Qual a pior das lepras?

VI Domingo do Tempo Comum

A “lepra” da alma é mais contagiosa e terrível do que o mal de Hansen. Ela arranca a paz da consciência, torna amarga a vida e prepara a morte eterna. Se fosse tão visível quanto a lepra física, quão mais repulsiva seria aos nossos olhos!

Por Mons. João S. Clá Dias, EP

A lepra sempre foi uma enfermidade dramática, com inenarráveis sofrimentos físicos e graves consequências sociais. Naqueles tempos era, ademais, na maior parte das vezes incurável.

A mais temida das doenças

Pequenas manchas brancas, insensíveis, em qualquer parte da epiderme — as quais, com o tempo, degeneram em úlceras e se espalham por todo o corpo — podem ser indício deste mal. No seu auge, pés e mãos se tornam edemaciados, as carnes se rasgam, as unhas caem e, em seguida, também os dedos e artelhos.

A face se torna monstruosa e a voz enrouquece. Das narinas — já à mostra pela degenerescência de seu exterior, pois o nariz acaba por se descarnar — escorre um líquido purulento que se soma a uma terrível fetidez do hálito. Esses efeitos acabam por produzir na vítima, além das dores físicas, um abatimento de ânimo tão grande que facilmente a leva ao desespero e, por fim, à morte. Se, pelo contrário, obtém a cura, uma assombrosa alvura lhe reveste o corpo de alto a baixo.

Por tal razão, esta doença era das mais temidas entre os judeus, e muitas vezes julgavam-na um castigo de Deus (cf. II Cr 26, 19-20); quando se indignavam contra alguém, só em casos extremos desejavam-lhe esta praga (cf. II Sm 3, 29; II Rs 5, 27).

Ao ser declarado impuro pelo sacerdote, o leproso era excluído do convívio social de imediato. Devia passar a morar no campo, podendo relacionar-se somente com outros leprosos (cf. Lc 17, 12). Não se tratava de viver em presídio, pois, nas cidades não cercadas por muralhas, podia entrar nas sinagogas e até permanecer num recanto, isolado de todos por uma balaustrada, desde que entrasse por primeiro e saísse em último lugar. No entanto, a própria deambulação se tornava cada vez mais dificultada para ele, pois o mal penetrava lentamente em todo o organismo, atingindo não só as carnes, mas também os músculos e tendões, nervos e ossos. Para acentuar esta nota de dramaticidade, com sua voz roufenha e por detrás de um lenço de linho que cobria a parte inferior da face, era obrigado a bradar aos transeuntes: “Ṭamê! Ṭamê! ― Impuro! Impuro!” (Lv 13, 45), para, assim, evitar que dele se aproximassem.

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Somos concebidos e nascemos sob os estigmas do pecado original; pelo pecado nos transformamos em inimigos de Deus. E se a lepra física enfeia o corpo, a da alma — o pecado — a torna horrorosa aos olhos de Deus, dos Anjos e dos Bem-aventurados. Esta “lepra” da alma traz consequências até mesmo para o corpo, pois, como diz Nosso Senhor, “todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo” (Jo 8, 34), prejudicando, assim, também sua saúde física.

Efeitos da lepra do corpo e da “lepra” da alma

Se de um lado o leproso se torna um pária da sociedade, condenado ao isolamento e ao abandono, por outro lado o pecado não só faz perder a inabitação da Santíssima Trindade na alma do pecador, como o exclui da sociedade dos eleitos e dos Santos.

Além disso, a “lepra” da alma é mais contagiosa do que a física. A propagação da primeira se faz até à distância, por palavras, conversas, pensamentos, escândalos, maus exemplos, influência, maledicência, etc., e muitas vezes de maneira tal que não se consegue reparar os males oriundos de sua difusão.

Também não devemos olvidar que o fato de só se comunicarem entre si os que sofrem desta enfermidade física, e nem sequer com os que por ela não foram atingidos, não faz crescer sua desgraça. Tal não se dá com a “lepra” do pecado: ao sermos causa de contágio, aumentamos nossa culpa.

Por mais que a lepra conduza a miseráveis condições que, sem tratamento, só terminam com a morte, o pecado é muito pior, pois arranca da alma a paz de consciência, torna amarga a vida e prepara a morte eterna.

Consideremos ainda a grande superioridade da alma sobre o corpo. Aquela é criada à imagem da Santíssima Trindade e, enquanto obra-prima das mãos de Deus, leva sobre si, ademais, o infinito preço do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, os males da alma sempre são mais graves que os do corpo. E, sendo físicos os estigmas do mal de Hansen, são fáceis de serem reconhecidos pela vítima. Em sentido contrário, o pecador, quanto mais avança nas tortuosas vias do pecado, menos se dá conta do abismo no qual rola. Nesta perspectiva, como poderá ele obter a cura?

Terrível é ainda considerar que os sofrimentos do leproso abandonado à própria sorte terminam com o seu falecimento e, se os aceitou com resignação e amor a Deus, abrirá ele seus olhos para a eternidade feliz. Os do pecador não só se perpetuam na eternidade, como se tornam incomparavelmente mais atrozes após a morte.

Não deixemos passar um dia sem receber a Jesus Eucarístico

E como curar a “lepra” do pecado?

Muitas são as vias que conduzem à cura total, isto é, à santidade plena. Não obstante, há uma que se sobressai entre todas, e esta nos é indicada pelo Evangelho de hoje, quando afirma que o leproso “chegou perto”, ou seja, foi buscar Jesus. Não se trata de esperar que Jesus vá ao pecador; é preciso que este vá em busca de Jesus.

E quanto mais avançado for o estado de sua “lepra”, mais confiança deverá ter de ser bem recebido por Ele. Jamais deve permitir qualquer fímbria de desânimo ou, pior ainda, de desconfiança.

E onde encontrá-Lo?

Jesus não está entre nós de passagem, como aconteceu na vida do leproso do Evangelho, mas de forma permanente: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20). Sim! Cristo Se encontra constantemente na Eucaristia em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. E será na Comunhão frequente — melhor ainda na diária — que Ele irá assumindo interiormente os que em sua graça O recebem, para desta forma torná-los cada vez mais semelhantes à sua santidade.

Aquelas divinas e sagradas mãos, cujas carícias encantavam os pequeninos, e ao se aproximarem dos enfermos curavam a todos, aquelas mesmas mãos onipotentes que acalmavam os ventos e os mares, restituíam a vida aos cadáveres e perdoavam os pecados, estarão no interior do ser de quem receber Jesus na Comunhão Eucarística para santificá-lo.

É de altíssima conveniência aceitar o convite que a Igreja faz a todos os batizados, no sentido de que não deixem passar um só dia sem receber a Jesus Eucarístico; mas a ação d’Ele será ainda mais eficaz nas almas que o fizerem por meio d’Aquela que O trouxe à Encarnação: a sua e nossa Mãe, Maria Santíssima.


Excertos de “O Inédito sobre os Evangelhos”, ano B VI Domingo do Tempo Comum.

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