Meditação para o Primeiro Sábado de novembro de 2014

I – A filiação divina nos confere uma dignidade altíssima, como maior não pode haver

Jesus proclama as Bem-aventuranças, para nos mostrar o quanto podemos nos elevar na vida sobrenatural, pelo florescimento dos dons do Espírito Santo, que opera nas nossas almas e nos torna aptos para praticar as virtudes, de um modo heroico.

Tais frutos podem brotar de maneira isolada, mas, em geral, quando o santo chega à plenitude da união com Deus, todas as bem-aventuranças se verificam numa única florada. Ser santo, então, significa ser um bem-aventurado no tempo para depois sê-lo na eternidade.

Em que consiste, pois, essa bem-aventurança? São João, — o Apóstolo do Amor — em sua Primeira Epístola nos dá a resposta, lembrando o valor da nossa condição de filhos de Deus: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus. E nós realmente o somos” (I Jo 3, 1a). Na verdade, por ocasião do Batismo, embora a natureza humana continue a mesma, com inteligência, vontade e sensibilidade, acrescenta-se em nós uma qualidade: a participação na própria natureza divina, que nos assume por completo. A graça, explica São Boaventura, “é um dom que purifica, ilumina e aperfeiçoa a alma; que a vivifica, a reforma e a consolida; que a eleva, a assimila e a une a Deus, tornando-a aceitável. (1)

Sendo um bem do espírito, não pode ser vista com os olhos materiais, pois estes captam só o que é sensível, mas comprovamos, isto sim, seus efeitos. Santa Catarina de Sena, a quem Nosso Senhor concedeu a graça de contemplar o estado das almas, chegou a afirmar a seu confessor: “Meu pai, se vísseis o fascínio de uma alma racional, não duvido que daríeis cem vezes a vida pela sua salvação, porque neste mundo nada há que se lhe possa igualar em beleza”. (2)

Certas imagens podem servir para termos uma ideia, ainda que pálida, das maravilhas operadas pela graça nas almas. Imaginemos um vitral esplendoroso, com uma perfeita combinação de cores, fabricado com vidro da melhor qualidade, contendo até ouro na sua composição. Uma vez posto na janela, se não é iluminado, que valor terá peça tão espetacular? Entretanto, a partir do momento em que os raios de luz sobre ele incidem, brilhará com extraordinária riqueza de tons, desdobrando-se em mil reflexos multicoloridos.

Outra comparação que também nos aproxima da realidade sobrenatural é a de um litro de álcool no qual são derramadas algumas gotas de uma fabulosa essência, finíssima e de requintado aroma. Sem deixar de ser álcool, o líquido torna-se perfume, pois é assumido pela essência.

Da mesma forma como a luz ilumina o vitral e a essência assume o álcool, também a graça confere nova qualidade à alma humana, que é, por assim dizer, submersa na natureza divina. Tal é a excelência da filiação em relação a Deus!  (Leia mais aqui!).

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Veja também: Meditação para o Primeiro Sábado de outubro de 2014

Meditação para o Primeiro Sábado de agosto de 2014

I – Um Batismo de penitência

“Naquele tempo, o povo estava na expectativa e todos se perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. Por isso, João declarou a todos: ‘Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar as correias de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo’. Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo” (Lc 3, 15-16.21).

Infelizmente pouco se conhece a respeito da infância de São João. O Precursor surgiu nos acontecimentos, para surpresa de todos, trajando-se de modo diferente dos padrões da época: uma pele de camelo e um cinto rústico. Seu alimento reduzia-se a gafanhotos e mel silvestre, o que indica ter sido um homem dedicado à penitência. Muitíssimos anos haviam passado sem que surgisse em Israel um profeta capaz de sacudir o povo. “Faltava entre eles o carisma profético” — afirma São João Crisóstomo —, “e este voltava só agora, depois de séculos. Sua própria maneira de pregar era nova e surpreendente. […] João falava somente a respeito dos Céus, do reino dos Céus e dos castigos do inferno” (1) ao anunciar a concretização das profecias.

O povo, impressionado com a autoridade moral do precursor, logo começou a se perguntar se não seria ele o próprio Messias, tão ansiado pelas almas retas. Mas ele negou categoricamente.

1 – Um rito ligado a uma missão

Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar as correias de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”.

Querendo orientar as almas para o Salvador, João logo anunciou o verdadeiro sentido do seu batismo e a dádiva incomparavelmente maior que haveria de trazer o Sacramento que seria instituído por Jesus. De fato, pregava ele um batismo que, segundo considera São Tomás, “o batismo de João não era um Sacramento, mas uma espécie de sacramental que preparava para o Batismo de Cristo”. (2) Apesar de não haver na Sagrada Escritura nenhum mandato explícito a respeito do batismo de penitência, pois deveria durar pouco tempo, este rito provinha de Deus, que o recomendara a João em uma revelação privada (cf. Jo 1, 33).

Para administrá-lo, escolhera as águas do Jordão. E como veremos mais adiante, a escolha do local tinha uma razão muito mais profunda, relacionada com o Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo (Leia mais aqui!).

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Veja também: Meditação para o Primeiro Sábado de julho de 2014

O Pastor ama e conhece profundamente suas ovelhas

A dois mil e treze anos do início da era cristã, num mundo marcado por contínuas mudanças, com evoluções e revoluções, avanços e regressos, guerras e tratados de paz, a voz do Divino Pastor continua a chamar suas ovelhas e atraí-las para junto do Seu celestial rebanho. O Evangelho nunca sairá de moda, ele chegou até nós através do Ungido de Deus, o Cristo (no Grego) ou Messias (pelo hebraico). Por isso, há séculos a Igreja proclama ufana Cristo ontem, hoje e sempre!

De forma profunda, clara e atraente, o presente comentário de Mons. João Clá Dias ao Evangelho de São João recorda-nos eficazmente do amor de Deus para com suas frágeis criaturas.

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, Eu as conheço, e elas Me seguem” (Jo 10, 27).

Mons. João Clá Dias

A Sabedoria infinita de Deus nelas (ovelhas) pensou desde toda a eternidade, para assim melhor Se fazer entender pelos homens no relacionamento entre Criador e criatura. A própria natureza da Judeia facilitava as características desta simbologia usada pelo Divino Mestre. A terra naquelas regiões não era fértil para a plantação, devido aos seus consideráveis trechos pedregosos e um tanto áridos. O pastoreio ali se adaptava mais comodamente do que a agricultura e, assim mesmo, exigia do rebanho um grande número de deslocamentos. Essa situação redundava na necessidade de vigilância e aplicação mais esmeradas do pastor. As circunstâncias tornavam mais nítidas as diferenças entre o autêntico pastor e o mercenário. Deus quis o nascimento da figura do pastoreio e a colocou com destaque na pluma dos literatos. Até os poetas pouco dados a compreenderem a excelsitude da castidade são levados a realçar a pureza virginal do zelo caridoso dos pastores, em geral, por suas ovelhas.

A vida do pastor nos leva a considerar seu amor casto, inocente, governando sem decretos, muito pelo contrário, baseado num relacionamento íntimo, fortemente paternal — talvez melhor se diria maternal — através do qual atende todas as conveniências e necessidades de suas ovelhas. Ele sabe entretê-las, defendê-las, ampará-las, levá-las a pastar e até mesmo agradá-las com seus cantos ou com as melodias de sua flauta. “Ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes” (Jo 10, 3). São Tomás de Aquino ressalta a grande familiaridade existente nesse relacionamento, pois chamar pelo nome significa ter íntima amizade. Ao revertermos os símbolos aos simbolizados, a realidade e a significação se tornam incomparavelmente mais profundas. Cristo conhece a natureza e o ser de cada uma de suas ovelhas, e também o objetivo imediato, tanto quanto o último, para o qual foram criadas, assim como o que são e o que poderão vir a ser com o auxílio de sua graça. Por isso o Doutor Angélico julga ver nesse “chamar pelo nome” (nominatim) “a eterna predestinação, pela qual Deus conhece cada ovelha, cada homem” (São Tomás, Comentario in Io., 10, lec. Iª, 3 – Marietti, p. 280.).

Foto: Vitor Toniolo

O homem, o mais elevado ser percebido por nossos sentidos, não é criado em série. Deus aplica seu poder criador sobre cada pessoa, uma a uma, e por isso não há homens iguais, nem moral nem fisicamente, nem sequer no referente às circunstâncias da vida individual e menos ainda no que tange à vocação pessoal. Daí a profundidade insondável desse conhecimento dispensado por Jesus a cada um de nós, a ponto de compará-lo ao existente entre o Pai e o Filho (Jo 10, 15), ato eterno tão absoluto que, através dele, uma Pessoa divina é gerada pela outra. O conhecimento que o Pai tem do Filho, portanto, não é uma imagem intelectual acidental, como acontece em nós, ao fazermos uso de nossa razão. O conhecimento do Pai é substancial e amoroso, através do qual, por geração, Ele dá sua própria essência ao Filho. Este, por sua vez, com amor substancial e infinito também, restitui ao Pai o que d’Ele recebe; e tão rico é esse amor mútuo que dele procede o Espírito Santo. Ora, aí está o padrão do conhecimento de Jesus a cada um de nós. Por isso nada de nosso exterior ou interior — seja-nos nocivo ou útil, nossas enfermidades físicas ou espirituais, seus remédios, etc. — nada foge à sua onisciência. Não há em Jesus uma fímbria sequer de frieza nesse conhecimento em relação a nós, como Ele mesmo disse e realizou na figura do Bom Pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas.

Por outro lado, as ovelhas seguem o Pastor. Pela sua graça, conhecem as maravilhas que estão n’Ele, sua doutrina dotada de potência, sua vida, sua misericórdia, sua sabedoria, numa palavra, sua humanidade e divindade. E, por isso, ao ouvirem sua voz, elas O seguem, como Saulo no caminho de Damasco (At 9, 5-9) ou como Madalena ao ser chamada pelo nome, junto ao Sepulcro do Senhor (Jo 20, 16). Portanto, ao conhecê-Lo, seguem-No no cumprimento de seus desígnios: “Aquele que diz conhecê-Lo e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele” (1 Jo 2, 4). Quando ouvem sua voz, enchem-se de amor pelo Pastor, a ponto de estarem dispostas a entregar suas vidas por Ele, e ardem do desejo de que Ele inabite em suas almas.

(Excerto do Artigo “Somos todos ovelhas de Jesus?” de Mons. João Clá Dias – Revista Arautos do Evangelho, nº 64, abril de 2007.)

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Frases sobre Nossa Senhora – Santa Teresa Benedita da Cruz

Santa Teresa Benedita da Cruz

Hoje transcrevemos uma das inúmeras e inspiradas frases de Santa Teresa Benedita da Cruz, a religiosa carmelita de nome Edith Stein, mártir da perseguição nazista. Seu comentário a respeito do olhar diligente, maternal e protetor da Mãe de Deus faz-nos lembrar do que nos diz São Luís Grignion de Montfort no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, quando recorda que foi por Maria que Nosso Senhor quis começar os seus milagres, como ocorreu com a santificação de São João Batista no ventre de Santa Isabel e, na vida adulta, quando, a pedido d’Ela, Cristo converteu a água em vinho, nas núpcias de Caná da Galileia.

A propósito, em outro trecho de sua obra, o religioso adverte: “porque os servos nas bodas de Caná seguiram o conselho da Santíssima Virgem, foram honrados com o primeiro milagre de Jesus Cristo (em sua vida pública)”.

À luz do que diz São Luís, as palavras abaixo de Santa Teresa Benedita da Cruz nos indica o quanto Maria ama e ampara os seus fiéis devotos num humilde, despretensioso e providencial silêncio.

“Que possamos voltar o nosso olhar à Mãe de Deus, Maria, nas bodas de Caná. O seu olhar silencioso e perscrutador observa tudo e repara onde falta alguma coisa. E antes que alguém perceba e ocorra algum embaraço, ela já prestou a sua ajuda. Encontra meios e modos, dá as indicações necessárias, e isso tudo em silêncio, sem deixar perceber nada.”

Santa Teresa Benedita da Cruz

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