A grave responsabilidade dos que cuidam da vinha do Senhor

XXVII Domingo do Tempo Comum

Do mesmo modo que outrora ao povo eleito, Deus nos trata como uma vinha escolhida para mais facilmente alcançarmos a bem-aventurança eterna. Que frutos daremos ao seu Dono?

Mons. João S. Clá Dias, EP

Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo: 33 “Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro. 34 Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35 Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram. 36 O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma. 37 Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. 38 Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39 Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram. 40 Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?” 41 Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. 42 Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’ 43 Por isso, Eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21, 33-43).

Nós também somos vinha do Senhor

Os comentários sobre este Evangelho ficariam incompletos se limitássemos a sua aplicação àqueles que planejaram a morte de Cristo, ou mesmo à humanidade em seu conjunto. Na parábola dos vinhateiros homicidas cumpre encontrarmos uma lição para cada um de nós, pois as palavras de Nosso Senhor ecoam para os homens de todas as épocas históricas.

Com efeito, a vinha de que fala a Liturgia pode ser considerada a alma de todo católico, a quem Deus ama com predileção, a ponto de lhe dirigir a pergunta: “O que poderia Eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz?”.

Os dotes que recebemos, desde o ser, a inteligência, a vontade, a sensibilidade, a vocação específica, tudo nos é entregue pelo Senhor da vinha. Dentre estes favores, nenhum é digno de maior apreço que a vida divina, como ensina São Rábano Mauro: “Em sentido moral, a cada um se entrega sua vinha para que a cultive, ao ser-lhe administrado o Sacramento do Batismo, a fim de que trabalhe por meio dele. É-lhe enviado um servo, outro e um terceiro, quando a Lei, o Salmo e a profecia falam, e em virtude de cujos ensinamentos deve-se agir bem. Mas o enviado é morto e lançado fora, se despreza a sua pregação ou, o que é pior, se blasfema contra ele. Mata o herdeiro que traz em si todo aquele que ultraja o Filho de Deus e ofende o Espírito de sua graça. Uma vez perdido o mau cultivador, a vinha é entregue a outro, como acontece com o dom da graça, que o soberbo menospreza e o humilde recolhe”.

Deus vela sempre por nós e, ao longo dos anos, nos trata com muito mais carinho, vigilância e amor do que qualquer vinhateiro no que se refere à sua plantação. Ele vai preparando as circunstâncias, atendendo, colocando anteparos para que os obstáculos não nos façam cair. Em troca, o que espera de nós? Que sejamos uma videira que dê o fruto excelente das obras de perfeição, do qual saia depois o bom vinho da santidade. Por isso virá cobrar os frutos. Cabe-nos trabalhar para produzi-los, conscientes de que tudo quanto possuímos tem sua origem n’Ele. Até mesmo a força para praticar a virtude nos é incutida por Deus, como um dom que nos permite adquirir méritos com vistas à nossa eterna salvação.

Um oportuno exame de consciência

Como cuido, então, desta vinha que sou eu? Zelo por ela com todo o esmero e restituo a Deus o que Lhe pertence? Estou constantemente com a atenção posta nas realidades sobrenaturais, com desejo de beneficiar o próximo, compenetrado de que fui chamado a dar glória a Deus e reparar o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria dos inúmeros pecados que hoje se cometem? Estou atento à chegada dos empregados do Dono da vinha? Uma palavra dita do púlpito, um conselho de alguém que busca a minha santificação, uma admoestação da consciência…

Mais ainda, os rogos de Nossa Senhora e o amparo do meu Anjo da Guarda. O que eu faço a esses empregados? Apedrejo-os, bato neles e os mato, sufocando sua voz? Pois se não quero de modo algum entregar a Deus o que é d’Ele e uso de seus dons para o meu gozo pessoal ou, pior, para ofendê-Lo, estou, no fundo, batendo, apedrejando, matando os empregados, e até o Filho do Divino Dono. É indispensável precaver-me, porque o Reino dos Céus que recebi no dia de meu Batismo poderá ser-me retirado e dado a outros.

Quanta matéria para um exame de consciência! Como me encontro agora? Diante destas palavras, qual é a minha reação? Estou me esquivando, desvio a atenção ou coloco-me diante da obrigação de prestar contas pela vinha que sou eu? Se a consciência me acusar, devo lembrar-me do ensinamento de São Paulo, na segunda leitura: “Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e pensamento em Cristo Jesus” (Fl 4, 6-7).

Graças à maternal intercessão de Maria Santíssima tudo tem solução, desde que eu reconheça que procedi mal e preciso mudar de vida. Peçamos a Nossa Senhora, então, misericórdia e forças para nos emendarmos e aderirmos com entusiasmo à vontade do Dono da vinha.


O inédito sobre os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos dominicais. Ano A. Vol. II.

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