A borrasca: um castigo ou uma graça?

É bem paradigmática — não só para cada alma, mas também para a Igreja — esta tempestade pela qual passaram os Apóstolos: após as borrascas, a Igreja ergue-se sempre mais forte, mais jovem e com a sua beleza incomparavelmente acrescida

Por Mons. João S. Clá Dias, EP

É bem paradigmática para nós esta tempestade pela qual passaram os Apóstolos. Por quantos perigos não passamos nós também durante a vida? Se eles são evitáveis, não devemos enfrentá-los; se a eles nos expusermos, se os procurarmos e os amarmos, é certo que pereceremos. A fuga, nestes casos, acompanhada de oração, é o melhor remédio. Comenta o padre Manuel de Tuya: “Se bem que os Apóstolos já tivessem presenciado alguns milagres de Cristo, não se lembraram de seu poder ante um espetáculo tão imponente. Mas seu império diante de forças cósmicas desencadeadas produz-lhes tão forte admiração que se perguntam quem é este que tem tais poderes”.

Devido à união das duas naturezas — divina e humana — na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, “o Homem recebeu no tempo a onipotência que o Filho de Deus possui ab æterno”. Diz São Tomás de Aquino que a Alma de Nosso Senhor recebeu o poder divino de fazer milagres numa tal superabundância, que é por transmissão d’Ele que os Santos assim também operam, como está em Mateus (cf. Mt 10, 1). Por este motivo manifestou todo o seu poder, inclusive sobre as criaturas irracionais, como os ventos, o mar, a tempestade; ou, durante sua Paixão, sobre vários elementos, quando o véu do Templo se rasgou, os túmulos se abriram, a terra tremeu e as rochas se fenderam (cf. Mt 27, 51-52).

A respeito desta passagem comenta Teofilato: “Se houvessem tido fé, eles teriam acreditado que, mesmo dormindo, [Jesus] podia conservá-los incólumes […]. Acalmando, pois, o mar com uma ordem — e não com uma vara como Moisés (cf. Ex 14), nem com a oração como Eliseu no Jordão (cf. II Rs 2), nem com a arca como Josué (cf. Js 3) —, Se mostrou a eles como Deus, e como Homem, quando Se entregou ao sono”.

As borrascas sobre a Igreja

Ao longo de dois milênios, a Igreja viu abater-se sobre ela toda espécie de tempestades, ameaçando sua exis tência. Ora foram perseguições declaradas e cruentas, – ora silenciosas e hipócritas. Ódios mortais e ingratidões históricas vincaram o curso das heresias e dos cismas.

Entretanto, a Igreja nunca duvidou d’Aquele que vela por seu imortal destino. E ainda quando Ele parece dormir, faz ecoar no interior dos fiéis sua infalível promessa: “Ecce ego vobiscum sum omnibus diebus usque ad consummationem sæculi — Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20). A Igreja aprendeu com os Apóstolos a invocá-Lo e, dominando ou não a tempestade, a barca, mesmo em meio aos mais terríveis perigos, jamais vai ao fundo. Pelo contrário, como que ressurge sempre mais forte, mais jovem e com beleza invariavelmente acrescida. A cada ameaça, sua glória se eleva, por ser inquebrantável sua fé.

Quão grande bênção e que incomensurável graça sermos filhos da Igreja! ♦️


Excertos de “O Inédito sobre os Evangelhos”. Vol. IV. Ano B.

amor aparecida apostolado apostolado do oratório arautos do evangelho arautos sacerdotes cidades comentario ao evangelho comunhão reparadora comunidade coordenadores Cristo deus devoção encontro eucaristia evangelho familias fátima grupos do oratorio heraldos del evangelio igreja imaculado coração de maria jesus liturgia maria meditação missa missao mariana Monsenhor João Clá Dias natal Nossa Senhora nossa senhora de fátima nosso senhor Notícias o inédito sobre os evangelhos oratório oração paróquia peregrinação Plinio Correa de Olivieira primeiro sábado santa missa santíssima virgem

Deixe uma resposta