciou-lhes
na Santa Ceia.
A festa de Corpus Christi vem comemorar esse incomparável dom feito a nós, o místico convívio com o próprio Jesus, cumulando de méritos nossa fé, ao contemplarem nossos olhos aquele pão e vinho consagrados, mas que na realidade, substancialmente, são o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de nosso Redentor. Ele penetra, em nosso interior, para nos aconselhar, confortar e santificar. Numa palavra: para conviver conosco.
Pe. Antônio Guerra, EP
Assistente Espiritual do Apostolado do Oratório