As “Crônicas Franciscanas”, que narram episódios encantadores da vida de São Francisco, contam-nos que ele decidiu isolar-se durante alguns dias numa daquelas maravilhosas montanhas da Itália. Para imitar o Divino Salvador, desejava orar e jejuar a pão e água durante 40 dias. Decorridas algumas semanas, sentiu as consequências da fraqueza da natureza humana. Julgava não ter forças para levar até o fim o seu sublime propósito. Mas como Jesus nos ensinou que tudo o que pedíssemos ao Pai em seu nome, Ele no-lo daria, lançou Francisco um apelo ao Criador: “Senhor, fazei- me experimentar um pouco da felicidade de que gozam os bem-aventurados na Pátria Eterna! Se me atenderdes, conseguirei seguramente imita o vosso divino exemplo, orando e jejuando durante 40 dias”.
Sua prece foi imediatamente atendida. Enviou-lhe Deus um esplendoroso Anjo, com a forma de um jovem, portando nas mãos um belíssimo instrumento musical. “Francisco”, disse-lhe o celestial mensageiro, “eu te farei ouvir um pequeno trecho de uma das incontáveis melodias que se entoam continuamente na Corte Celeste. Um trecho apenas, pois, se eu a executasse inteira, tua alma se separaria do corpo e voa- ria para Deus”.
Foram dois minutos de um angélico concerto! Inebriou, todavia, de tal felicidade a alma do Santo, que mais tarde confidenciou ele a seus irmãos de vocação: “Eu estaria disposto a jejuar durante mil anos, para experimentar novamente em minha alma, durante apenas dois minutos, aquela felicidade, impossível de ser descrita com a linguagem desta terra”.
Excerto do Artigo: “Dois minutos de um angélico concerto” – Pe. Carlos Alberto Soares Corrêa, EP., Revista Arautos do Evangelho nº 8, agosto de 2002.
“Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática é como o homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos sopraram e deram contra a casa, e a casa caiu, e sua ruína foi completa!” (Mt. 7, 24-27).
Assim como o edifício fundado na rocha simboliza o homem prudente que pratica boas obras, a casa edificada sobre areia representa a fragilidade daquele cujas ações são estéreis, por não estarem orientadas para a Eternidade.
Ora, há pessoas que constroem sua vida espiritual, não sobre a rocha, mas sobre outros mate riais. São aquelas que fazem racionalizações para poderem pecar, isto é, recorrem a falsos argumentos com os quais revestem suas más ações de uma aparência de bem, porque é impossível à criatura humana praticar o mal pelo mal.21
Acabam elas por arquitetar doutrinas que abrem campo para a plena satisfação das suas más inclinações. Um exemplo infelizmente muito frequente: racionalizam de modo a concluir que seria uma contradição o Decálogo proibir ao homem dar livre curso aos instintos postos na natureza humana pelo próprio Deus; e com isso ocultam à própria consciência o desequilíbrio interior, consequência do pecado original. “Ignorar que o homem tem uma natureza lesada, inclinada ao mal, dá lugar a graves erros no campo da educação, da política, da ação social e dos costumes”, ensina o Catecismo.22
Aos que assim deturpam a verdadeira doutrina de Cristo, bem se poderiam aplicar as severas palavras dirigidas por Santo Irineu aos valentinianos: “Afastados da verdade, merecidamente chafurdam em todo erro e são lançados de um lado para o outro por ele, julgando de forma diferente os mesmos temas em ocasiões diversas, sem nunca chegar a estabelecer uma opinião estável, pois mais desejam ser sofistas de palavras que discípulos da verdade. Não estão eles fundados sobre uma rocha, mas sobre areia, que contém em si uma infinidade de pedras. Por isso imaginam muitos deuses, e sempre têm o pretexto de estarem em busca da verdade (porque são cegos), mas sem nunca conseguir achá-la”23
Ai daqueles que engendram racionalizações para praticar o mal! Sua casa, adverte Jesus, está construída sobre areia, e quando vierem as dificuldades e provações, a ruína será completa.
21) Cf. ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología Moral para Seglares. 5.ed. Madrid: BAC, 1979, v.I, p.191.
22) CIC 407.
23) SANTO IRINEU DE LYON. Adversus Hæreses, l.III c.24, 2 (PG: 7, 967).
Excerto do artigo: Bastará dizer “Senhor, Senhor!” para se salvar? Mons. João Clá Dias, EP., Revista Arautos do Evangelho nº 111- março de 2011.
Fidelidade à graça Se percorrermos os tratados de vida espiritual, veremos que o problema crucial para progredir no caminho da perfeição sobrenatural é a fidelidade às graças recebidas.
Afirma um grande teólogo de nossos dias, Pe. Antonio Royo Marín, O. P., em sua obra Teologia da Perfeição Cristã, que assim como nos seria impossível respirar sem o ar, sem a graça de Deus nos seria impraticável um único pequeno ato sobrenatural, por exemplo, um mero gesto de caridade para com o próximo. Desta forma, durante as 24 horas do dia, estamos recebendo graças de Deus que, como ao “moço rico” do Evangelho, convidam-nos a seguir Nosso Senhor! É preciso, isso sim, sermos fiéis a esse constante apelo divino.
Como consegui-lo?
Devemos inicialmente, ensina a Santa Igreja, desejar com docilidade recebermos as graças que podem nos transformar, cooperando com elas generosamente.
Deus, na economia normal de sua Providência, subordina as graças posteriores que Ele quer nos dar, ao bom uso que damos às anteriores. A simples infidelidade a uma graça pode cortar toda a sequência das que Deus nos daria sucessivamente, ocasionando uma perda de consequências imprevisíveis, como aconteceu com o “moço rico”.
Ainda segundo o Pe. Royo Marín, “no céu veremos como a imensa maioria das santidades frustradas — melhor dizendo, absolutamente todas elas — malograram por uma série de infidelidades à graça — talvez meramente veniais, mas plenamente voluntárias —, que paralisaram a ação do Espírito Santo, impedindo-O de levar a alma até o ápice da perfeição.”
Trecho do artigo “A Chave de Ouro” de Humberto Luís Goedert – Revista Arautos, nº7 – julho de 2002.
A pergunta pode causar arrepio. É claro que o Céu não se compra o dinheiro. No entanto, ele tem o seu “preço”… Qual a “moeda” que tem valor para Deus? Uma bela história, ocorrida na Alemanha, durante a Idade Média, responde a esta questão.
Gertrudes era uma freira muito devota de Nossa Senhora. Entre as práticas de piedade mariana que cultivava, encantava-a sobretudo a Ave-Maria ou “Saudação Angélica”. Certo dia estava rezando em seu quarto, quando este se iluminou com uma luz mais intensa que a do sol. Era o próprio Jesus que vinha conversar com ela. Apesar da majestade da aparição, Santa Gertrudes – pois é dela que falamos – não interrompeu as orações. Notou, com surpresa, que a cada “Ave-Maria” recitada, Jesus colocava sobre uma mesa uma linda moeda, de um ouro todo especial, de um brilho não conhecido nesta terra. Após alguns instantes, perguntou ela ao Salvador:
– Senhor, que fazeis?
– Gertrudes, cada Ave-Maria que você reza lhe obtém uma moeda de ouro para o Céu. Sim, minha filha, esta é a moeda com a qual se compra o Paraíso.
Orvalho celestial e divino
A Ave-Maria é o cântico mais belos que podemos entoar em louvor da Mãe de Deus. Quando a rezamos, louvamos Nossa Senhora por ser um precioso escrínio, cheio das graças de Deus, de onde se derramam sobre nós; louvamo-La por ser a escolhida do Senhor, o que a faz bem-aventurada acima de todas as mulheres; louvamo-La, ainda, pela magnífica encarnação, em seu claustro materno e virginal, do próprio Verbo de Deus.
Filha dileta do Pai, Mãe admirável do Filho, Esposa fidelíssima do Espírito Santo. Essa é Maria, a criatura mais amada, incomparavelmente acima de qualquer outra, pela Santíssima Trindade.
Assim, as honras prestadas à Santíssima Virgem são supremamente agradáveis a Deus. De outro lado, Nossa Senhora é mãe carinhosa e solícita: sempre que rezamos a Ave-Maria, Ela nos dá o melhor dos seus presentes, que são as graças das quais transborda. Por isso, os santos mais devotos da Mãe de Deus chamavam esta preciosa oração de orvalho celestial e divino. Sabemos que o orvalho da madrugada torna a terra fecunda, dando-lhe a possibilidade de produzir os frutos mais deliciosos.
A Saudação Angélica é como um orvalho que prepara nossas almas para praticar as virtudes mais difíceis e mais maravilhosas: a Fé, a Esperança, a Caridade ou Amor de Deus, a Pureza. Fecundadas por esse magnífico orvalho, nossas almas tornam-se belas e agradáveis a Deus.
Além desse precioso fruto, ela nos comunica uma alegria interior, indispensável para enfrentar os dramas do nosso mundo tão agitado.
Um grande devoto de Maria disse estas consoladoras palavras: “Estás aflito? Reza a Maria; Ela converterá tua tristeza em gozo e tuas aflições em consolo”.
Concluamos com o que disseram a esse respeito os maiores pregadores da devoção a Maria Santíssima: a Ave-Maria é um ósculo casto e amoroso que se dá em Maria, é apresentar-Lhe uma rosa vermelha, é oferecer-Lhe uma pérola preciosa, é dar-Lhe uma taça de néctar divino.
Ele correu tanto quanto pôde, temeroso de perder o emprego, mas, passando defronte à Igreja, sentiu como se São Francisco o chamasse e decidiu entrar!
Mariana Iecker Xavier Quimas de Oliveira
O casal Gastinelli não podia esconder sua alegria, pois a jovem esposa logo daria à luz um menino, seu primeiro filho! Giacomo já havia contado aos seus colegas padeiros a boa-nova, e Mirella também comunicara à diretora do asilo, onde trabalhava como cozinheira dos velhinhos.
Entretanto, algumas preocupações da vida doméstica pareciam querer toldar este contentamento. Como eram pobres, a chegada de mais um membro para a família significava gastos maiores, e esse tema passou a figurar como o centro de muitas das conversas entre Mirella e o esposo. A casinha onde moravam, nas proximidades da Igreja de São Francisco Xavier, era alugada de um proprietário exigente, com prazos fixos de pagamento, e a futura mãe não estava podendo trabalhar naquelas semanas, ficando aflita com o que poderia acontecer.
– Giacomo, faltam poucas semanas para vencer o aluguel de nossa casa. Seu trabalho não rende muito e temos apenas o suficiente para nossa despensa não ficar vazia… Precisamos encontrar uma solução!
– Deus proverá, Mirella! Agradeçamos, pois ainda tenho trabalho. Confiemos! Façamos uma novena a São Francisco Xavier, nosso protetor, e com certeza ele intercederá por nós, junto a Deus.
Ele era um homem muito piedoso e rezava insistentemente para que a Providência ajudasse sua pequena família. Quando estavam no último dia da novena, bem cedinho, bateram à sua porta. Era um homem entregando uma encomenda para Giacomo. Ele estava de folga e recebeu o pacote, buscando o remetente no papel, pois não encomendara nada e não sabia de quem poderia ser. Constava o nome “Francisco”. Não havia, porém, sobrenome, nem a proveniência…
– Bem, Mirella, eu não conheço nenhum Francisco – disse Giacomo Vejamos o que é!
Abriu o embrulho, e qual não foi a surpresa de ambos, quando se depararam com um belíssimo vaso de porcelana chinesa, com detalhes em ouro!
– Aí esta nossa solução! – disse Mirella – Vendamos este vaso e teremos o dinheiro suficiente para pagar o aluguel da casa! Meu Deus, quem será o santo homem que nos mandou este presente do Céu? Ou melhor, da China?
– Não faço ideia, mas realmente deve ter vindo de um homem de Deus! Só pode ser pela intercessão São Francisco Xavier, o apóstolo do Oriente!
Com a venda do precioso vaso, o casal Gastinelli conseguiu salvar a pequena casa e ainda guardar alguma economia, suficiente para se manterem até que Mirella pôde voltar a trabalhar. Em honra ao santo, o benfeitor da família, deram ao filho o nome de Francisco.
O pequeno cresceu piedoso e religioso, como o pai, e muito devoto de seu padroeiro. Foi batizado, fez a primeira comunhão e casou-se na igrejinha de seu tão querido santo e, por esta razão, nunca quis se mudar daquelas proximidades, sendo vizinho de seus bons pais que, felizes, podiam visitar com frequência as netinhas.
Francisco tinha o bom costume de, todas as manhãs, depois de deixar suas duas filhas na escola, passar pela Igreja de São Francisco Xavier, antes de ir para a fábrica de fogos de artifício onde trabalhava, situada não muito longe dali, a fim de
fazer uma prece e oferecer a Deus o labor do dia.
Sua filha mais velha não poderia ter outro nome senão Francesca! Ela era muito espoleta e, desde que acordava, não parava de saltitar, ansiosa para ir o quanto antes para a escola. Ela queria ser professora quando crescesse.
Certo dia, quando saía com o pai e sua irmã mais nova para o colégio, levando na mão a maleta de estudos, esbarrou em um jarro de flores de sua mãe, que enfeitava a sala da casa, o qual se quebrou, ferindo-lhe a mão direita. Começou a chorar, assustada por ver o próprio sangue. Francisco, preocupado, levou-a o quanto antes para a farmácia mais próxima. Felizmente, o ferimento não era grave, todavia foi o suficiente para Francesca chegar atrasada em sua aula e a Francisco, se não corresse, lhe passaria o mesmo.
Ele correu tanto quanto pôde, temeroso de perder o emprego, pois conhecia bem a intolerância do chefe e seria a terceira vez que chegaria atrasado naquele mês, por questões de família. Passando defronte à Igreja de São Francisco, olhou o relógio e pensou consigo: “Faltam cinco minutos para meu horário… se não passo pela igreja e corro bastante, consigo chegar na hora!”. Olhou para a fachada da igreja e sentiu como se São Francisco o chamasse. Então, disse:
– Não, São Francisco não vai me deixar perder o emprego por causa dele…
E decidiu entrar! Naquele dia, a imagem de seu santo querido lhe parecia mais sorridente do que nunca. Contudo, não podia demorar muito: só tinha dois minutos! Rezou e saiu em disparada.
Não havia chegado à esquina da rua da fábrica, quando ouviu um grande estouro: BUMM!!!!!
Em poucos minutos só se via fogo e confusão. Os bombeiros chegaram, e logo apagaram o incêndio. Só depois de haver voltado a calma ao lugar, Francisco soube exatamente o acontecido: um acidente na seção em que trabalhava provocou a explosão, ferindo vários de seus companheiros.
Mais uma vez agradeceu a poderosa intercessão de São Francisco Xavier, pois se não tivesse ouvido a voz da graça, por poucos minutos já estaria no trabalho e só Deus sabe o que lhe teria acontecido… Seu bom costume de passar sempre pela igreja salvou não só o emprego, mas quiçá a sua vida! E isso graças à proteção de São Francisco, que acompanhou sua família desde antes mesmo de seu nascimento e nunca os abandonou.
Revista Arautos do Evangelho, Jun/2012, n. 126, p. 46-47