Quinta-feira Santa – Nunca devemos rejeitar uma graça

Ao ver Cristo Se aproximar para lavar-lhe os pés, São Pedro, sempre impulsivo, teve um verdadeiro sobressalto. Como os demais Apóstolos, não podia compreender naquele momento a transcendência do gesto do Divino Mestre. Mas Nosso Senhor lhe adverte que se não o permitisse, não teria parte com Ele

Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP, Fundador dos Arautos do Evangelho e do Apostolado do Oratório

Jesus lava os pés dos apóstolos – Igreja de São Demétrio – Loarre – Espanha


Pedro disse: “Senhor, Tu me lavas os pés?” Respondeu Jesus: “Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás”. Disse-Lhe Pedro: “Tu nunca me lavarás os pés!” Mas Jesus respondeu: “Se Eu não te lavar, não terás parte comigo”. Simão Pedro disse: “Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. Jesus respondeu: “Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos” (Jo 13 6-10).

Podemos imaginar o que deve ter sido sentir os próprios pés sendo lavados pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade!

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Sábado Santo – O prêmio concedido aos que mais amam

Nosso Senhor não esquece os que ama

Então o Anjo disse às mulheres: “Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar em que Ele estava. Ide depressa contar aos discípulos que Ele ressuscitou dos mortos, e que vai à vossa frente para a Galileia. Lá vós O vereis. É o que tenho a dizer-vos” (Mt 28, 5-7).

Apesar dessa manifestação grandiosa, não mais estamos no Antigo Testamento, quando a aparição de um Anjo era considerada prenúncio imediato de morte. O mensageiro celeste sabe tratar de maneira adequada cada criatura humana e diz às mulheres: “Não tenhais medo!”. Na verdade, depois de tudo o que acabara de suceder não faltavam motivos para recear, mas ele dá a entender que desígnios superiores pairavam sobre aqueles acontecimentos, portadores de esperança. Prepara-as assim para acolher o anúncio que contém a essência do Evangelho selecionado para esta solene cerimônia: “Ressuscitou, como havia dito!”.

Embora o estupendo milagre da Ressurreição tivesse sido predito por Nosso Senhor, suas palavras não encontraram suficiente eco na alma dos que O seguiram nos anos de vida pública, caindo no esquecimento perante as aparências contrárias presenciadas na Paixão. No entanto, já era hora de recordarem esta profecia: “Destruí vós este Templo e Eu o reerguerei em três dias” (Jo 2, 19). Com estas palavras Ele Se referiu ao seu próprio Corpo, que passaria pela Morte e Ressurreição. Lembremo- nos de que tanto seu sagrado Corpo quanto sua Alma, mesmo estando separados pela morte, permaneceram unidos hipostaticamente à divindade, por cujo poder ambos se reassumiram mutuamente no momento da Ressurreição. O Redentor cumprira a promessa, ressurgindo com todas as características que possuíra na vida mortal, acrescidas de glória.

Prelibando a fase de expansão da Igreja que dentro em breve se iniciaria, o Anjo transmite às mulheres uma incumbência: comunicar aos discípulos a notícia da Ressurreição, pois, abatidos pelo desânimo e decerto pesarosos por sua própria prevaricação, a Morte de Nosso Senhor lhes poderia dar a ideia de que Ele Se esquecera dos que estimava. Talvez pensassem que, uma vez tendo partido deste mundo, Jesus Se havia afastado para não mais conviver com os seus. Vemos que o Anjo desmente essas impressões falsas com o aviso de um novo encontro na Galileia, deixando claro o quanto o Mestre os ama apesar de todas as infidelidades.

Um misto de medo e alegria

As mulheres partiram depressa do sepulcro. Estavam com medo, mas correram com grande alegria, para dar a notícia aos discípulos (Mt 28, 8).

As mulheres, que sempre acompanhavam Nosso Senhor onde quer que Ele fosse, estavam habituadas a vê-Lo sair-Se bem em todas as circunstâncias. Foi o que se verificou, por exemplo, quando o paralítico descido pelo teto foi curado e seus pecados foram perdoados, deixando os adversários do Divino Mestre confundidos e furiosos (cf. Lc 5, 18-26; Mc 2, 3-12; Mt 9, 2-8); ou quando houve a multiplicação dos pães e, pelo instinto materno próprio à psicologia feminina, também sentiram pena da multidão faminta que seguia Nosso Senhor, contemplando maravilhadas a prodigiosa solução dada por Ele, na ocasião (cf. Mt 14, 15-21; Mc 6, 35-44; Lc 9, 12-17; Jo 6, 5-14). Episódios semelhantes ocorridos ao longo da pregação de Jesus robusteceram-nas numa fé sincera em relação a Ele, fruto da retidão de quem não tem arrière-pensée ou desconfianças próprias aos que fazem considerações materialistas, esquecendo-se da existência de fatores sobrenaturais que podem explicar os acontecimentos extraordinários.

Animadas por tão bom espírito, retiraram-se elas do sepulcro sôfregas por transmitir a mensagem recebida. Neste versículo, todavia, transparece algo muito humano: o misto de alegria e medo que as invadiu, apesar da advertência angélica. A alegria, como é natural, vinha do magnífico anúncio da Ressurreição de Nosso Senhor, e o temor tinha sua origem em possíveis represálias dos judeus naquela situação ainda muito instável. Para extirpar por completo esse receio, nada mais eficaz que um contato com o Mestre.

O encontro com Nosso Senhor

De repente, Jesus foi ao encontro delas, e disse: “Alegrai-vos!” As mulheres aproximaram-se, e prostraram-se diante de Jesus, abraçando seus pés (Mt 28, 9).

No intuito de animar as Santas Mulheres, o próprio Jesus tomou a iniciativa de ir ao encontro delas, mostrando que Ele vai à procura dos que realmente O amam. E eis que a sua primeira palavra é “Alegrai-vos!”, para, em seguida, permitir que Lhe abraçassem os pés.

O conjunto dos pormenores de outros relatos evangélicos desta passagem sugere a hipótese de que Maria Madalena não estivesse junto às mulheres nesse instante, mas sozinha, em busca de Nosso Senhor (cf. Mc 16, 9-11; Jo 20, 11-18). Tudo indica que o encontro que tiveram com Ele deu-se em momentos e lugares diversos: primeiro apareceu à pecadora arrependida, a quem ordenou “Não me retenhas!ˮ (Jo 20, 17), e depois às demais, enquanto corriam. É curioso notar a diferença em seu divino modo de agir, pois não deixou aquela que havia “demonstrado muito amor” (Lc 7, 47) externar toda a sua veneração, e aqui, pelo contrário, as Santas Mulheres seguram seus pés e Ele não lhes opõe resistência.

Como explicar este aparente paradoxo? Santa Maria Madalena tinha uma fé robusta e o Mestre não queria tirar-lhe o mérito. Caso ela chegasse a tocá-Lo — ou se demorasse muito ao fazê-lo, conforme sustentam alguns autores(1) —, confirmaria cabalmente que Ele havia ressuscitado e não era um espírito, mas o mesmo Homem-Deus cujos pés lavara com suas lágrimas e enxugara com os cabelos (cf. Lc 7, 37-38). Jesus estava como que a dizer-lhe: “Não Me toques, porque Eu te reservo um mérito maior: o de crer sem comprovar”.

Às outras, consentiu que dessem largas às suas manifestações de adoração. Elas já haviam visto um espírito e sua primeira impressão ao deparar-se com o Salvador seria de que também se tratava de um ser imaterial, até porque possuíam uma fé menos vigorosa que a de Maria Madalena. Além disso, acompanharam-No continuamente antes da Paixão e, enquanto os homens costumam dar menos importância à ausência física, elas, como mulheres, eram mais sensíveis à separação e ao abandono. Precisavam, pois, verificar que Jesus estava vivo e não as desamparara.

Ao abraçar os pés do Senhor, devem ter visto e osculado as marcas dos cravos, além de sentir seu inconfundível perfume, agora intensificado em virtude da glorificação do Corpo. Ficaram comovidas por perceber que a Ressurreição era real e experimentaram, sem a menor dúvida, uma consolação extraordinária. Põe-se aqui um problema sobre qual será a maior graça: obter o mérito de crer sem constatar ou poder estreitar o Corpo glorioso do Mestre? Deixemos que os teólogos tratem dessa delicada questão, pois para ninguém será fácil a escolha, que depende do feitio de cada pessoa.

Arautos da Ressurreição nomeadas pelo Senhor

Então Jesus disse a elas: “Não tenhais medo. Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles Me verão” (Mt 28, 10).

Depois do imenso favor de permitir que tocassem em seu Corpo ressurrecto, Nosso Senhor recomenda “Não tenhais medo”, para certificar mais uma vez de que Ele não era um fantasma e infundir-lhes coragem ante a perspectiva de uma possível perseguição movida pelos judeus. E deixa um recado destinado aos discípulos: que partissem rumo à Galileia para um encontro, pois Ele não havia desaparecido. Assim, o Salvador as constitui arautos para propagar a Boa-nova da Ressurreição, que os próprios Apóstolos ainda não conheciam.

Que modo de proceder contundente para os padrões estabelecidos pela sociedade da época! Os Doze, que eram Bispos e foram os primeiros a comungar o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, são obrigados a receber a notícia através de mulheres! Eles fraquejaram, fugiram de medo e acabaram sendo postos à margem na hora da Ressurreição, pois Jesus quis dar um prêmio às que não haviam faltado à caridade. Não será que, se não nos convertermos a um amor tão intenso quanto Ele espera de cada um, seremos ultrapassados pelos que consideramos inferiores a nós? Sejamos verdadeiramente fervorosos, para que isto não nos aconteça!

Jesus ainda convive com eles ao longo de quarenta dias para então subir aos Céus, mas compensa sua ausência enviando o Espírito Santo e prolonga sua presença no Sacramento da Eucaristia, confirmação da promessa feita por Ele antes de partir: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

NOTA:

1) Cf. FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954, p.710-711; TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, v.V, 1964, p.602; GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Pasión y Muerte. Resurrección y vida gloriosa de Jesús. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v.IV, p.446; LAGRANGE, OP, Marie-Joseph. Évangile selon Saint Matthieu. 4.ed. Paris: J. Gabalda, 1927, p.541.

(Excerto do livro “O inédito sobre os Evangelhos” Vol VII, de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP – Comentário ao Evangelho da Vigília Pascal.)

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Sexta-feira Santa – Temos parte nos sofrimentos de Jesus?

Santo Cristo dos Milagres

Evangelho: São João 18,1-19,42

Dinamismo incalculável do mal

À medida que as cenas da Paixão se sucedem e se multiplicam as humilhações e ofensas contra Nosso Senhor, uma indignação profunda apodera-se de nós. Vislumbramos uma realidade no Evangelho de São João que nos leva a perguntar se ele não teve a intenção de revelar qual é o dinamismo do mal que chegaria a triunfar sobre a Igreja, se não fosse a promessa do Divino Mestre: “… as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Sem a graça de Deus e sua intervenção direta, ninguém teria forças para resistir à sanha do demônio, pois, como diz São Pedro Crisólogo, sua insaciável crueldade “não se conforma com que os homens se tornem indignos, mas faz com que sejam também promotores de vícios e mestres da delinquência”.(1) Aí está o Autor da graça, aquele que é o Salvador, Deus Encarnado! O que o mal faz contra Ele é incalculável. Diante disso compreende-se a reação de Clóvis, rei dos Francos, que ao ouvir de São Remígio a narração da Paixão exclamou encolerizado: “Ah, se eu estivesse lá com os meus francos!”.(2) Clóvis, porém, sem o auxílio da graça, também estaria gritando: “Crucifica-O! Crucifica-O!”. Porque o homem, depois do pecado original, é capaz de todos os crimes, até do maior dos crimes: o deicídio. No entanto, Nosso Senhor Jesus Cristo, com sua morte na Cruz, derrotou o poder das trevas e quebrou-lhe o vigor e a capacidade de difusão.

Talvez sem nos apercebermos, incorremos também nós nessa imensa injustiça todas as vezes que pecamos. Quanto deveríamos ter isto presente no momento em que o demônio nos tenta ou nossas inclinações nos induzem ao mal! No fundo, esbofeteamos Jesus, como o fizeram seus cruéis algozes: o pecado é, em certa medida, uma participação no deicídio. Se todos os homens, desde Adão e Eva até o último, tivessem perseverado, e qualquer um de nós fosse o único a cometer uma só falta, seria o culpado desses tormentos, porque Jesus Se encarnaria e sofreria tudo isso, ainda que apenas por causa deste.

Modelo de castidade, pobreza e obediência

Percorramos alguns episódios de sua terrível Paixão. O que Lhe fazem? Arrancam- -Lhe a roupa. Sendo Nosso Senhor Jesus Cristo o arquétipo de toda a humanidade, seu senso de pudor é o mais excelente possível. Que deve ter sentido Ele em seu interior quando passou por extremo tão horroroso?! Ele permitiu tal humilhação para reparar os pecados de sensualidade. Quantos desvios há por vaidade, por ostentação na indumentária, por extravagância das modas.

Por causa disso, quanta perda do senso moral e do pudor! E nós, como controlamos nossa sensualidade? Esforçamo-nos por evitar as ocasiões próximas de pecado?

Ao ser despojado de suas vestes, Ele, o Rei do universo, ficou sem nada possuir. Só Lhe deixaram um símbolo ultrajante da sua realeza: a coroa de espinhos. Como é nosso apego aos bens terrenos?

Na Paixão, o Salvador também quis ser para nós um modelo de obediência. Apesar da violência exercida contra Ele, submeteu-Se a tudo, sem a mais leve manifestação de inconformidade ou revolta, para reparar nossas desobediências à Lei de Deus e às autoridades legitimamente constituídas.

A Nosso Senhor bem se poderia aplicar a frase do salmista: “Quæ utilitas in sanguine meo? — Qual a utilidade do meu sangue?” (Sl 30, 10). Esta pergunta ecoa não somente na Paixão, mas em nossos dias: que utilidade tem o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo para nós, no século XXI? Que utilidade tem esse Sangue para mim? Esse Sangue preciosíssimo derramado, até se esgotar, por mim!

Pilatos, a típica figura do tíbio

Causa espanto, por exemplo, o procedimento de Pilatos ao ouvir dos lábios de Jesus a seguinte afirmação: “O meu Reino não é deste mundo. […] Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 36-37). O governador, homem mesquinho, medíocre, vulgar e arrivista, rejeitou nessa hora um convite para pertencer a este outro Reino… “O que é a verdade?” (Jo 18, 38), perguntou e, em seguida, retirou-se. É provável que experimentasse no fundo da alma o desejo de conhecer a verdade com clareza, mas percebeu que a resposta de Nosso Senhor o obrigaria a ser inteiramente reto e abandonar os sofismas que criava para cobrir sua falta com estas ou aquelas roupagens espúrias. Pilatos sabia que não podia condenar Nosso Senhor e procurava encontrar uma saída para estar em paz com sua consciência.

A justificação do mal nos levará aos piores pecados

Ele é a imagem perfeita desses que vão elaborando raciocínios cada vez mais confusos para adormecer a própria consciência e decaem até cometer o pecado. Porque o homem é lógico como um monólito e nunca pratica o mal pelo mal, sempre está buscando uma desculpa para justificar seu crime. Quantas vezes nós pecamos, certos de que não deveríamos trilhar esse caminho! Quantas consciências se tornam deformadas, à maneira de um Pilatos, por não querer aceitar a verdade tal como ela é! Mais adiante, aguilhoado pela consciência ao ouvir que Nosso Senhor Se dizia Filho de Deus, Pilatos perguntou-Lhe: “De onde és Tu?” (Jo 19, 9). Contudo, Jesus não lhe responde, porque quando as consciências se tornam relaxadas o Senhor não lhes fala mais. Só no fim Ele  dá uma última chance, recordando-lhe: “Tu não terias autoridade alguma sobre Mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem Me entregou a ti, portanto, tem culpa maior” (Jo 19, 11). E São João acrescenta: “Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus” (Jo 19, 12). Mas… a consciência que não é íntegra é arrastada pela opinião pública má, pelas companhias ruins, pelo demônio, e derrapa até cair no precipício. É o que acontece a Pilatos por sua tibieza: lava as mãos e acaba condenando Jesus sem, todavia, querer assumir a responsabilidade por sua morte. “Sou inocente do Sangue deste Homem. Isto é lá convosco” (Mt 27, 24). Esta atitude inconsequente, até o fim do mundo será lembrada no Credo: “padeceu sob Pôncio Pilatos”.

Incoerente ao extremo, a energia que não teve para enfrentar o Sinédrio e salvar a vida de Nosso Senhor que estava em suas mãos — apesar de ser advertido pela esposa (cf. Mt 27, 19), pela voz da graça e até pela própria presença de Jesus —, ele a teve quando os judeus protestaram por causa dos dizeres postos na Cruz: “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus” (Jo 19, 19). Nesse aspecto minúsculo e secundário ele é de uma firmeza pétrea e faz prevalecer sua autoridade. E nós, somos exigentes com relação às pequenas coisas e displicentes com as graves e importantes?

O dia adequado para um bom exame de consciência

Assim, nós poderíamos percorrer todos os episódios desse relato sublime da Paixão e deles extrair mais conclusões para um exame de consciência… num artigo que nunca acabaria. Fiquemos com o que foi comentado até aqui e aproveitemos para pedir com ardor a graça de reparar tudo isso pelas nossas boas obras e, sobretudo, pelo horror ao pecado. Não é este o momento de, recordando a Paixão e Morte de Nosso Senhor, fazermos um propósito sério de emenda de vida, deixando todos os caprichos, todos os desvios, para transformar nossa existência em um ato de reparação a tudo o que Jesus sofreu? Tenhamos um verdadeiro arrependimento de nossas faltas, todo feito de espírito sobrenatural, a ponto de pedir de coração sincero a santidade, que não é tanto o fruto de nosso esforço, e sim da graça de Deus. E nós devemos implorá-la empenhadamente, pois, o Salvador no-la conquistou neste dia, no alto do Calvário. “Com a árvore da Cruz, foram-te devolvidos bens maiores do que aqueles que lamentavas ter perdido com a árvore do Paraíso”.5 Que eu me ofereça inteiro para abraçar uma vida de virtude, de pureza, de humildade, de obediência, em uma palavra, de santidade, e possa fazer companhia à Mãe de Jesus, ao pé da Cruz.

(Excerto do livro “O inédito sobre os Evangelhos” Vol VII, de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP – Comentário ao Evangelho da Quinta-feira Santa – Ceia do Senhor.)

 NOTAS:

1) SÃO PEDRO CRISÓLOGO. Homilía II: Sobre el padre y sus dos hijos, hom.II, n.5. In: Homilías Escogidas. Madrid: Ciudad Nueva, 1998, p.50.
2) FRÉDÉGAIRE, III, 21, apud KURTH, Godefroid. Clovis. Paris: Jules Taillandier, 1978, p.297.

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Meditação para o Primeiro Sábado de maio de 2014

I – Um dos mais belos relatos do Terceiro Evangelho

A Liturgia de hoje nos leva a considerar a beleza da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús. Nesta narração, ambos deixam entrever o quanto possuem um coração afetuoso, caritativo e generoso para com um desconhecido que os alcança pelo caminho. Eles não têm qualquer sombra de respeito humano em explicar ao “forasteiro” os principais aspectos da Vida, Paixão e Morte de Jesus, como o próprio desaparecimento de seu sagrado Corpo.

Consideremos o grande respeito que os três manifestam entre si nesse episódio, como também a elevação do tema por eles tratado. Tal convívio contrasta flagrantemente com a vulgaridade de quase a generalidade das conversas em nossos dias.

13 Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos de Jesus iam para um povoado, chamado Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. 14 Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido.

A beleza, o estilo e a delicadeza da narração nos põem diante dos nossos olhos um dos mais belos relatos do terceiro Evangelho. De outro lado, é ela uma excelente prova da Ressurreição de Jesus. Quanto à cidadezinha de Emaús, há uma dezena de hipóteses sobre sua real localização, e não se têm elementos para saber qual é a verdadeira. Guardemos apenas que a distância ficava a 11 quilômetros de Jerusalém.

Provavelmente esses dois discípulos, como também outros, haviam se deslocado para Jerusalém a fim de cumprir os ritos pascais e, depois de visitarem os Apóstolos, retornavam as suas cidades de origem.

Alguns Padres da Igreja levantam a hipótese de ser o próprio São Lucas um deles, e assim se entenderia melhor o motivo pelo qual ele não quis mencionar o nome do segundo discípulo.

1 – Quando dois ou mais estiverem em meu nome…

15 Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus Se aproximou e começou a caminhar com eles.

O Divino Mestre havia prometido, em vida, que estaria presente quando dois ou mais estivessem reunidos em seu nome (cf. Mt 18, 20), verificamos aqui o cumprimento da sua promessa. A conversa entre ambos que tinha algo de oração pelo tema tratado e como era tratado, foi o fator que atraiu o Redentor a Se agregar a eles.

É interessante notar o agrado de Jesus junto aos dois, bem como o recíproco intuito apostólico de lado a lado. Um dos intentos do Divino Mestre era o de robustecer a fé de seus discípulos. Por isso, operando de maneira oculta, “Se aproximou e começou a caminhar com eles” (Leia mais aqui!).

Obs: Se estiver usando o Firefox, dependendo da versão, depois de clicar em (Leia mais aqui!), será preciso procurar o arquivo da meditação na pasta de downloads padrão.

Veja também: Meditação para o Primeiro Sábado de abril de 2014

Dois senhores rivais: Deus e o dinheiro

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

O Divino Mestre nos coloca diante de dois senhores diametralmente opostos no que concerne aos seus respectivos interesses: Deus e o dinheiro. O primeiro nos exige a crença n’Ele e em Suas revelações, a esperança em Suas promessas, com amor total, além da prática da castidade, da humildade, como também do cortejo de todas as virtudes. O dinheiro cobra de nós, e nos inspira ambição, volúpia de prazeres, vaidade, orgulho, menosprezo do próximo, etc.

Um nos dá forças para praticar o bem e a este inclina nossas paixões, enquanto o outro nos arrasta para o mal e nele nos vicia. O Céu e sua eterna felicidade constituem o estímulo para os esforços exigidos por um dos senhores. A terra e seus prazeres fugazes são os atrativos oferecidos pelo outro.

Esses dois senhores não admitem rivais. O pior rival do dinheiro é Deus, e vice-versa. Por isso, a desgraça do rico que entrega seu coração aos bens da terra consiste em buscar em vão sua felicidade neles; e a desgraça do pobre, em iludir-se com a pseudofelicidade oferecida pelas riquezas.

É preciso ter sempre diante dos olhos o quanto são opostos entre si, Deus e o mundo. Por isso, não queiramos servir a ambos ao mesmo tempo: “Não vos sujeiteis ao mesmo jugo com os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que sociedade entre a luz e as trevas? E que concórdia entre Cristo e Belial? Ou que de comum entre o fiel e o infiel? E que relação entre o templo de Deus e os ídolos? Porque vós sois templos de Deus vivo” (2 Cor 6, 14-16).

Excerto do Artigo: “Pode-se servir a Deus e às riquezas?” Mons. João Clá Dias, EP., Revista Arautos do Evangelho nº 77, maio de 2008.