Comentário ao Evangelho do VI Domingo do Tempo Comum
As bem-aventuranças enunciadas por Jesus mudaram o curso da História e marcaram o início de uma nova era: o Cristianismo. A crueldade do mundo pagão foi assim ferida de morte. E a doutrina da obediência à Lei requintou-se até alcançar um sublime grau: a prática do amor e o desejo de santificação
Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP
Os primeiros passos para a fundação da Igreja
Com a eleição dos doze Apóstolos, concluiu Jesus com chave de ouro a primeira fase do ensino. Tornava-se agora necessário expor sua doutrina de maneira metódica, a fim de conferir um embasamento lógico a todas as suas ações e ensinamentos.
E é nessa sequência que se insere o Sermão da Montanha.
Todas as vezes que entramos em contato com um comentário de um dos Padres da Igreja a respeito dos Santos Evangelhos, sentimos um gáudio interior pela sabedoria, precisão e lucidez das suas explicações. Muito se fala hoje em pobreza, porém ela nem sempre é sinônimo de desapego aos bens terrenos e amor aos bens celestiais. Pelo contrário, é comum ver pessoas pobres que alcançam boa situação financeira esquecer do passado, deixando de lado a humildade e simplicidade de caráter, e acumulando toda espécie de riquezas materiais. Atiram-se nelas como se fosse o fim último do homem na terra. E como bem nos ensina São Paulo em suas epístolas, as criaturas estão ordenadas para a glória do Criador.
Abraão, rico em posses, foi pobre em espírito, por isso agradou tanto ao Senhor. O mesmo se pode dizer de Lázaro, amigo e discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para entender bem o significado do que é ser pobre em espírito, leiamos abaixo o comentário do Papa São Leão Magno em seu sermão sobre as Bem-aventuranças.
Liturgia das Horas 5-9-2013
Segunda leitura
Início do Sermão sobre as Bem-aventuranças, de São Leão Magno, papa
(Sermo 95,1-2: PL 54,461-462)
(Séc. V)
Imprimirei a minha lei em seu íntimo
Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus (Mt 5,3). Seria talvez ambíguo a que pobres se referia a Verdade, se dissesse: Bem-aventurados os pobres, sem acrescentar nada sobre a espécie de pobres, parecendo bastar a simples indigência, que tantos padecem por pesada e dura necessidade, para possuir o reino dos céus. Dizendo porém: Bem-aventurados os pobres em espírito, mostra que o reino dos céus será dado àqueles que mais se recomendam pela humildade dos corações do que pela falta de riquezas.
Liturgia das Horas de 6-9-2013
Segunda leitura
Do Sermão sobre as Bem-aventuranças, de São Leão Magno, papa
(Sermo 95,2-3: PL 54,462)
(Séc. V)
Bem-aventurados os pobres de espírito
Não há dúvida de que os pobres alcançam mais facilmente que os ricos o bem da humildade; estes, nas riquezas, a conhecida altivez. Contudo em muitos ricos encontra-se a disposição de empregar sua abundância não para se inchar de soberba, mas para realizar obras de benignidade; e assim eles têm por máximo lucro tudo quanto gastam em aliviar a miséria do trabalho dos outros.
A todo gênero e classe de pessoas é dado ter parte nesta virtude, porque podem ser iguais na intenção e desiguais no lucro; e não importa quanto sejam diferentes nos bens terrenos, se são idênticos nos bens espirituais. Feliz então a pobreza que não se prende ao amor das coisas transitórias, nem deseja o crescimento das riquezas do mundo, mas anseia por enriquecer-se com os tesouros celestes.