Dos inumeráveis títulos da Mãe de Deus, poucos são tão expressivos quanto o de Perpétuo Socorro. A milagrosa imagem venerada sob essa invocação é rica em simbolismo
Ir. Jurandir Bastos, EP
Haverá alguém que nunca tenha se sentido aflito em horas de dificuldades ou na perspectiva de alguma tragédia? Ou que jamais tenha tido necessidade de uma ajuda, seja ela espiritual, psicológica, afetiva ou material?
Com toda certeza, não, pois o ser humano, longe de ser auto-suficiente, é contingente por natureza: não tem condições de viver sem apoio de seus semelhantes, muito menos sem a contínua sustentação de Deus, Criador do universo.
Uma carência inevitável, uma solução infalível
Para esse estado de carência inevitável, Deus nos oferece uma solução infalível: o recurso à sua e nossa Mãe. Daí ser muito apropriado o título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, com o qual se patenteia a certeza do auxílio que Ela nos dá quando a Ela recorremos.
No deserto, Jesus não foi tentado apenas ao fim dos quarenta dias de jejum, mas ao longo de todo esse período. Quis Ele submeter-Se a essa prova para nos dar exemplo, pois ninguém, por mais santo que seja, é imune à tentação
Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP
A luta dos dois generais
Pervadidos de mistério e propícios à meditação, o Batismo do Senhor e a tentação no deserto constituem o pórtico de sua vida pública. Sobre essa matéria muito tem sido escrito ao longo dos séculos, procurando esclarecer seus mais profundos significados.
Fixemos hoje nossa atenção nas tentações sofridas por Jesus. Depois da teofania no rio Jordão, encontramos no deserto dois sumos generais, Cristo e satanás, num enfrentamento face a face. A guerra ali travada tornou-se o paradigma da luta de todo homem durante sua existência terrena, a qual, por sua vez, recebe a influência de um e outro general.
A aceitação de uma dessas influências determina sua vitória ou derrota pessoal. (…)
A dois mil e treze anos do início da era cristã, num mundo marcado por contínuas mudanças, com evoluções e revoluções, avanços e regressos, guerras e tratados de paz, a voz do Divino Pastor continua a chamar suas ovelhas e atraí-las para junto do Seu celestial rebanho. O Evangelho nunca sairá de moda, ele chegou até nós através do Ungido de Deus, o Cristo (no Grego) ou Messias (pelo hebraico). Por isso, há séculos a Igreja proclama ufana Cristo ontem, hoje e sempre!
De forma profunda, clara e atraente, o presente comentário de Mons. João Clá Dias ao Evangelho de São João recorda-nos eficazmente do amor de Deus para com suas frágeis criaturas.
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, Eu as conheço, e elas Me seguem” (Jo 10, 27).
A Sabedoria infinita de Deus nelas (ovelhas) pensou desde toda a eternidade, para assim melhor Se fazer entender pelos homens no relacionamento entre Criador e criatura. A própria natureza da Judeia facilitava as características desta simbologia usada pelo Divino Mestre. A terra naquelas regiões não era fértil para a plantação, devido aos seus consideráveis trechos pedregosos e um tanto áridos. O pastoreio ali se adaptava mais comodamente do que a agricultura e, assim mesmo, exigia do rebanho um grande número de deslocamentos. Essa situação redundava na necessidade de vigilância e aplicação mais esmeradas do pastor. As circunstâncias tornavam mais nítidas as diferenças entre o autêntico pastor e o mercenário. Deus quis o nascimento da figura do pastoreio e a colocou com destaque na pluma dos literatos. Até os poetas pouco dados a compreenderem a excelsitude da castidade são levados a realçar a pureza virginal do zelo caridoso dos pastores, em geral, por suas ovelhas.
A vida do pastor nos leva a considerar seu amor casto, inocente, governando sem decretos, muito pelo contrário, baseado num relacionamento íntimo, fortemente paternal — talvez melhor se diria maternal — através do qual atende todas as conveniências e necessidades de suas ovelhas. Ele sabe entretê-las, defendê-las, ampará-las, levá-las a pastar e até mesmo agradá-las com seus cantos ou com as melodias de sua flauta. “Ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes” (Jo 10, 3). São Tomás de Aquino ressalta a grande familiaridade existente nesse relacionamento, pois chamar pelo nome significa ter íntima amizade. Ao revertermos os símbolos aos simbolizados, a realidade e a significação se tornam incomparavelmente mais profundas. Cristo conhece a natureza e o ser de cada uma de suas ovelhas, e também o objetivo imediato, tanto quanto o último, para o qual foram criadas, assim como o que são e o que poderão vir a ser com o auxílio de sua graça. Por isso o Doutor Angélico julga ver nesse “chamar pelo nome” (nominatim) “a eterna predestinação, pela qual Deus conhece cada ovelha, cada homem” (São Tomás, Comentario in Io., 10, lec. Iª, 3 – Marietti, p. 280.).
O homem, o mais elevado ser percebido por nossos sentidos, não é criado em série. Deus aplica seu poder criador sobre cada pessoa, uma a uma, e por isso não há homens iguais, nem moral nem fisicamente, nem sequer no referente às circunstâncias da vida individual e menos ainda no que tange à vocação pessoal. Daí a profundidade insondável desse conhecimento dispensado por Jesus a cada um de nós, a ponto de compará-lo ao existente entre o Pai e o Filho (Jo 10, 15), ato eterno tão absoluto que, através dele, uma Pessoa divina é gerada pela outra. O conhecimento que o Pai tem do Filho, portanto, não é uma imagem intelectual acidental, como acontece em nós, ao fazermos uso de nossa razão. O conhecimento do Pai é substancial e amoroso, através do qual, por geração, Ele dá sua própria essência ao Filho. Este, por sua vez, com amor substancial e infinito também, restitui ao Pai o que d’Ele recebe; e tão rico é esse amor mútuo que dele procede o Espírito Santo. Ora, aí está o padrão do conhecimento de Jesus a cada um de nós. Por isso nada de nosso exterior ou interior — seja-nos nocivo ou útil, nossas enfermidades físicas ou espirituais, seus remédios, etc. — nada foge à sua onisciência. Não há em Jesus uma fímbria sequer de frieza nesse conhecimento em relação a nós, como Ele mesmo disse e realizou na figura do Bom Pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas.
Por outro lado, as ovelhas seguem o Pastor. Pela sua graça, conhecem as maravilhas que estão n’Ele, sua doutrina dotada de potência, sua vida, sua misericórdia, sua sabedoria, numa palavra, sua humanidade e divindade. E, por isso, ao ouvirem sua voz, elas O seguem, como Saulo no caminho de Damasco (At 9, 5-9) ou como Madalena ao ser chamada pelo nome, junto ao Sepulcro do Senhor (Jo 20, 16). Portanto, ao conhecê-Lo, seguem-No no cumprimento de seus desígnios: “Aquele que diz conhecê-Lo e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele” (1 Jo 2, 4). Quando ouvem sua voz, enchem-se de amor pelo Pastor, a ponto de estarem dispostas a entregar suas vidas por Ele, e ardem do desejo de que Ele inabite em suas almas.
(Excerto do Artigo “Somos todos ovelhas de Jesus?” de Mons. João Clá Dias – Revista Arautos do Evangelho, nº 64, abril de 2007.)
Todas as vezes que entramos em contato com um comentário de um dos Padres da Igreja a respeito dos Santos Evangelhos, sentimos um gáudio interior pela sabedoria, precisão e lucidez das suas explicações. Muito se fala hoje em pobreza, porém ela nem sempre é sinônimo de desapego aos bens terrenos e amor aos bens celestiais. Pelo contrário, é comum ver pessoas pobres que alcançam boa situação financeira esquecer do passado, deixando de lado a humildade e simplicidade de caráter, e acumulando toda espécie de riquezas materiais. Atiram-se nelas como se fosse o fim último do homem na terra. E como bem nos ensina São Paulo em suas epístolas, as criaturas estão ordenadas para a glória do Criador.
Abraão, rico em posses, foi pobre em espírito, por isso agradou tanto ao Senhor. O mesmo se pode dizer de Lázaro, amigo e discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para entender bem o significado do que é ser pobre em espírito, leiamos abaixo o comentário do Papa São Leão Magno em seu sermão sobre as Bem-aventuranças.
Liturgia das Horas 5-9-2013
Segunda leitura
Início do Sermão sobre as Bem-aventuranças, de São Leão Magno, papa
(Sermo 95,1-2: PL 54,461-462)
(Séc. V)
Imprimirei a minha lei em seu íntimo
Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus (Mt 5,3). Seria talvez ambíguo a que pobres se referia a Verdade, se dissesse: Bem-aventurados os pobres, sem acrescentar nada sobre a espécie de pobres, parecendo bastar a simples indigência, que tantos padecem por pesada e dura necessidade, para possuir o reino dos céus. Dizendo porém: Bem-aventurados os pobres em espírito, mostra que o reino dos céus será dado àqueles que mais se recomendam pela humildade dos corações do que pela falta de riquezas.
Liturgia das Horas de 6-9-2013
Segunda leitura
Do Sermão sobre as Bem-aventuranças, de São Leão Magno, papa
(Sermo 95,2-3: PL 54,462)
(Séc. V)
Bem-aventurados os pobres de espírito
Não há dúvida de que os pobres alcançam mais facilmente que os ricos o bem da humildade; estes, nas riquezas, a conhecida altivez. Contudo em muitos ricos encontra-se a disposição de empregar sua abundância não para se inchar de soberba, mas para realizar obras de benignidade; e assim eles têm por máximo lucro tudo quanto gastam em aliviar a miséria do trabalho dos outros.
A todo gênero e classe de pessoas é dado ter parte nesta virtude, porque podem ser iguais na intenção e desiguais no lucro; e não importa quanto sejam diferentes nos bens terrenos, se são idênticos nos bens espirituais. Feliz então a pobreza que não se prende ao amor das coisas transitórias, nem deseja o crescimento das riquezas do mundo, mas anseia por enriquecer-se com os tesouros celestes.
Neste dia em que o mundo comemora aqueles que generosamente nos deram a vida e nos sustentam com seu amor e afeto, o blog do Apostolado do Oratório recolheu do Livro do Eclesiástico palavras de vida e salvação para os filhos, a fim de que compreendam melhor o porquê de o Senhor criar o 4º Mandamento: Honrar pai e mãe. Também selecionou uma bela oração dedicada aos genitores.
A todos os pais, desejamos que Nossa Senhora os conduza, abençoe e inspire com graças superabundantes.
Livro do Eclesiástico, capítulo 3:
2. Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que sejais salvos.
3. Pois Deus quis honrar os pais pelos filhos, e cuidadosamente fortaleceu a autoridade da mãe sobre eles.
4. Aquele que ama a Deus o roga pelos seus pecados, acautela-se para não cometê-los no porvir. Ele é ouvido em sua prece cotidiana.
5. Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro.
6. Quem honra seu pai achará alegria em seus filhos, será ouvido no dia da oração.
7. Quem honra seu pai gozará de vida longa; quem lhe obedece dará consolo à sua mãe.
8. Quem teme ao Senhor honra pai e mãe. Servirá aqueles que lhe deram a vida como a seus senhores.
9. Honra teu pai por teus atos, tuas palavras, tua paciência,
10. a fim de que ele te dê sua bênção, e que esta permaneça em ti até o teu último dia.
11. A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces.
12. Não te glories do que desonra teu pai, pois a vergonha dele não poderia ser glória para ti,
13. pois um homem adquire glória com a honra de seu pai, e um pai sem honra é a vergonha do filho.
14. Meu filho, ajuda a velhice de teu pai, não o desgostes durante a sua vida.
15. Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes forte, pois tua caridade para com teu pai não será esquecida,
16. e, por teres suportado os defeitos de tua mãe, ser-te-á dada uma recompensa;
17. tua casa tornar-se-á próspera na justiça. Lembrar-se-ão de ti no dia da aflição, e teus pecados dissolver-se-ão como o gelo ao sol forte.
18. Como é infame aquele que abandona seu pai, como é amaldiçoado por Deus aquele que irrita sua mãe!
19. Meu filho, faz o que fazes com doçura, e mais do que a estima dos homens, ganharás o afeto deles.
Oração dos filhos pelo pai
Senhor Deus, Pai Divino, criador do gênero humano, vós enviastes vosso filho Jesus para redimir e salvar os homens. Ele quis nascer numa família como a nossa, por isso lhe destes a Santíssima Virgem Maria como Mãe e o castíssimo São José como Pai. Em nome de Vosso filho e pela intercessão de vossa Filha bem amada, Vos pedimos por todos os pais terrenos, para que, a exemplo de São José, amem a seus filhos, cuidem deles e os proteja; sobretudo, ensinai-lhes a Vos amar, porque sois nosso Pai do Céu. Que ele Vos sirvam em tudo e alcancem finalmente a vida eterna. Tudo isso pedimos a Vós, que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém