Dezoito anos de fidelidade à Santa Sé – parte II

Vínculo de unidade e confiança

Ir. Carmela Werner Ferreira, EP
Membros dos Arautos do Evangelho em Roma nas comemorações da Aprovação Pontifícia, em 2001

Florescem duas Sociedades de Vida Apostólica

Inesgotável em seus dons, o Divino Espírito Santo fez desabrochar no seio desta associação laical vocações para o sacerdócio, inspirando dezenas de seus membros a se consagrarem a esse ministério para o serviço da Igreja. O crescimento da instituição tornou clara a necessidade deste novo ramo: o elevado número de membros e colaboradores não podia receber nenhuma assistência sacramental por parte dos consagrados, formando-se assim uma lacuna de padres animados pelo carisma.

Em inesquecível cerimônia realizada a 15 de junho de 2005 na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, em São Paulo, os quinze primeiros presbíteros Arautos receberam a unção sacerdotal das mãos de Dom Lucio Angelo Renna, OCarm. Era o desabrochar de uma frondosa árvore que hoje conta com 159 sacerdotes e 28 diáconos dedicados ao serviço do altar e à salvação das almas.

Ordenação sacerdotal, 15 de junho 2005 – Basílica do Carmo/SP

As graças concedidas desde então pela Providência e o ingresso de grande número de vocações não tardaram a chamar a atenção de Sua Santidade Bento XVI. Em Luz do mundo, o livro-entrevista publicado em coautoria com Peter Seewald, ele declarou:
“Vê-se que o Cristianismo, neste momento, também está desenvolvendo uma criatividade totalmente nova. No Brasil, por exemplo, de um lado se registra um forte crescimento das seitas, com frequência muito equivocadas, por prometerem essencialmente riqueza e sucesso exterior; por outro lado, se presencia também grandes renascimentos católicos, um dinâmico florescer de novos movimentos como, por exemplo, os Arautos do Evangelho, jovens cheios de entusiasmo por terem reconhecido em Cristo o Filho de Deus, e desejosos de anunciá-Lo ao mundo”.6

“No Brasil se presencia um dinâmico florescer de novos movimentos como, por exemplo, os Arautos do Evangelho”

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP sendo recebido em audiência por Bento XVI em 26/11/2009

Nas jovens comunidades tornaram-se cada vez mais vivas estas disposições, surgindo entre os seus membros o desejo de uma entrega completa, pautada pela prática dos conselhos evangélicos. Para isso um novo enquadramento jurídico fazia-se necessário, uma vez que a estrutura vigente, concebida para leigos, estava largamente superada.

Assim nasceu a Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli, a partir do ramo sacerdotal dos Arautos, seguida pela Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum, constituída por sua vez pelos elementos mais dinâmicos do ramo feminino. Ambas as sociedades tiveram seus estatutos reconhecidos de modo definitivo pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica em 3 de fevereiro de 2010, sob os auspícios do Cardeal Prefeito, Franc Rodé.

Visita do Cardeal Prefeito, Franc Rodé à Sociedade Regina Virginum

Convencido de estar colaborando com uma obra providencial, declarou ele no dia da entrega dos decretos: “Pelo que me foi dado fazer pelos Arautos do Evangelho, posso
dizer que não foi inútil a minha passagem por este dicastério”.

Testemunhos de alguns cardeais

Dom Odilo Scherer – “Certamente não é mera coincidência, mas um sinal
da Providência, que o reconhecimento pontifício tenha acontecido na celebração da festa da Cátedra de São Pedro. E é um
sinal claro de que a unidade e a proximidade com o Santo Padre
e com o seu Magistério são para
todos uma garantia de estar na fé
dos Apóstolos e no caminho de
Jesus” (Homilia, 22/2/2004)

 

Dom Stanisław Ryłko“Cinco
anos após o reconhecimento
pontifício dessa Associação,
a Santa Sé deseja aprovar de
modo definitivo os Estatutos dos
Arautos do Evangelho. Não se
trata de uma mera formalidade
jurídica, mas de uma confirmação
do caminho percorrido nesses
anos, e de um novo incentivo para
seguir adiante, com dedicação
e empenho apostólico ainda
maiores” (Audiência, 22/2/2006)

Dom Franc Rodé“Uma das
peculiaridades de Mons. João
que marcam a fundo a obra dos
Arautos do Evangelho é a atitude
de constante e fervorosa súplica à
Divina Providência a fim de obterem
tudo que possa ser-lhes útil para
a maior glória de Deus e de sua
Igreja, o que inclui formar e guiar
pelas vias da santidade homens e
mulheres, construir templos, erigir
seminários e casas de estudo ou de
oração” (Homilia, 21/2/2015)

Palavras do Nuncio Apostólico

Mons. Scognamiglio, muito obrigado também ao senhor pela escolha de ser eu a impor as mãos sobre estes novos padres e torná–los sacerdotes de Deus. Obrigado pela acolhida que tive desde ontem nesta realidade que definirei encantadora. Uma realidade que está me impressionando,
porque esta variedade de cores me dá a ideia de como é a Igreja: um conjunto de graças, um conjunto de pessoas, um conjunto de funções que formam uma harmonia. E dão justamente vitalidade a esta Igreja que é una” (Dom Giovanni d’Aniello. Cerimônia de ordenação sacerdotal de quinze presbíteros  Arautos na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, 25/4/2015).

Pai e pastor dos Arautos

O Cardeal Cláudio Hummes durante sua visita ao Seminário dos Arautos, em 20/11/2006

Os contatos que os Arautos do Evangelho tiveram com Dom Cláudio Hummes começaram logo depois da aprovação, quando ele presidia a Arquidiocese de São Paulo, e se tornaram mais abundantes, calorosos e intensos ao longo dos anos.

Durante uma Missa no Seminário dos Arautos, em 20 de novembro de 2006, o Cardeal afirmou: “Foi um privilégio e uma graça muito grande que os Arautos tenham nascido na Arquidiocese de São Paulo. Lembro-me do dia em que o João (na época), hoje Pe. João, veio com seu grupo para dizer que estavam fundando a Associação de Fiéis dos Arautos do Evangelho. Assim, eles deram esse passo tão decisivo, tão corajoso e abençoado por Deus. Vocês veem hoje como Deus os abençoou, e como cresceram pelo mundo afora”.

No início da cerimônia de ordenação dos primeiros sacerdotes Arautos, presidida por Dom Lucio Renna na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, Dom Cláudio explicou que um compromisso muito importante impedia-lhe de permanecer durante a celebração, mas salientou: “Quis vir aqui pela importância deste momento”. E acrescentou: “Esta Associação cresceu maravilhosamente. Nós todos estamos muito admirados e louvamos a Deus por este crescimento muito rápido da Associação dos Arautos do Evangelho, tanto aqui em São Paulo quanto no Brasil afora e por todo o mundo, em tantos países em que já estão presentes. Uma associação cristã de direito pontifício na qual começou a surgir também o chamado de Deus para o sacerdócio. Ontem foram ordenados cinco diáconos e,
hoje, quinze diáconos serão ordenados padres. Este é um momento extremamente importante. E eu quero cumprimentar e, com vocês, agradecer a Deus por esta graça tão grande que hoje será concedida a vocês e, em vocês, à Igreja no Brasil, à Igreja no mundo”.

Despertando esperança na proteção divina

Triplamente unida a Roma pelos vínculos da obediência, a família espiritual dos Arautos do Evangelho estava pronta para enfrentar uma realidade confrangedora: a perda progressiva de católicos na totalidade dos países onde atuavam, seguida pelo desalento dos que permaneciam fiéis, ante a onda de secularismo que tudo parecia arrastar atrás de si.

Como lidar com esta conjuntura? Um problema que envolve a fé só pode ser resolvido com base na mesma fé. As situações mais desoladoras seriam reversíveis desde que se mostrasse ao mundo, sem a mínima concessão ao seu espírito, a glória da Igreja una, santa, católica, apostólica e romana, o esplendor de seu culto, a perfeição de sua doutrina, bem como a eficácia de seus Sacramentos, a santidade de suas leis e o poder de seu amparo aos batizados, desde a admissão no número dos cristãos até o último alento, preparando-os como mãe providente para o encontro definitivo com o Pai.

Fechar os olhos para a gravidade do quadro ou para a probabilidade de êxito deste método seria deixar de perceber o problema em toda a sua extensão. O Cardeal Franc Rodé exprimiu ambos os lados da questão ao afirmar: “Devo dizer que, com tantas lamentações
ouvidas de lá e acolá; com tanto pessimismo que encontramos em algumas partes da Igreja, de uma coisa não nos damos conta, somos incapazes de ver: as enormes energias que estão presentes, mas escondidas, na Igreja. O Pe. João soube ver essas energias, soube descobri-las, e aí estão os senhores”.8

Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo Emérito de Aparecida em sermão durante Missa com os Arautos em Aparecida

Surgiram assim as iniciativas que levantaram multidões, movidas sem dúvida por uma alegre, sincera e confiante esperança na proteção divina, que para muitos estava perdida ou nunca existira. Citemos apenas um testemunho autorizado, o do Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo Emérito de Aparecida, sobre o Apostolado do Oratório Maria Rainha dos Corações, proferido diante de milhares de assistentes reunidos no Santuário
Nacional: “O apostolado de promover a devoção a Nossa Senhora é sempre muito  bem-vindo, porque é através de Maria que nós chegamos a Jesus: ‘Ad Iesum per Mariam
– a Jesus por Maria’. De modo que a nossa Mãe do Céu deseja que nos tornemos, cada um de nós, filhos e filhas de Deus cada vez mais perfeitos, discípulos e missionários de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo”.9

A primeira necessidade do nosso tempo

Embora a esperança que este panorama oferece seja grande, cumpre reconhecer que os dias de generalizado abandono da fé se prolongam, somados a uma agressiva rejeição da sociedade aos ensinamentos da Santa Igreja Católica, a Esposa Mística de Cristo. Este fato não poderia deixar de atrair sobre a humanidade pecadora o olhar severo de Deus, com todas as consequências anunciadas por Nossa Senhora em Fátima.

Em homilia proferida no Santuário de Fátima o Cardeal Giovanni Battista Re sintetizou a encruzilhada que atravessa o mundo atual, dentro e fora da esfera eclesiástica: “Da desordem e dos problemas que se criaram sob o céu, neste nosso tempo, apenas será possível sair se a humanidade levantar de novo os olhos para o Céu. Por isso, a primeira necessidade do nosso tempo é devolver Deus às consciências dos homens e reabrir-lhes o acesso a Deus”.10

A lucidez destas palavras nos dispensa de comentá-las, mas instiga, por outro lado, a tirar conclusões: aqueles que, como os Apóstolos, procuram difundir a Boa-Nova hão de ser incompreendidos pelo mundo e até perseguidos por ele.

A fidelidade à doutrina da Igreja, aliada à observância minuciosa das orientações recebidas da Sagrada Hierarquia tornou os Arautos do Evangelho uma instituição em pleno desenvolvimento no mundo inteiro. Sem retroceder nas vias até agora trilhadas, colocamo-nos aos pés de Maria para ouvir as palavras que o Filho reclinado em seus braços nos dirige, como outrora aos Apóstolos: “Tende confiança. No mundo haveis de ter
aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33).

Fonte: Revista dos Arautos do Evangelho, julho/2017, págs. 34-38.

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6 BENTO XVI. Luce del mondo. Il Papa, la Chiesa e i segni dei tempi. Città del Vaticano:
LEV, 2010, p.89-90.
7 APROVAÇÃO DEFINITIVA DAS CONSTITUIÇÕES. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano IX. N.100 (Abr., 2010); p.10. 8 FRANC, CM, Rodé. Homilia. Mairiporã, 10 maio 2007.
9 8ª PEREGRINAÇÃO A APARECIDA. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano XV. N.178 (Out., 2016); p.26.
10 RE, Giovanni Battista. Um desequilíbrio que pode levar a terríveis catástrofes.
In: Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano XIV. N.168 (Dez., 2015); p.39.

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