Face à pandemia do Coronavírus, por pior que nos pareça a situação, os nossos olhos devem estar postos, não na crise que estamos atravessando, mas na solução que virá tendo em vista, de alguma forma, as alegrias da Páscoa da Ressurreição. Portanto, com esperança na vitória definitiva. Por Padre Alex Brito, EP
No quarto domingo da Quaresma, o Evangelho nos fala a respeito de um homem cego de nascença, conhecido das pessoas que ali moravam. Essa cegueira causou dúvida nos discípulos, que perguntaram a Jesus: “Mestre, quem pecou para que nascesse cego, ele ou seus pais?” Tinham eles por certo que, se alguém padecia de algum mal, era fruto do pecado. Parece lógico, mas não responde a tudo, pois sabemos que a História não é movida pelos pecados dos homens. O que move a História é a vontade de Deus.
Assim, há quem pergunte hoje qual a razão dessa pandemia que atinge o mundo inteiro, mais ou menos como se fosse uma Terceira Guerra Mundial, onde toda a humanidade, de modo maior ou menor, se vê afetada. Se não pela doença, que é uma pequena quantidade, está afetada pelas consequências das medidas necessárias a serem tomadas para evitar a expansão dessa pandemia. Quem pecou para que tudo isso ocorresse? É uma pergunta que legitimamente os homens podem fazer agora no interior de seus corações.
Epidemia pior que o Coronavírus
Devemos tomar especial cuidado para que uma epidemia pior do que o próprio Coronavírus não se espalhe em todos os cantos, isto é, a epidemia da tristeza, da aflição, da falta de confiança, do desespero. Deus nos livre dessa, tanto ou mais do que do Coronavírus. Nós hoje devemos espalhar por todas as partes outro tipo de Corona: não Coronavírus, mas um Corona Esperança. A esperança de que essa situação é apenas episódica. Disto Deus deverá tirar uma grande lição para os homens e mulheres do mundo inteiro. Deduzimos isso do próprio Evangelho. É Jesus que fala: “Nem ele – referindo-se ao homem cego – nem seus pais pecaram.” E de algum modo espiritual podemos afirmar que Ele Se refere a todos os homens que se perguntam “por que está acontecendo isto?” “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele”.
Luz do mundo e pedra de escândalo
As obras de Deus haverão de se manifestar nesta grande crise. A primeira delas é que Jesus Nosso Senhor tem de ser colocado no centro, como Luz, pois Ele mesmo afirmou: “Eu sou a Luz do mundo”. Ele é Luz para manifestar as obras do Pai. Em segundo lugar, Jesus também é uma pedra de escândalo. Onde Ele Se encontra tudo se divide. Divide-se entre aqueles que querem segui-Lo e aqueles que querem rejeitá-Lo. Não é possível ficar indiferente diante de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Como Bom Pastor, é Jesus que toma a iniciativa de nos procurar, como, nesse Evangelho, tomou a iniciativa de Se aproximar do homem cego.
Vendo nós hoje muitas pessoas, por medida de segurança, confinadas em casa, impossibilitadas de ir à Missa, poderíamos julgá-las, erroneamente, abandonadas por Deus.
O Evangelho nos mostra, entretanto, que isso não é verdade! Jesus, na sua infinita misericórdia, a rogos de Nossa Senhora, encontra sempre meios para, de alguma forma, amparar aqueles que procuram sinceramente por Deus, aqueles que precisam de Deus a exemplo deste pobre cego.
Os homens não podem ir à Igreja, mas Jesus não está impedido de visitar a cada um. Ele vai ao encontro de todos para os curar da cegueira, para que passem a ver a Deus com toda a nitidez. Cegos de Deus, depois desse encontro com Nosso Senhor serão curados dessa cegueira.
“O Senhor é o Pastor que me conduz, não me falta coisa alguma.”, diz o Salmo de Resposta. Portanto, não há razão para tristeza ou pânico. Se não nos deixarmos conduzir por Ele, tudo faltará; mas se nos deixarmos conduzir por Ele, nada falta. Mais ainda: “Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso – e poderíamos até dizer, mesmo que o Coronavírus passe pela minha casa – nenhum mal eu temerei”, porque “Ele está comigo com bastão e com cajado, eles me dão segurança”. E o salmo conclui dizendo: “Preparais à minha frente uma mesa.” Portanto, é Deus quem prepara, Ele quem conduz, Ele quem alimenta, Ele quem sustenta. Por isso nenhum mal se deve temer.
Quando o cego está sendo perseguido, até expulso da Sinagoga, pelo fato de ter sido curado por Nosso Senhor, Jesus toma a iniciativa de ir ao seu encontro e mais uma vez nos dá uma grande lição. Aproxima-Se do cego quando todos o abandonaram, mas também quando ele abandonou a tudo aquilo que pudesse lhe afastar de Deus. Neste momento o cego, prostrado num gesto de adoração diante de Jesus, exclama “Eu creio Senhor!” e faz ali o seu grande ato de Fé.
Por isso todos juntos vamos, prostrados diante de Deus, agradecer porque Ele veio ao nosso encontro para nos curar da nossa cegueira. E em toda essa situação pela qual estamos passando, não sobrecarreguemos a consciência com pânico, com desespero, julgando que os males que advêm são em função deste ou daquele pecado. Tudo está acontecendo para que as obras de Deus sejam manifestas.
Peçamos então o auxílio de Nossa Senhora para que Ela nos ajude, para que pouco a pouco a nossa cegueira seja curada e que nós, depois desta grande dor, desta grande cruz pela qual estamos passando, possamos encontrar consolo nEle, Nosso Senhor, com os olhos postos na Ressurreição e na certeza da vitória. ♦