Até onde deve chegar nossa fé


XIX Domingo do Tempo Comum

A barca com os Apóstolos é sacudida pela tempestade: bem poderia ser a imagem da Igreja em luta nos mares deste mundo, em plena noite, visando desembarcar nas margens do Reino Eterno

Monsenhor João S. Clá Dias, EP,
Fundador dos Arautos do Evangelho

 

 

Depois da multiplicação dos pães, 22 Jesus mandou que os
discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o
outro lado do mar, enquanto Ele despediria as multidões.

Se Jesus tivesse permanecido em meio à multidão, junto com seus discípulos, provavelmente estes se deixariam influenciar pela exaltação de todos. Pois, era também deles o sonho de libertação do jugo romano e de conquista do mundo inteiro.

Se, por outro lado, Ele partisse com seus discípulos para outras bandas, a febricitação das turbas não faria senão incrementar-se e, de repente, poderia arrebentar uma revolução na própria Galileia. A História nos ensina como essas ocasiões levam, às vezes, a verdadeiros incêndios cujas chamas tudo devoram.

Jesus constatou até que ponto a multidão se deixara tomar pela ideia de um triunfo político-social. Não havia quem pudesse desestimulá-la de uma glorificação humana do Divino Mestre. Estava convencida de que proclamá-Lo rei, traria como consequência a fundação brilhante do esperado reino terreno.

Em face desse delírio popular, a primeira preocupação de Jesus foi a de salvar seus discípulos. E assim procedeu sem perder um segundo. Por esse motivo “mandou que os discípulos entrassem na barca”. Comenta o padre Manuel de Tuya: “Com isso, desfazia de um só golpe toda aquela incipiente revolução pseudomessiânica”.

Jesus visa robustecer a fé dos discípulos

Visualizando outro aspecto dessa tomada de atitude de Nosso Senhor, São João Crisóstomo analisa o ocorrido, pelo prisma da vida espiritual e da formação moral de seus Apóstolos: “Se Ele ainda estivesse ali presente, poderia parecer que se tratara de um fato que havia sido fruto da imaginação e não de uma realidade palpável, o que não aconteceria estando Ele já ausente. Por isso que, considerando a mais estrita prova da realidade do milagre, ordenou aos discípulos que se afastassem d’Ele, os quais, por sua parte, já levavam muitas lembranças das demonstrações de seus milagres”.

Maldonado3 menciona Teofilato, que comunga de opinião semelhante, pois este pensa que, estando com as sobras dos pães e longe de Jesus, os discípulos poderiam, a sós, meditar acerca do grande milagre. E é bem possível que o intuito do Divino Mestre tenha sido o de melhor robustecer a fé dos discípulos. Porém, nunca há só uma razão para explicar os gestos, atitudes e palavras de Jesus. Daí que sejam apresentadas razões distintas por Mateus e João para explicar a partida dos Apóstolos rumo à outra margem.

Domínio sobre a multidão

Sobre esta passagem, São João Crisóstomo ainda tece considerações para benefício de nossa vida espiritual: “Ademais, sempre que o Senhor operava algo grande, era seu costume afastar-Se das multidões e até mesmo de seus discípulos; boa lição para que nunca busquemos a glória popular, nem tratemos de arrastar o povo para nos seguir”.

Jesus, em seu poder humano-divino, encantava, atraía e dominava a multidão, mas nunca permitia que ela tivesse sobre Ele qualquer emprise. Naqueles tempos, de frequentes motins e agitações, as turbas estavam acostumadas a aclamar como salvadores da pátria estes e aqueles pseudo-heróis. Com Jesus, nesta matéria, nada conseguiriam, pois Ele estava determinado a fazer a vontade do Pai; e não só no caso d’Ele, como também para todos os seus discípulos ao longo dos séculos, a norma será sempre escapar de todos aqueles que procurem prejudicar ou desviar o chamado de Deus.

Oração no alto do monte

23 Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A
noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho.

No que terá consistido a oração de Jesus, no alto do monte, é para nós um mistério. Sua Alma se encontrava na visão beatífica e, portanto, tinha uma noção clara de quais eram os desígnios de Deus. Seu conhecimento divino é eterno, por ser Ele a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Ademais, seu conhecimento experimental humano se desenvolvia a cada momento.

Certíssimo é que essa oração foi fervorosa e perfeita, consistindo em ações de graça, louvores, adoração e também súplicas fortes e definidas. Era através dessas preces que Ele exercia a sua missão de Pontífice Supremo, Sacerdote do Altíssimo.

Que teria pedido Ele? Lagrange levanta uma interessante hipótese: “Sendo o milagre dos pães um símbolo da Eucaristia, não é de se crer que, nessa ocasião, Jesus tenha pedido a seu Pai para conceder essa graça à sua Igreja, agradecendo- Lhe de antemão em nosso nome por tal benefício?”

Onipotência de Jesus sobre seu próprio Corpo

As circunstâncias do milagre

24 A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois
o vento era contrário. 25 Pelas três horas da manhã, Jesus veio até
os discípulos, andando sobre o mar.

Enquanto Jesus desaparecia em meio à noite, imerso em suas orações no alto da montanha, a barca se encontrava no meio do mar. A atmosfera estava agitada e o vento oeste transformava-se em terrível tempestade. Ondas enormes, além do vento contrário, tornavam inúteis os esforços empreendidos sobre os remos. É sabido que o Mar de Tiberíades tem esses repentes imprevisíveis, que deixam os remadores sem forças e desanimados. Mas Jesus, mesmo estando à distância, humanamente falando, por seu poder divino os acompanhava a cada instante. Via-os na grande dificuldade em que se encontravam. Após as três horas da manhã, caminhou sobre as águas e chegou às cercanias do barco.

Terá Ele assumido nessa hora a agilidade característica do corpo glorioso ou terá feito um milagre? O certo é que Ele transpôs a distância que ia entre o alto do morro e o meio do lago com toda facilidade.

Segundo observa ainda Lagrange,6 Marcos afirma que Jesus os via ao longe, se bem que Mateus nada diga a respeito. De sua parte, Maldonado, com base em São Cirilo de Alexandria e Leôncio, tece considerações muito interessantes sobre a oportunidade escolhida pelo Mestre: “Jesus Cristo esperou uma tríplice circunstância para operar o milagre: que os discípulos estivessem em alto mar, onde não podiam esperar auxílio de parte alguma; que o vento lhes fosse contrário e a barca se visse investida pelas grandes ondas; e que chegasse a última vigília da noite, para que os navegantes provassem sua fé e paciência, e sentissem a necessidade de um milagre”.

Manter a calma na tempestade

Deste acontecimento podemos extrair uma boa lição para as fases de provação e tentação, pelas quais frequentemente passamos. Na hora da tempestade, vem-nos a ideia de que estamos próximos a perecer. Tanto mais que muitas vezes nem sequer chegamos a prever a borrasca na qual, de repente, somos introduzidos. Foi, aliás, o que aconteceu com os próprios Apóstolos. Qual deles poderia ter imaginado que, embarcando por ordem expressa de Jesus, iriam encontrar um mar tão tempestuoso e bravio?

Deparamo-nos com ventos contrários e impetuosos? Saibamos manter a calma. Ainda que de forma imperceptível, Jesus está sempre presente e, de um momento para outro, Se fará ver por nós.

Percebemos, também, por esse episódio, o quanto o pensamento de Deus não só é infinitamente superior ao nosso, mas também distinto. Se víssemos nós o terrível esforço dos discípulos, remando contra as ondas, em meio à aflição e ao perigo, e a inutilidade do seu empenho, procuraríamos socorrê-los de imediato. No entanto, Deus aparentou estar ausente, para fazer brilhar seu poder e glória, fortificar-lhes a fé, conceder-lhes mais méritos e premiá-los, por fim, com consolações inenarráveis.

Assim é, também, conduzida a Igreja pelo seu Divino Fundador: exposta a toda espécie de perseguições e dramas, de cada uma dessas situações resulta sempre uma vitória e, não poucas vezes, o triunfo.

“É um fantasma”

26 Quando os discípulos O avistaram, andando sobre o mar,
ficaram apavorados, e disseram: “É um fantasma”. E gritaram de
medo. 27 Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou Eu. Não
tenhais medo!”

Tornemos a considerar a situação dos discípulos em meio ao mar, lutando arduamente contra a tempestade. “O quarto Evangelista, homem de mar como todos eles, esclarece o caminho feito pela barca até a madrugada: ‘Tendo eles remado uns 25 ou 30 estádios’ (4,5 a 5,5 km de caminho, provavelmente não em linha reta, para livrar-se dos golpes do mar, que ali tinha 60 estádios de largura, ou seja, 11 km) ‘veem Jesus que Se aproximava da barca, andando sobre as águas’”.

Eram comuns, entre os pescadores daquele tempo, certos mitos e superstições a propósito de fantasmas marítimos. Daí a reação que nos narra São Mateus, a partir do momento em que os discípulos divisaram um vulto humano entre as penumbras da noite. No início, Ele apareceu caminhando paralelamente ao longo da barca; quando constataram que se aproximava, irromperam os gritos.

Jesus teve compaixão da debilidade deles e logo lhes disse que tivessem confiança, declarando sua identidade. Quantas vezes não passam as mesmas impressões nas almas de pessoas que começam a converter-se, a sair das trevas do pecado e da infidelidade, quiçá até de uma vida tíbia e mundana! A luz que ainda não se fez forte diante de seus olhos não lhes permite distinguir clarissimamente todos os objetos. Daí que se assustem com facilidade e imaginem fantasmas por todas as partes… Basta que essas almas se coloquem em estado de paz e confiança para ouvirem Jesus dizer-lhes: “Coragem! Sou Eu. Não tenhais medo!”

Do pânico ao entusiasmo

28 Então Pedro Lhe disse: “Senhor, se és Tu, manda-me ir ao teu
encontro, caminhando sobre a água”.

A pitoresca cena a seguir é relatada apenas por Mateus. Pedro, sempre cheio de ardor e quase nunca medindo as consequências de seus pedidos e ações, ao ouvir a voz de seu Mestre, passou do estado de pânico ao de entusiasmo e pediu a Nosso Senhor que o mandasse ir até Ele, andando sobre as águas. Conhecia bem o poder de Jesus Cristo e sabia que uma palavra d’Ele seria suficiente para operar o prodígio. Seu desejo era juntar-se ao Senhor, ainda que fosse a nado. Não visava um milagre. Desejava, isto sim, estar bem próximo ao Mestre, que tanto amava.

Ademais, bem possível era que não estivesse alheio ao seu espírito o desejo de constatar positivamente que se tratava do Mestre, e não de um fantasma. São João Crisóstomo, com suas luzes especiais, comenta a fé de São Pedro: “Vede que fervor e que fé tão grande! Ele não disse: ‘roga e suplica’, mas sim ‘manda’. […] Na verdade, aqui também pediu uma coisa grande. E desejou vivamente ir até Ele, não por vanglória, e sim o que o impulsionou foi só a caridade. Porque não disse: ‘Manda que eu caminhe sobre as águas’. O que disse? ‘Manda-me ir até onde estás sobre as águas’. […]

Isto porque não só creu que o Senhor podia andar sobre o mar, como também que podia conceder a mesma graça aos outros”.

Por sua vez, o padre Manuel de Tuya ressalta, neste episódio, o impetuoso amor do Apóstolo: “Ao medo sucede a confiança; ao temor de um maligno fantasma, a confiança em seu Mestre. O que ele pede não é o espetacular prodígio de caminhar sobre as águas: roga-Lhe com amor e como garantia ‘ir a Ti’. Por que não aguarda para ir com todos na barca? Por que aquele seu ímpeto? Pedro! É o Pedro de sempre: o do ímpeto, o do amor e o da fraqueza”.

“Senhor, salva-me!”

29 E Jesus respondeu: “Vem!” Pedro desceu da barca e começou a
andar sobre a água, em direção a Jesus. 30 Mas, quando sentiu o
vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor,
salva-me!”

Ao ouvir a ordem de Jesus — “Vem!” —, Pedro, cheio de alegria, salta da barca e começa a caminhar sobre as águas em busca do Mestre. Mas, uma é a tempestade estando dentro da barca e outra, mais violenta, estando fora dela, sem sua proteção. O discípulo deixa de olhar para o Mestre e presta atenção no furor das ondas. Aquela fé primeira e espontânea diminui, cedendo lugar de novo ao medo, fortemente baseado, desta vez, no instinto de conservação. Debilitada a sua confiança, o mar perdeu a solidez debaixo dos seus pés.

Essa é a nossa história: ao longo de nossa caminhada rumo ao Reino Eterno, sempre acontece, mais cedo ou mais tarde, diminuir-nos o fervor ou, às vezes, até sua sensibilidade chegar à estaca zero. E, assim, somos provados em nossa fé. Ai de nós se, nessas circunstâncias, nos esquecermos de que tudo quanto temos de bom vem de Deus! Se à primeira tentação perdermos o entusiasmo e a confiança, acabaremos por sentir a lei da gravidade cobrando o peso de nossa própria miséria: infalivelmente pereA única solução para nós, nessa hora, será imitarmos São Pedro, gritando: “Senhor, salva-me!”

São Pedro dava-se bem conta de quanto era inútil sua grande experiência de navegação, em meio àquela procela. De nada ou pouquíssimo lhe adiantaria usar de suas habilidades para nadar de volta ao barco. Mais uma vez aparecem
as características próprias de sua alma tão expressiva e manifestativa. Cheio de fé, generoso, arrojado e até imprudente, facilmente passa do maior fervor ao temor mais declarado.

Nunca falta o auxílio de Deus, mas a nossa fé

31 Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse:
“Homem fraco na fé, por que duvidaste?”

São João Crisóstomo, mais uma vez, se destaca de outros comentaristas ao focalizar este versículo com as seguintes palavras: “Por que o Senhor não mandou que os ventos se acalmassem, mas estendendo sua mão segurou Pedro? Porque era necessário que ele tivesse fé. Quando falta a nossa cooperação, cessa também a ajuda de Deus. E para manifestar-lhe que não era o furor do vento, e sim a pouca fé do discípulo que produzia o perigo, disse-lhe: ‘Homem de pouca fé, por que duvidaste?’”.

Já Santo Agostinho tira deste acontecimento uma bela lição espiritual: “Cada qual tem sua tempestade na paixão que o domina. Amas a Deus? Caminhas sobre as águas e tens a teus pés o medo do mundo. Amas o mundo? Ele te submergirá, pois sabe devorar seus admiradores e não suportá-los. Quando, porém, teu coração estiver agitado pelas paixões, invoca a divindade
de Cristo a fim de vencê-las”.

O famoso Maldonado, nesta passagem, traz-nos à tona outros comentários feitos por grandes Doutores: “É duvidoso o motivo pelo qual Cristo permitiu que seu Apóstolo afundasse ou duvidasse. Dizem Crisóstomo e Teofilato que foi para ele não se ensoberbecer com tão grande milagre. E Jerônimo escreve estas palavras: ‘A fé ardia na alma, mas a fragilidade humana o arrastava para o fundo. Permite-se a Pedro um pouco de tentação para que sua fé aumente e ele entenda que é conservado, não pela facilidade do pedido, mas pelo poder do Senhor’”.

Os discípulos adoram o Filho de Deus

32 Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. 33 Os
que estavam no barco, prostraram-se diante d’Ele, dizendo:
“Verdadeiramente, Tu és o Filho de Deus!”

Jesus podia perfeitamente ter concluído a viagem sustentando São Pedro e, portanto, caminhando ambos sobre as águas; todavia, com sua paternalidade insuperável, atendeu ao desejo dos que se encontravam na barca e resolveu subir na mesma.

Assim que o Divino Mestre, acompanhado por São Pedro, entrou na embarcação, o mar se aquietou por completo. E, segundo nos conta outro Evangelista, aportaram sem demora. Os grandes esforços empregados durante a noite toda não os tinham feito progredir senão até a metade do mar; contudo, bastou que Jesus subisse na barca para esta chegar à margem
“pouco depois” (Jo 6, 21).

O espírito dos discípulos era limitado, como o de seus compatriotas. Seus corações ainda estavam cegos, a ponto de não tirarem todas as consequências na linha do sobrenatural, com base na fé, dos fatos que iam-se dando ao longo da vida pública de Nosso Senhor, ou da própria multiplicação dos pães e dos peixes. Desta maneira, eram apanhados de surpresa a cada novo milagre e ficavam estupefatos.

Aqui há, certamente, um paralelo com aqueles que se guiam mais pelos sentidos e pela imaginação do que pela fé e pela razão. Só agora, depois de todas essas realizações saídas das mãos do Salvador, é que eles se prosternam e O adoram, louvando-O em sua filiação eterna e divina.

Maldonado chega a concluir a propósito deste episódio o seguinte: “Realizaram-se, pois, cinco milagres numa só oportunidade: Cristo, segundo minha opinião, foi pelos ares ao encontro dos Apóstolos; andou sobre o mar; fez Pedro andar também; dominou a tempestade e o vento; e a barca, tão logo nela entrou, chegou à terra”.

Estes milagres todos, enumerados por Maldonado, mostram o quanto — ao invés da realeza terrestre, desprezada e evitada pelo Salvador a fim de preservar sua verdadeira vocação messiânica — o Pai concede a Jesus uma soberania divina. Ele saberá aproveitá-los como meio para arrancar os seus discípulos de uma via inteiramente mundana de sedução do poder e, assim, torná-los testemunhas da autêntica glória do Reino.

O invencível auxílio de Jesus

Ao dar de comer àquela multidão, com base em tão diminuto número de pães e peixes, demonstrou Jesus seu poder sobre o alimento, fato, aliás, já comprovado nas Bodas de Caná. Descendo do monte, após ter passado a noite em oração, mostrou seu domínio sobre as águas, os ventos e as ondas em agitação. E ao servir-Se destes elementos para deslocar-Se ao encalço dos seus discípulos, manifestou também o quanto sua onipotência se aplica ao seu sagrado Corpo. A sensibilidade de suas testemunhas estava, deste modo, preparada para a revelação sobre a Eucaristia, que em breve seria feita.

De outro lado, a barca, sacudida pela tempestade, transportando os Apóstolos, bem poderia ser a imagem da Igreja em luta, nos mares deste mundo, em plena noite, visando desembarcar nas margens do Reino Eterno. Ela é invencível porque nessa solidez foi erigida pelo seu Fundador e, por isso, resiste a todas as forças que contra ela se insurgem.

Sobre a montanha de Deus encontra-Se a sós, rezando, Jesus. E, nas circunstâncias mais críticas, surge Ele em auxílio da humana debilidade dos seus. Nada se constituirá em obstáculo para aqueles que pedirem o seu amparo. Trata-se de saber o que pedir. Quem se deixar avassalar pelo temor, em face dos riscos e ameaças, confiando mais em suas próprias forças do que em Jesus Cristo, será derrotado. Pelo contrário, armando-se de robusta e inquebrantável fé, tudo poderá.

Apesar dos pesares, se alguém que está próximo de Jesus sentir a impotência de sua natureza, um grito de socorro será suficiente para que Ele lhe estenda a mão e o leve à barca. Nela subindo, os elementos se acalmarão por sua simples presença e, ao fim desta existência, aportará nas praias da eternidade. Ao desembarcar, entenderá com enorme consolação o papel d’Aquela que, em certo momento, recomendou: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

Não é sem sabedoria e propósito que Santo Hilário assim conclui: “E quando vier o Senhor, encontrará sua Igreja cansada e rodeada dos males que o Anticristo e o espírito do mundo suscitarão. E como os costumes do Anticristo impelirão os fiéis a todo gênero de tentações, eles terão medo até da vinda de Cristo, pelo temor que o Anticristo lhes infundirá por meio das falsas imagens e fantasmas que lhes apresentará. Mas o Senhor, que é tão bom, afasta deles esse temor, dizendo: ‘Sou Eu’, e afasta, pela fé em sua vinda, o iminente perigo”. ♦


O inédito sobre os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos dominicais. Ano A. Vol. II.

 

Deixe uma resposta