“Humildade é a verdade”

Reconhecendo nossa pequenez, concluímos que não somos capazes de fazer nada sem o auxílio de Deus, mas se confiamos n’Ele conseguiremos fazer até mais do que esperávamos.

Não é coisa rara encontrar pessoas com visualização muito engrandecida a respeito de sua própria imagem.

Já Santa Teresa dizia: “A humildade é a verdade, o Senhor ama tanto os humildes porque eles amam a verdade; a pura verdade é que nada somos, somos ignorantes, cegos e incapazes de praticar qualquer bem.”[1]

Assim, devemos ter constantemente diante dos olhos o que realmente somos: vermos as qualidades – e sobretudo os defeitos, que quase sempre são mais numerosos –; e quando fizermos uma grande obra, sabermos reconhecer que as forças para tal nos vêm de Deus.

Conta-se que, certa vez, um nobre senhor proveniente das suntuosas cortes francesas resolveu contrair matrimônio com uma dama de nobreza bastante inferior. O nobre, receando que sua esposa algum dia se ensoberbecesse pela elevada condição que adquirira, aconselhou-a a guardar seus antigos trajes – tão simples em comparação com aqueles que agora iria possuir – para que os olhasse quando fosse assaltada por tentações de orgulho. Desse modo, a lembrança de que nada possuía por si mesma seria um estímulo contínuo à prática da humildade.

Assim também nós devemos ter sempre diante dos olhos a humilde condição de nossa frágil natureza, reconhecendo que tudo o que temos de bom vem de Deus.

Um valioso conselho

Uma das formas de praticar a humildade está em tomar cuidado com o falar a respeito da própria pessoa. Se quiser manter uma conversa, fale sobre seu interlocutor; se quer acabar com ela, fale sobre si.

No reinado de Ana de Áustria, vivia um santo homem na França: São Vicente de Paulo. Sendo este alvo de inúmeras calúnias, a rainha mandou que ele comparecesse em sua presença e lhe perguntou: “Sabe, padre, que coisas dizem do senhor e das quais não se defende?” O humilde santo respondeu: “Senhora, coisas piores disseram contra Nosso Senhor e Ele se calou…”[2]

Se santos assim se calavam, mesmo quando se tratava de defender a própria pessoa de calúnias, quanto mais nós devemos nos acautelar em não aumentar nossa glória diante dos outros.

 Nunca confiar em si!

Inúmeras são as vezes em que, ao traçarmos um plano, mal começamos e nos deparamos com o fracasso… Isso nos deve auxiliar a não nos fiarmos de nossas próprias forças e qualidades, sobretudo quando o assunto é a santificação.

Reconhecendo nossa pequenez, concluímos que não somos capazes de fazer nada sem o auxílio de Deus, mas se confiamos n’Ele conseguiremos fazer até mais do que esperávamos.

Santa Teresa também ensinava: “Uma alma que não reconhece que recebeu grandes coisas de Deus não fará também grandes coisas por Deus.”[3] Portanto, tenhamos sempre noção de que, sozinhos, não somos capazes de nada.

A Igreja ensina, a esse respeito, que não há possibilidade de se praticar estavelmente nenhuma virtude sem o auxílio da Graça.

A Ladainha da Humildade

O Cardeal Merry del Val, secretário de São Pio X, escreveu a belíssima Ladainha da Humildade, verdadeiro compêndio da perfeita prática desta virtude. Recitar e meditar esta oração poderá nos ser um precioso auxílio na prática da Humildade.

Ladainha da Humildade
(Cardeal Merry del Val)

Ó Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me.

O que o varão católico não deve desejar para si

Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus.

Do desejo de ser amado,

Do desejo de ser conhecido,

Do desejo de ser honrado,

Do desejo de ser louvado,

Do desejo de ser preferido,

Do desejo de ser consultado,

Do desejo de ser aprovado,

O que o varão católico não deve temer para si

Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser desprezado,

Do receio de sofrer repulsas,

Do receio de ser caluniado,

Do receio de ser esquecido,

Do receio de ser ridicularizado,

Do receio de ser infamado,

Do receio de ser objeto de suspeita,

O que o varão católico deve desejar para si

Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.

Que os outros sejam estimados mais do que eu,

Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo, e que eu possa ser diminuído,

Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado,

Que os outros possam ser louvados e eu desprezado,

Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas,

Que os outros possam ser mais santos do que eu, embora me torne santo quanto me for possível,

Por Henrique Soares – Gaudium Press.


[1] OMER, Saint. Escola de perfeição cristã. 4. ed. Trad. José Lopes. Petrópolis: Vozes, 1955, p. 215.

[2] Cf. ALVES, Francisco. Tesouro de exemplos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1958, v. 1, p. 233.

[3] OMER. Op. cit., p. 217.

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