Dezoito anos de fidelidade à Santa Sé – parte I

A fidelidade à Santa Igreja tornou os Arautos do Evangelho uma
instituição em pleno desenvolvimento no mundo inteiro

Ir. Carmela Werner Ferreira, EP

Membros dos Arautos do Evangelho em Roma nas comemorações da Aprovação Pontifícia, em 2001

Escolhido para proclamar a Boa-Nova entre os gentios, o Apóstolo Paulo foi preparado de maneira direta pela Providência para o cumprimento de uma alta missão.


À sua adesão incondicional a Cristo com a graça da conversão seguiu-se um período de intenso convívio com Ele, que se estendeu por três anos (cf. Gal 1, 17), ao longo dos quais assimilou com
vantagem sobre os outros Doze os ensinamentos, o espírito e a doutrina de Nosso Senhor, para depois operar obras maiores que as deles (cf. I Cor 15, 10).

Esta eleição gratuita fez de São Paulo um varão apto ao bom combate, constituído em autoridade para pregar por todo o mundo. E porque Deus agia nele com grande poder, a
graça levou-o a lançar-se com intrepidez no anúncio da Palavra a ponto de dizer: “Ai de mim se eu não evangelizar!” (I Cor 9, 16).

Entretanto, ainda que luzes sobrenaturais o acompanhassem constantemente, oferecendo todos os meios para a fecundidade de suas obras, a presença ativa do Apóstolo na comunidade eclesial não o dispensou de um importante gesto de submissão, a obediência a Pedro, chefe da Santa Igreja: “Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias” (Gal 1, 18).

Sabemos que este encontro precedeu a intensa, ardorosa e incessante atuação missionária paulina, a qual sempre estaria unida à pessoa e às orientações do Sumo Pontífice. E assim o Apóstolo, cuja conduta ainda hoje inspira os homens justos, tornou-se um paradigma para aqueles que recebem algum carisma do Espírito Santo e devem unir-se à autoridade legítima, a qual é constituída e sustentada pelo próprio Deus (cf. Rm 13, 1).

“Sede mensageiros do Evangelho”

Quando uma nova instituição nasce na Santa Igreja a partir das graças concedidas ao fundador, este deve se apresentar aos sucessores dos Apóstolos para que o confirmem em sua missão. O fato de colocar-se sob a égide dos pastores sempre constitui um indício da autenticidade do carisma, pois o espírito de comunhão eclesial é uma constante nas obras suscitadas pelo Divino Paráclito.

Com os Arautos do Evangelho este percurso teve início em 1998, quando Mons. João Scognamiglio Clá Dias recebeu aprovação diocesana para sua nascente obra, concedida
por Dom Emílio Pignoli, então Bispo de Campo Limpo, na Grande São Paulo. Favorecida pela Providência, esta semente não tardou a germinar e a estender os seus ramos, ultrapassando os limites diocesanos para alcançar numerosos países. Diante da necessidade de acolher as diversas casas de Arautos sob uma mesma realidade jurídica, a Santa Sé decidiu erigi-los em Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício em data muito simbólica: 22 de fevereiro de 2001, festa da Cátedra de Pedro.

Na manhã do dia 28 do mesmo mês, São João Paulo II os acolheu com palavras que ainda hoje permanecem vivas na memória e no coração de quantos tiveram a alegria de ouvi-lo: “Sede mensageiros do Evangelho pela intercessão do Coração Imaculado de Maria” 1

O fundador dos Arautos recebe a bênção de São João Paulo II, durante a Audiência Geral de 28/2/2001

Este primeiro aval pontifício não foi, entretanto, isento de um cuidadoso acompanhamento por parte dos que o concederam.

O sacerdote orionita Giovanni D’Ercole, à época capo ufficio da Secretaria de Estado e hoje Bispo de Ascoli Picceno, percorreu diversos países para conhecer e acompanhar de perto o desenvolvimento dos Arautos.

 

 


Atenta análise de Dom Giovanni D’Ercole

Retornando a Roma, transmitiu em seguida as observações ao fundador: “Escrevo-lhe estas linhas para lhe confiar mais alguns comentários sobre minha visita às casas dos Arautos do Evangelho nas três Américas. A perspectiva trazida pelo transcorrer dos dias vem me dando a chance de melhor avaliar alguns pontos, que tenho procurado profundar. Era um dos objetivos de minha viagem analisar bem de perto as diversas realidades dos Arautos do Evangelho, a fim de, se necessário fosse, dar-lhes conselhos e orientações. Por isso, apliquei minha atenção em tudo com particular empenho. […]

“Já tive oportunidade de lhe dizer em São Paulo que fiz diversas observações e procurei aconselhar a respeito de alguns assuntos, deixando uns poucos pontos para estudar melhor no futuro. […] Quero deixar também registrado que encontrei no senhor, e em geral em todos os encarregados com os quais conversei, aí e nos outros países, uma ótima disposição para aceitar minhas ponderações. Além disso, pude comprovar a vitalidade e força de expansão dessa obra a qual, em tão pouco tempo, vai se estendendo célere pelo mundo inteiro. Queira Deus que ela continue a trilhar esse caminho, e se multiplique a ponto de atingir todos os rincões do globo. […]

“Agradou-me observar, durante os dias em que estivemos juntos, a modéstia com a qual o senhor age em tudo, nunca procurando chamar a atenção sobre si mesmo. E isto me fez concluir ser esta uma das fontes das quais nascem as orientações prudentes e sapienciais para os Arautos do Evangelho no mundo inteiro”.2

No sulco fecundo e bimilenar da Cidade Eterna

Com o tempo essas impressões não só se confirmaram, como também levaram as autoridades a adotar posturas concretas de reconhecimento do carisma, como por exemplo a concessão de uma histórica igreja do vicariato romano: San Benedetto in Piscinula, erigida no lugar onde o patriarca do monaquismo ocidental se hospedou durante o período de sua estadia na urbe.

Sobre esse significativo gesto, Mons. Adriano Paccanelli, Cerimoniário da Basílica de Santa Maria Maior, adjunto de primeira classe da Secretaria de Estado, comenta: “Pela primeira vez, a Igreja de Roma, Diocese do Santo Padre, confia um lugar sagrado e a atividade pastoral aí desenvolvida a uma associação privada de leigos. […] Por um desígnio da Divina Providência, iluminados pela presença materna de Maria Santíssima, os Arautos do Evangelho fazem agora parte integrante da vida e da história da Igreja de Roma, inserindo-se no sulco fecundo do bimilenário caminho da Igreja Católica que, na Cidade Eterna, Sede do Sucessor do Apóstolo Pedro, encontra seu centro de unidade e de irradiação da fé”.3

Cerimônia em San Benedetto in Piscinula – Roma

O texto do acordo assinado pelo Cardeal Camillo Ruini, à época Vigário-Geral de Sua Santidade para a Diocese de Roma, reflete bem esse vínculo de confiança: “A presença da Associação em San Benedetto in Piscinula constitui um enriquecimento à Diocese de Roma. Portanto, o Ordinário dispõe que a Igreja de San Benedetto in Piscinula seja pastoralmente ligada às atividades da Associação Arautos do Evangelho, cujos membros exprimem a própria identidade cristã com o testemunho de vida, com atenção posta especialmente no apostolado, e vivendo a própria consagração batismal, por meio de Maria, segundo a espiritualidade de São Luís Maria Grignion de Montfort”.4

Cerimoniário pontifício de cinco Papas

O trabalho pastoral em San Bendetto deu ensejo para os Arautos serem acompanhados muito de perto por uma figura de inestimável valia: seu reitor, Mons. Angelo Di Pasquale. Este sacerdote, cuja vida foi empregada em serviços de alto gabarito na Secretaria de Estado, além do encargo de cerimoniário pontifício por quarenta e dois anos, deu à instituição uma orientação segura ditada pela voz da experiência, que apenas por poucos poderia ser superada.

A proximidade com ele fez os Arautos se sentirem ainda mais vinculados com Roma, pois o fato de um auxiliar pessoal de Pio XII, Paulo VI, João XXIII, João Paulo I e João Paulo II seguir com vivo interesse a nova Associação foi um elo, sem dúvida, com a mais sólida das tradições.

O contato diário com os Arautos em Roma e as diversas viagens de Mons. Di Pasquale ao Brasil o fizeram estabelecer um vínculo de respeitoso afeto com o fundador dos Arautos, sobre o qual chegou a afirmar: “Veio um homem enviado por Deus, chamado João, que trouxe à Igreja e favoreceu na Igreja o desenvolvimento desse carisma que distingue os Arautos do Evangelho e todos aqueles que participam de sua espiritualidade. E tive a oportunidade de conhecer dito carisma de perto, já com sua presença na Igreja de San Benedetto in Piscinula, da qual sou reitor, e recentemente visitando diversas casas do setor masculino e feminino no Brasil e na Espanha. Uma espiritualidade verdadeiramente própria, com a vida contemplativa, que não quer dizer não fazer nada, mas adorar o Senhor, falar com Ele e escutá-Lo; e que se manifesta no amor e dedicação ao próximo. E os Arautos tiveram esse grande desenvolvimento porque souberam unir a vida ativa à vida contemplativa, na vida comunitária que os faz sentir todos irmãos e irmãs, filhos do mesmo pai”.5 (…)

Continua em outro post.

Fonte: Revista dos Arautos do Evangelho, julho/2017, págs. 34-38.

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1SÃO JOÃO PAULO II. Audiência geral, 28/2/2001.
2 D’ERCOLE, FDP, Giovanni. Carta de 27/11/2001. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano I. N.2 (Fev., 2002); p.30-32.
3 PACCANELLI, Adriano. A Diocese de Roma confia a Igreja de San Benedetto in Piscinula aos Arautos do Evangelho. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano II. N.19 (Jul., 2003); p.16.
4 Idem, ibidem.
5 HERNÁNDEZ, José Francisco. Cerimoniário de cinco Papas. Entrevista a Mons. Angelo Di Pasquale. In: Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano IV. N.44 (Ago., 2005); p.13.

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