Meditação para o Primeiro Sábado de julho

(Preparação do texto para a meditação: J. B. Gioffi)

Vamos dar inicio a meditação reparadora do primeiro sábado, que nos foi indicada por Nossa Senhora, quando apareceu em Fátima no ano de 1917. Pedia Ela que comungássemos, rezássemos um terço, fizéssemos meditação dos mistérios do Rosário e confessássemos em reparação ao seu Sapiencial e Imaculado Coração. Para os que praticassem esta devoção, Ela prometia graças especiais de salvação eterna. A meditação visa contemplar um dos mistérios do Rosário, fazendo com que o Coração Imaculado de Maria se sinta aliviado, se sinta reparado de tantos pecados de tantos horrores, de tantas imoralidades, tantos delírios que se cometem nos dias de hoje. Ou seja, é importante que além da confissão, da comunhão, além do terço que rezamos, meditemos, considerando todas as maravilhas que Deus operou na sua alma santíssima.

 

Cristo AmiensTerceiro mistério luminoso:

 

Anuncio do Reino de Deus e o convite à conversão.

 

“Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho de Deus e dizia: completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho.” 
 (Mc. 1, 14-15)

 

 

Oração Inicial

Oh! Virgem Santíssima, queremos reparar o Vosso Sapiencial Coração e para isso pedimos especiais graças, por causa de tantas ofensas que recebeis continuamente desta humanidade que se encontra perdida entre tantos pecados e tantos horrores.
Assim sendo, Senhora, é também através desta meditação que poderemos aproximar de nosso fim último, aquele para o qual fomos criados. Para isso, pedimos luzes especiais para a nossa inteligência, entusiasmo para nossa vontade, consolação para a nossa sensibilidade, a fim de contemplarmos bem este mistério do Rosário que hoje vamos meditar; e estejais presente, Senhora, a cada passo da nossa vida.
Assim seja!

 

 I – O que vém a ser o Reino de Deus?


Buen Dieu“Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!”
(Mc. 1, 27)

 

Curava estas e aquelas doenças com tal eficácia, que nenhum médico, hospital ou qualquer medicamento conseguia fazer igual.

Curava, perdoava os pecados, expulsava os demônios ensinando que era preciso todos se preparassem porque o Reino de Deus estava próximo.

Mas o que é propriamente este Reino? Vamos nos aprofundar no conhecimento e significado exatos do que possa ser este Reino.

Os judeus a partir do ano 587 perderam o seu último rei. Desta data até a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, não tiveram mais um governo independente, com exceção de um curto período na época dos Macabeus. Por isso, o que os judeus mais queriam era a restauração de um reino humano. Contudo não era deste reino que Jesus falava; Ele se referia ao Reino da Graça, ao Reino da Igreja Católica, ao Reino da Glória. Quando falamos em Reino de Deus, devemos nos lembrar das palavras de Jesus a Pilatos: “Meu Reino não é deste mundo…” De fato, o reino deste mundo não é o d’Ele, o Reino de Jesus neste mundo está oculto no interior das almas, e na sua aparência, está na Igreja Católica, mas não como um governo humano.

Vamos meditar o que constitui o verdadeiro Reino de Deus: o reino da Graça na Igreja.

1 – O Reino da Graça!

O que é a graça? Segundo o Catecismo, é um dom gratuito criado por Deus, infundido na alma do homem e que nos faz participar física e formalmente de Deus.

Na relação pais/filhos temos duas figuras de filiação: a natural e a adotiva. O que é a  adoção? Uma família tem um filho e o quer entregar aos cuidados de uma outra família. O que fazem? Ambas famílias vão ao Cartório e a 1ª família passa seus direitos sobre a criança para a 2ª família. Aquela criança que tem seu sangue e sua origem em seus pais, passa juridicamente a pertencer àquela família que a adotou. Mas com a criança nada acontece, ela continua  a ser a mesma e é possível que mais tarde esta criança queira conhecer os seus verdadeiros pais, de tal maneira está ligada a eles.

Por ocasião do batismo o sacerdote derrama água sobre a cabeça da criança dizendo: eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; o que se passa nesse momento? Não é um registro de documento feito em Cartório; a criança já não é mera criatura, ela, a partir deste momento, recebe o título de filha de Deus. Neste ato passa-se algo na alma da própria criatura que é um verdadeiro milagre – ela passa a participar da natureza divina. Seria mais ou menos como tomar uma formiga e fazê-la participar da natureza humana. No entanto, é  muito menos fazer uma formiga passar pertencer à natureza humana, do que aquela criança passar a participar da vida divina. Ela passou a ter a vida de Deus em si; nela são infundidas todas as virtudes, todos os dons; ela passa a participar dos méritos de Jesus Cristo.

Antes do Batismo toda criatura está fora da lei da graça, pois, este é o estado de todos aqueles que não receberam esse sacramento. Toda criatura carrega consigo o pecado Original, e assim sendo, é rejeitada por Deus. Entretanto, recebendo o Batismo esta condição muda totalmente – os teólogos não encontraram uma metáfora para explicar o que acontece neste momento – mas dá-se, mais ou menos como se todo o sangue da criança fosse retirado por uma das veias, e por outra fosse introduzido o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela passa a participar da divindade a partir deste momento, tornando-se assim, realmente filha de Deus. Com isso penetra na alma dela como Pai e como Amigo a Deus uno e trino – Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Ela passa a ser tabernáculo de Deus, a tal ponto, que nos primeiros tempos do Cristianismo não era só a Bíblia, não era só o altar, que eram usados para se fazer os juramentos, eram tomadas, não poucas vezes, as crianças recém-batizadas e as partes faziam o juramento colocando a mão sobre o peito desta criança, para atestar diante da Santíssima Trindade o que estavam falando era a verdade. Essa era a noção que se tinha, que Deus nela estava presente.

2 – Exemplos: conversa com Nicodemos e a samaritana.

Quando Jesus conversa com Nicodemos,diz a ele que se não renascesse de novo, não teria a vida. Para renascer, era preciso que a vida divina penetrasse nele.

Mais claro ainda será Jesus com a samaritana, quando diz que ela daria a Ele uma água que possibilitava matar a sede, mas que Ele poderia dar uma outra água, que uma vez bebida, a pessoa não tornaria a ter mais sede.

Muito mais do que os exemplos de Nicodemos e da samaritana, nós vamos encontrar esta vida bem expressa naquela cena em que os Apóstolos – que estavam acostumados com São João Batista a aprender esta ou aquela oração – voltam-se para Nosso Senhor e pedem que os ensinassem a rezar. Jesus dá a eles a mais bela, a mais perfeita, a mais extraordinária das orações:  “Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome. Venha a nós o Vosso Reino…”. Aí está o Reino de Deus proclamado no Pai Nosso – Venha a nós o Vosso Reino.      É este o desejo que devemos ter: que o Reino que existe na Glória, se estabeleça também sobre a face da Terra. Sobretudo que este Reino se estabeleça, se efetue, se torne forte, no fundo dos nossos corações.          

Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como ela é feita no Céu. Portanto, que a vontade de Deus tal qual ela é no Céu, seja estabelecida também neste mundo.

 

II – O alimento do Reino de Deus !

Ficará ainda mais claro o que é este Reino da Graça, na descrição feita por São João, a respeito da maravilhas da Eucaristia, no sermão feito por Nosso Senhor.

Evangelho de João 6, 35, 51, 54 –  “Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede.”  * “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo”. * “Quem como a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”.

Vemos nestas citações que o  Reino de Deus e o Reino da Graça, é a graça vivendo em nós; é a graça que começa com o Batismo, que se fortifica com a Crisma. É a graça que cresce quando nos alimentamos com a sagrada Eucaristia Para isso, Nosso Senhor deixou-se ficar em Corpo, Alma e Divindade, debaixo das espécies eucarísticas, para aumentar esse Reino de Deus que existe dentro de cada de nós.

No entanto esse Reino tem um grande adversário: o pecado. Por isso, devo fazer de tudo para evitar o pecado, a fim de manter vivo no fundo de minha alma esse Reino.

É uma loucura o pecado; ele nos traz muitas vezes um prazer fugaz, são trinta segundos, um minuto, depois o que acontece comigo? Perco o Reino de Deus, deixo de participar da natureza divina, volto ao meu estado de maldição, porque quem peca se torna inimigo de Deus. Entretanto Ele é tão misericordioso que nos deixou o sacramento da Penitência. Depois de uma confissão bem feita, tudo o que tínhamos perdido, nos é devolvido.                                                

1 – Ponto de reflexão:

Nós fomos criados não para viver neste mundo. Os adoradores deste mundo quereriam perpetuar sua existência, ainda que sofrendo, para poder gozar sem limites as alegrias fugazes, que se evaporam com toda a facilidade. Nós somos criados para uma alegria eterna, para a glória eterna.

Diz o Evangelho que na casa do Pai há muitas moradas, “se não fosse assim eu vô-lo diria”. Mais adiante Jesus diz: quando eu estiver ido, e vos tenha preparado um lugar, de novo retornarei e vos tomarei comigo, para que, onde eu estou, estejais também vós. A palavra de Jesus é lei, se Ele disse que vai preparar, é porque vai preparar mesmo e Ele tem preparado para cada um de nós um lugar no céu.

Ele disse que voltará para nos levar para o céu –  é o que acontece com aquele que morre na graça de Deus, Ele o toma e leva para o lugar que lhe preparou, desde toda a eternidade.      

Em vista de tudo isso quanto vale a pena evitar o pecado, porque se eu peco o que pode me acontecer? De repente um carro me pega, uma bala perdida me atravessa, e eu me apresento diante de Deus em estado de pecado. Por isso, devo ter um amor a Deus intenso e crescente,  para que eu possa também ter um gozo junto a Ele que nunca se acabará.

 

Oração Final

Oh! Rainha do céu e da terra, Vós que sois soberana deste Reino tão maravilhoso que é o Reino da Graça, o Reino da Igreja, que é o Reino da Glória, tende misericórdia, tende bondade, perdoai as minhas faltas; daí-me graças para nunca pecar, daí-me graças de compreender as belezas que perderei se sucumbir quando o demônio me tentar para praticar o que não é licito, daí-me a graça de sempre me afastar do mal; que eu não tenha delírios por aquela roupa imoral, que eu não tenha delírios por aquele pecado horroroso, mas, pelo contrário, que eu me deixe tomar, me entusiasmar, pelas maravilhas do céu, para as maravilhas para as quais me criastes; Senhora! Eu quero estar convosco no céu; daí-me esta graça. Assim seja!!!

(Meditação – 1º de julho de 2006 -Mons. João S.Clá Dias – Catedral da Sé, São Paulo.)

 

Meditação para o Primeiro Sábado de maio

 

A instituição da Eucaristia

  

Eucaristia“Eu sou o Pão vivo descido do Céu…
Quem comer deste Pão, viverá eternamente;
e o Pão que Eu darei é a Minha carne para a salvação do mundo”. (Jo 6, 51).

 

Introdução:

Em união com toda a Igreja no Brasil, escolhemos o tema deste quinto mistério luminoso do Santo Rosário: A Instituição da Eucaristia, porque nos dias 13 a 16 de maio 2010 realizar-se-á, o XVI Congresso Eucarístico, cujo tema é “Eucaristia, Pão da Unidade dos Discípulos e Missionários-Fica Conosco, Senhor”!

 

PREFÁCIO:

Ao comer o fruto proibido, nossos primeiros pais pecaram e entrou no mundo a morte.
Por meio de outro alimento, o “Pão descido do Céu”, foi-nos restituído a vida.
Na Eucaristia, o próprio Deus Se oferece ao homem como comida, dando-lhe infinitamente mais do que havia perdido!

 

I – Jesus é incompreendido…

Como era possível a alguém contestar as claras afirmações de Jesus a respeito de Sua divindade e desprezar os Seus divinos atributos? Como duvidar de Nosso Senhor ante provas tão evidentes: cura de todo tipo de doenças, libertação de possessões diabólicas, ressurreições e outros milagres assombrosos, entre os quais a mudança da água em vinho, ou a multiplicação de pães e peixes, ocorrida pouco depois de anunciar a Eucaristia?
O que levava seus contemporâneos a tal atitude?

 

1 – Quando no homem prepondera a matéria …

 A natureza humana é um composto de espírito e matéria – a alma e o corpo – na qual há uma hierarquia em que a parte espiritual deve governar a material, o que ocorre pela prática da virtude, com o auxílio da graça. Mas, quando o homem se deixa dominar pelas potências inferiores, as paixões desregradas exercem uma tirania sobre a parte mais nobre e elevada, e ele fica entregue ao vício. No primeiro caso predomina o espírito e dizemos estar diante do homem espiritual; no segundo, prepondera a matéria: é o homem carnal, materialista.

 

2 – Psicologia do homenm carnal:

Detenhamo-nos um pouco no segundo caso, procurando descrever alguns traços da psicologia do homem carnal, para melhor compreendermos a dureza de coração dos contemporâneos de Jesus.

O materialista está voltado principalmente para a fruição sensível da vida. Seus horizontes intelectuais pouco mais abarcam do que a realidade concreta. Dir-se-ia ter perdido a capacidade de ver os fatos em três dimensões, passando a observar tudo apenas num plano só, o dos seus pequenos interesses pessoais e imediatos, sem a profundidade do que é eterno. Por isso, não é capaz de captar as realidade mais elevadas, de ordem sobrenatural.

O materialista é um míope do espírito. Torna-se incapaz de elevar o olhar para os grandes horizontes da Fé que Deus lhe oferece misericordiosameente.

 

 3 – Visualização deformada dos contemporâneos de Jesus.

É essa impostação distorcida do espírito que levava os contemporâneos de Jesus a verem nEle apenas o filho do carpinteiro José, e nada mais. Eram incapazes de admirar e venerar Suas excelsas virtudes, nas quais não podia deixar de transparecer Sua divindade, por terem o espírito endurecido pela consideração apenas da realidade concreta, imediata e visível. Não podiam admitir que Aquele que tinham visto crescer e vivia entre eles pudesse ser Deus e homem: “Como, pois, diz Ele: Desci do Céu?” (Jo 6, 42).

 Divisor

 

 

II – O Principal obstáculo para crer na Eucaristia.

Era dessa visualização materialista que nascia a impossibilidade de aceitar o maior dom de Deus à humanidade: a Eucaristia !!

Com efeito, as realidades visíveis são imagens das realidades invisíveis e sobrenaturais, como ensina São Paulo: “Desde a criação do mundo, as perfeições de Deus, o Seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por Suas obras” (Rm 1, 20). Mas, para ter essa visão do universo é necessário ser homem espiritual.

Ora, carnal e voltado para a realidade concreta, não poderia a grande parte do povo judeu compreender quando falava de um “Pão descido do Céu”, que lhes traria a vida eterna. Para eles, a finalidade única do alimento era sustentar a vida material do homem. Seu intelecto dificilmente poderia se alçar a essa verdade transcendente: ao criar o homem com a necessidade de nutrir-se, Deus tinha em vista a instituição da Eucaristia, para poder sustentar, por meio do “Pão descido do Céu”, sua vida sobrenatural.

 

III – O pecado original foi cometido pelo abuso de um alimento; e a salvação eterna nos vem através de outro: a Eucaristia !

 A alimentação, além da finalidade imediata de manter a vida do homem, tem também um importante papel social: o de unir as pessoas. Por exemplo, é em torno da mesa que a família se reúne diariamente e põe em comum, não só os alimentos, mas também os sentimentos, os ideais, o modo de ser e até os problemas caseiros. É à mesa que se desenvolve a conversa e os pais têm uma das melhores ocasiões de ir formando o espírito dos filhos.

 

1- O alimento favorece a união dos que o partilham.

O fato de se sentarem todos juntos para fazer a refeição estabelece um especial traço de união entre os membros de uma família, de um grupo de amigos ou de uma comunidade religiosa, que vai além das simples iguarias para valores mais altos. O alimento possui algo que favorece a união daqueles que o partilham. Os vínculos familiares, sociais ou religiosos se fortalecem e a verdadeira amizade se consolida.

É também em torno da mesa que se realizam as comemorações dos pequenos ou grandes fatos da vida.

 

2 – A morte entrou pelo mau uso do alimento …

Mesmo no Paraíso Terrestre, onde o homem tinha os instintos perfeitamente ordenados, é de se supor que, se não tivesse havido pecado e a vida se desenvolvesse normalmente, também seria em torno da mesa que transcorreriam os melhores momentos do convívio social e familiar.

E como o maior dom de Deus à humanidade seria dado sob a forma de alimento, foi através de um elemento nutriente que o Criador quis pôr à prova nossos primeiros pais, para depois conceder-lhes tão alta dádiva: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente” (Gn 2, 16-17).

É esta a forma caracteristica do agir de Deus. Pede uma pequena renúncia para depois dar, em recompensa, uma infinitude.

 

3 – A Eucaristia a resposta de Deus ao pecado Original.

Quando Adão comeu o fruto proibido, entrou a morte no mundo; por meio do “Pão descido do Céu”, nos foi restituida a Vida: “Quem comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51).

O primeiro pecado foi cometido pelo abuso de um alimento, e a salvação eterna nos vem através de outro. A Eucaristia se apresenta como uma resposta, da parte de Deus, ao pecado original, dando aos filhos de Adão infinitamente mais do que haviam perdido: é o próprio Deus que Se oferece em alimento ao homem.

Não há possibilidade de um dar-se maior do que a Eucaristia …

… “E o Pão que Eu darei é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6, 51b).

 

Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos! Peço–Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam. (Oração ditada pelo Anjo da Paz, aos Três Pastorinhos de Fátima).

 Cfr. Revista Arautos do Evangelho, nº 92, agosto 2009, pp.11-12 – Mons.João S.Clá Dias

 

 IV – A instituição da Eucaristia na Ultima Ceia

 “Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: “Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado popr muitos homens em remissão dos pecados. Digo-vos: doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu Pai”. (Mt.26, 26-29)

 

Que mais poderia nos ter dado Jesus ? Fez-se comida e bebida para podermos participar eternamente da sua própria vida. Desceu do mais alto dos Céus assumindo a substância do pão e do vinho para elevar-nos ao convívio de Deus.

O sacerdote católico recebeu a grande glória de poder emprestar sua laringe e suas mãos ao Divino Mestre, para que, sobre o altar, se opere um dos maiores milagres -e o mais frequente deles- da História da humanidade: a transubstanciação. Quer dizer, a substância pão e a substância vinho cedem lugar à substância Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

De fato, pela nossa inteligência, jamais chegaríamos a penetrar nesse mistério tão sagrado. Nem sequer os demônios, que, embora decaídos, são de natureza angélica, e portanto superior à nossa, conseguem discernir nas aparências do pão e do vinho o Homem-Deus. Só mesmo a Fé nos faz penetrar nesse mistério sagrado.(3)

Ao comungarmos, nós nos assemelhamos a Maria, por momentos, possuindo o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus em nossas entranhas.

 

Aplicação: Nesta meditação somos convidados a progredir muitíssimo no amor ao culto eucarístico, na adoração ao Santíssimo Sacramento, no aprofundamento da piedade, na devoção a Jesus-Hóstia, etc. e tirar desse convivio um proveito enorme para a nossa vida, porque nada consola mais do que a Eucaristia. Por exemplo, peçamos a Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento a graça de crescer ardorosamente na devoção eucarística, e de jamais perdermos a oportunidade de comungar com toda a fé, esperança e amor.

 

Coração Eucarístico de Jesus, fonte de toda consolação; tende piedade de nós!

 

Oração final: Ó Maria, Vós que sois a maior devota do Santíssimo Sacramento, ardente de amor a Deus em Vosso Imaculado Coração, nos convidando a sermos devotíssimos da Eucaristia, suplicamos que aceiteis esta meditação em desagravo ao Vosso Sapiencial e Imaculado Coração. Concedei-nos graças sobre graças na linha de compreendermos bem o tesouro que possuímos, o mais belo e o mais essencialmente elevado dos sacramentos e dai-nos um ardor extraordinário pela Eucaristia como Vós tivestes.

Minha Mãe, aqui estamos para que nos transformeis em ardorosos adoradores da Eucaristia!

Assim seja!

 

Meditação para o Primeiro Sábado

Jesus é condenado à morte

 

Cristo crucificadoEle próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário”.

(Jo 19, 17)

 

 

 “Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado”. (Is 53, 4)

  

Introdução

 

Durante esta Quaresma e, de modo especial, nos dias cheios dos imponderáveis sérios e graves da Semana Santa, acheguemo-nos aos pés da Cruz de onde pende o Salvador abandonado por quase todos – sobretudo neste século em que tantos e tantos homens só procuram o prazer e o bem-estar pessoal – e coloquemos nas mãos da Mãe Dolorosa, cuja alma foi transpassada pelo gládio da dor, toda a nossa entrega e disposição de padecer por Cristo e por Sua Igreja.

 

Oração inicial

 

 Ó Virgem Dolorosa, nós sabemos que juntamente com Vosso divino Filho sofrestes as dores da Paixão. Vós sofrestes como Mãe, quase que na própria carne – porque mais dói a dor da alma do que a do próprio corpo. No caminho do Calvário, Vós encontrastes Jesus quando carregava a cruz às costas. Ó Mãe Santíssima nós Vós pedimos graças super abundantes, graças eficazes, graças até místicas para bem realizar esta meditação e que ela de fato possa, de alguma forma, reparar o Vosso Sapiencial e Imaculado Coração por tantos crimes, tantos horrores e pecados que ocasionaram a Paixão de Vosso divino Filho. Hoje, ao considerardes esses crimes, blasfêmias, pecados, que vos recordeis das dores de Jesus e das vossas dores, em união com Ele.

Que essas dores penetrem em nossos corações e que cheios de arrependimento por nossas faltas, cheios de mágoa e ao mesmo tempo cheios de desejo de emenda para este mundo tão pecador. Alcançai-nos nesta meditação, a compreensão do quanto o pecado atrai sobre nós o castigo, e o quanto o pecado sem arrependimento, atrai a cólera de Deus.

Doce Coração de Maria, aceitai esta humilde meditação como emenda para nós e reparação ao Vosso Sapiencial e Imaculado Coração.

 

Assim seja!

1 – Jesus abraça a cruz: o símbolo da vergonha!

 

cruz com os coraçõesEm verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado”. (Is 53, 4)

 

Jamais um romano poderia ser condenado à morte de crucifixão, por ser símbolo máximo de desonra, reservada aos piores criminosos. O sinal da vergonha por excelência foi abraçado por Jesus, “Ele próprio carregava a sua cruz…” (Jo. 19, 17).

Bem se poderia ver naquela cruz a imagem de nossos pecados. “Quem pode, entretanto, ver as próprias faltas?” (Sl 18, 13). Quem entenderá o pecado ? Este é o pior de todos os males, o ato de maior oposição a Deus. Naquela cruz estavam todos os meus pecados …

Neste passo da Paixão, Jesus toma sobre Seus adoráveis ombros meus pecados Entretanto, o Divino Redentor é Rei tão grandioso que transformará a cruz em objeto de elevada nobreza e distinção. Ela será colocada no alto das torres das igrejas, nas coroas dos reis e será objeto do amor apaixonado dos santos.

Como Jesus recebeu a cruz?

A cruz está diante de Nosso Senhor que contempla aquele instrumento de dor; como Ele a acolheu ? Aceitou, já que não havia remédio; apenas aprovando o sofrimento?

Não. No caminho da Paixão, Jesus nos deu um luminoso e admirável exemplo.

Conta uma piedosa revelação que, quando recebeu das mãos dos carrascos a Cruz, Nosso Senhor se ajoelha sem auxílio de ninguém, com as forças quase desaparecidas, contudo, Ele está ali com disposição, com ardor, abraça a cruz e a beija amorosamente; e, tomando-a sobre os ombros, leva-a até o alto do Calvário.

Ora,’a teologia nos ensina que, para resgatar o gênero humano, teria bastado Nosso Senhor Jesus Cristo oferecer a Deus Pai um simples gesto, ou até mesmo um piscar de olhos, por serem de valor infinito todos os Seus atos. Portanto, uma única gota de sangue derramado durante a Circuncisão seria suficiente para realizar a obra da Redenção.

Entretanto, decretou o Padre Eterno que Ele deveria sofrer a Paixão e Morte de Cruz. O Filho, que por Sua natureza divina não era capaz de sofrer, quis assumir nossa carne em estado padecente, e não em corpo glorioso, como correspondia à Sua alma, que se encontrava na visão beatífica desde toda eternidade’. (Rev.Arautos do Evangelho nº 87, Ir. Clara Isabel Morazzani Arráiz, EP; mar.2009, p. 22)

 

Ponto de reflexão

 

Que devo eu oferecer a Jesus neste momento em que O vejo beijar a cruz ?

Ó Jesus meu! Ao ver-Vos ajoelhado para abraçar a cruz, lanço-me a Vossos pés contrito e humilhado. Quantas e inúmeras vezes Vos ofendi?

Eu me transformei no horror do universo inteiro, em todas as ocasiões que pequei contra Vós.

Perdão, Senhor, perdão! Consumi todas as minhas culpas na Vossa infinita misericórdia e transformai-as em mais uma coroa de Vossa glória.

 

 

2 – Jesus cai debaixo da cruz.

 

Cristo carregando a cruzMas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades.

O castigo que nos salva pesou sobre ele, e fomos curados graças às suas chagas”

(Is 53, 5).

Meditação  

 

Terríveis são os nossos crimes, eles fazem cair ao solo um Deus feito homem.

Não era longo o caminho até o Calvário, mas Jesus ainda cairá mais duas vezes mais. O esgotamento produzido pela flagelação, sucedida da coroação de espinhos, a noite sem dormir… O peso de nossas ofensas O faz perder as forças.

Bem poderia negar-Se a continuar Sua Via Sacra. Bastaria todo o ocorrido até aqui para justificar a incapacidade de prosseguir. Mas, Ele deseja ensinar-nos a nunca desanimar.

Nesse passo, Ele demonstra estar disposto a nos reeguer de nossas quedas, por piores que sejam.

 

Oração

 

 Ó Jesus, castigado por meus crimes e esmagado por minhas infidelidades, quanto Vos adoro e Vos agradeço por quererdes reerguer-me de minhas quedas. Elevai-me desta situação em que me encontro, produzi em mim uma verdadeira conversão, para que eu retorne ao caminho da salvação e nunca desanime. Que eu deteste tudo aquilo que me separa de Vós, morra para o pecado e jamais desonfie do Vosso socorro.

 

 

3- Jesus cai pela segunda vez!

 

…o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador”. (Is 53, 6-7)

Meditação

 

 Nada acontece a Jesus sem um profundo significado. Tudo n’Ele é simbólico e tem sua razão de ser. Essa segunda queda acentua ainda mais a noção de quanto pesam, sobre seus sagrados ombros, os nossos pecados.

Suas forças vão enfraquecendo a cada passo e, apesar do auxílio do Cireneu, a cruz vai se tornando esmagador. Quem, ao cair pela segunda vez naquelas circunstâncias, não se deixararia permanecer no solo?

Teria chegado a oportunidade para desistir. Porém, como eram suaves aquelas quedas no caminho em comparação com os sofrimentos que ainda viriam.

Ademais, quis Jesus mostrar-nos qual deve ser a extensão de nossa confiança, mesmo quando recaímos em nossas faltas. O Salvador está sempre disposto a nos perdoar e para isto é fundamental nunca desanimar. Tendo Ele assumido nossas culpas, jamais deixará de nos reerguer. Duvidar da misericórdia infinita de Deus, tão desejoso de nos perdoar e salvar, é uma ofensa ainda pior do que o próprio pecado, segundo ensina Santo Agostinho.

 

Oração

 

 Uma segunda queda, ó Jesus! Vejo bem o quanto Vos pesam os meus crimes. As pedras do caminho são menos duras que meu coração. Se elas fossem dotadas de inteligência e vontade, começariam a soluçar de compaixão!  

 

 

4- Jesus cai pela terceira vez!

 

Também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os Seus passos.

Carregou os nossos pecados em Seu corpo para que, mortos os nossos pecados, vivamos para a justiça” (I Pe 2, 21, 24).

 

Meditação

 

Aí está, diante de nossos olhos e sob o peso da cruz, banhada já pelo preciosíssimo e adorável Sangue do Redentor, caído ao chão pela terceira vez.

Uma vez mais a imagem de nossa miséria. Assim somos nós. Os nossos melhores atos de virtude vêm sempre embebidos das faltas que tanto atormentam a delicada e sensível consciência dos santos. “Afinal, não pecarei mais”, foi o último gemido lançado por São Luís Grignion de Montfort, antes de expirar.

 

Reflexão

 

Quantas e quantas vezes não fomos relaxados no cumprimento de nossos deveres, na prática da virtude, no evitar as ocasiões que nos levam ao pecado… Como estamos longe da perfeição, deixando Jesus ser quase esmagado sob o peso da Cruz, sem me preocupar em ajudá-Lo!

Por outro lado, Jesus nos repete: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida!” (Jo 14, 6). Ele nos dá o divino exemplo: não devemos nos apoiar nas inconsistentes promessas humanas; só no sobrenatural está nosso amparo e proteção. Nem o ressentimento pode ser a nossa lei. Se nos abandonam ou nos perseguem, e caimos sob o madeiro das decepções, jamais o desânimo nos abaterá, desde que nós sigamos o exemplo do nosso Divino Mestre: retomar a cruz e chegar ao fim.

Sempre há mais para dar, mesmo quando o fôlego parece já não existir. Essa é também uma das lições contidas nesta Estação.

 

 

5 – Jesus é pregado na cruz

 

instrumentos da paixão “Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali O crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda. Pilatos redigiu uma inscrição e a fixou por cima da cruz. Nela estava escrito: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus” (Lc 23, 33; Jo 19, 19).

 

Meditação

 

Por fim chega Jesus ao Calvário, lugar onde segundo uma piedosa e antiga tradição, Adão havia sido sepultado. Ali abundara o pecado, ali transbordaria a graça.

Crucificado! Aquela mesma cruz que tanto Lhe pesara sobre os ombros seria Seu instrumento de morte.

Os braços abertos para atrair a Si a humanidade inteira, sem distinção de pessoas de qualquer espécie, conforme afirma São João Crisóstomo. Já em estado pré-agônico, enormes cravos perfuram Suas sagradas mãos e divinos pés, levando-O a contorcer-Se sob a ação da dor.

Ao pé da cruz, enquanto os soldados repartiam entre si do Divino Crucificado, Ele entregava mais Sua preciosa herança – Maria Santíssima – ao discípulo amado, num último e supremo gesto de amor filial. Também ali estavam as Santas Mulheres, dignas de admiração por sua corajosa determinação de permanecer junto à cruz, os olhos postos no Salvador, impávidas diante do ódio dos fariseus que pusera em fuga os Apóstolos.

Nossa Senhora das Dores. – Mas, exemplo sem igual nos dá a Mãe de Deus, como lembra Teófilo: “Imitai, ó mães piedosas, esta que tão heróico exemplo deu de amor maternal a seu amantíssimo Filho único; porque nem vós tereis mais carinhosos filhos, nem esperava a Virgem o consolo de poder ter outro”.

 

Oração Final

 

 Eu vos dou graças, Ó Jesus meu! Reconstituo, nesta meditação reparadora, o drama da loucura de amor de um Deus por suas criaturas. Se fosse eu o único a haver pecado, Vosso procedimento não teria sido outro. Por isso, afirmo com toda certeza: Vós fostes crucificado por mim. Nada faltou para Vos fazer sofrer até o extremo da dor.

Que Vossa crucifixão arranque de minha alma os caprichos e os vícios que me desviam de Vós. Quantos apegos, quantas paixões, quantos delírios… Concedei-me as mesmas graças derramadas sobre o bom ladrão e possa eu, assim, um dia estar convosco no Paraíso.

 

Ave Maria, Rainha dos Mártires, cuja alma foi transpassada pelo gládio da dor.

 

 

Referência: Via Sacra, Mons. João S.Clá Dias, Takano Editora Gráfica Ltda., 1ª edição, março de 2001.